O solo é um recurso essencial para a vida humana, mas sua qualidade está comprometida. Saiba quais métodos podem ser aplicados para recuperar solos degradados
A recuperação do solo corresponde a um conjunto de métodos e práticas que podem ser aplicadas de maneira isolada ou conjuntamente para mitigar ou reverter a degradação provocada por ações humanas, como a urbanização, a agropecuária intensiva e as atividades industriais. Solos que sofreram com a poluição química, a compactação, a erosão ou a salinização podem ter suas propriedades regeneradas por técnicas de recuperação. Essa prática ajuda a manter sua integridade para a atividade agrícola e a sustentabilidade dos sistemas naturais. Os procedimentos adotados para a recuperação do solo devem levar em consideração o tipo de solo, a natureza e o grau da degradação, assim como possíveis usos futuros para a área após a regeneração.
Na agropecuária, os métodos mais utilizados são a rotação de culturas, a recuperação de pastagens degradadas, o manejo integrado de pragas, a restauração de nitrogênio no solo pela introdução de leguminosas e o reflorestamento. No que se refere à poluição do solo por contaminantes da indústria ou lixões, a recuperação deve seguir uma série de protocolos de identificação, reabilitação e cadastro para o gerenciamento das áreas contaminadas.
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Qual a importância da recuperação do solo?
O solo é um dos recursos naturais finitos mais afetados pela atividade humana desde a Revolução Neolítica. Entretanto, a prosperidade das economias contemporâneas se deu em virtude do amplo leque de serviços ecossistêmicos de provisão (a produção de alimentos, por exemplo) e regulação dos fluxos de energia e matéria exercidos pelo solo. Desse modo, a conservação e a recuperação desse recurso devem ser tratadas como questões de interesse global.
Estudos demonstram que as mudanças de uso e cobertura do solo pela exploração de áreas para agropecuária já provocaram a perda de mais de 30% das áreas de vegetação nativa no Brasil. Com a ascensão das tecnologias de agricultura intensiva, o empobrecimento do solo se tornou um problema ainda mais recorrente e preocupante.
Além disso, a contaminação dos solos por efluentes industriais e chorume proveniente dos lixões ameaça a qualidade do recurso e a saúde humana. Isso porque os contaminantes podem se infiltrar no solo e atingir recursos hídricos subterrâneos que abastecem residências com água para o consumo humano.
Portanto, é necessário que todos os setores da sociedade desenvolvam e implementem medidas de recuperação de solos degradados. Abaixo seguem algumas das principais práticas para a conservação e recuperação de solos na agricultura e para o gerenciamento de áreas contaminadas.
Rotação de culturas
A rotação de culturas é uma técnica que, ao mesmo tempo, previne a degradação dos solos e recupera a sua fertilidade na agricultura. Em oposição à monocultura, essa prática combina espécies que apresentam diferentes sistemas radiculares e exigências nutricionais, promovendo o equilíbrio da relação entre carbono e nitrogênio no solo e a sua constante aeração.
A rotação de culturas pode ser aplicada para recuperar solos compactados, por exemplo. A aeração pela diversificação dos sistemas radiculares permite a reabertura de espaços vazios no solo, diminuindo a sua densidade e facilitando a infiltração de águas pluviais. Isso evita a criação de zonas baixas em oxigênio (anóxicas), onde prosperam microrganismos anaeróbios produtores de óxido nitroso (N2O), um dos mais importantes gases do efeito estufa.
Entretanto, para resultados efetivos é necessário reduzir o uso de maquinário pesado nas etapas da produção agrícola e o pisoteio por animais em pastagens. Saiba mais sobre esse tema em nossa matéria sobre compactação do solo.
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Plantio de leguminosas
As leguminosas são espécies importantes para a recuperação de nutrientes no solo, e podem ser integradas à rotação de culturas. Sua especificidade é a promoção de altos níveis de fixação biológica de nitrogênio em razão de uma associação simbiótica com bactérias do gênero Rhizobium. Desse modo, contribuem também para a incorporação de nitrogênio no solo, um dos nutrientes primários para o crescimento e desenvolvimento das plantas.
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Recuperação de pastagens
As técnicas para recuperação de pastagens envolvem a restauração da cobertura vegetal do solo pela manutenção das espécies forrageiras ou pela introdução de espécies arbóreas.
As leguminosas, como comentado anteriormente, são uma categoria importante para a recuperação de nutrientes no solo, e podem ser incorporadas aos pastos pela integração lavoura-pecuária, por exemplo. Existem evidências de que a alternância entre pastagens e lavouras é eficiente para o sequestro de carbono da atmosfera, aumenta a disponibilidade de nutrientes no solo e a biodiversidade de agroecossistemas.
Por outro lado, a introdução de espécies arbóreas pelo reflorestamento normalmente implica a não utilização da área para atividades agropecuárias. O principal objetivo do reflorestamento é diminuir o risco de erosão em solos desnudos ou com baixa densidade de vegetação. Devem ser priorizadas espécies nativas ao ecossistema, e que possam ser integradas de maneira sustentável ao mercado pelo extrativismo de produtos florestais não madeireiros, por exemplo.
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Gerenciamento de áreas contaminadas
Uma área contaminada pode ser definida como um terreno, local, instalação ou edificação que apresente concentrações de substâncias químicas em níveis capazes de causar danos à saúde humana, ao meio ambiente ou a outro bem a ser protegido. Essa conceituação está disposta no texto da lei estadual de proteção à qualidade do solo e gerenciamento de áreas contaminadas (Lei 13.577/2009), que embasou o Projeto de Lei Federal 2732/11.
A gestão e recuperação de áreas contaminadas segue diretrizes que visam a proteção da qualidade dos solos e dos recursos hídricos subterrâneos e a prevenção de contaminações por atividades antrópicas. A legislação estabelece ainda os procedimentos para a identificação, remediação e reutilização de áreas contaminadas. Tudo isso em um panorama de participação social e garantia da saúde e bem estar da população afetada pela contaminação do solo.
Na etapa de identificação, o primeiro passo é a definição da área de interesse e seus respectivos bens a serem protegidos, como áreas de recarga de aquíferos e poços de captação de água para o consumo humano. Em seguida, devem ser reconhecidas as fontes de contaminação efetivas e potenciais, assim como as substâncias químicas associadas às fontes.
É importante ter o conhecimento sobre a geologia e a pedologia da subsuperfície. O intuito é determinar prováveis meios de propagação da pluma de contaminação — propagação de contaminantes dissolvidos na água subterrânea — e os seus receptores. Essas informações serão analisadas juntamente com o histórico de uso e ocupação do solo na região. Trata-se de uma etapa de diagnóstico para compreender os riscos, otimizar a confirmação da contaminação e verificar a necessidade da implementação de respostas emergenciais.
A confirmação da contaminação é realizada pela coleta de amostras do solo e da água subterrânea da região e subsequente análise em laboratório. Em caso positivo, será iniciada uma etapa de investigação detalhada sobre a contaminação do solo e sobre os meios afetados, seguida de uma avaliação de risco que determinará a necessidade e as técnicas de remediação em função dos usos atuais ou propostos para a área.
A elaboração do plano de remediação deve levar em conta os custos de implantação, manutenção e encerramento do processo, o tempo necessário para o cumprimento das metas e as características do contaminante. Em vista disso, cada processo de recuperação de áreas contaminadas emprega técnicas de remediação específicas, que devem ser compatíveis entre si e definidas a partir de uma série de estudos complementares à avaliação.
A dessorção térmica é um dos processos mais eficientes para a descontaminação de solos afetados por derramamentos de petróleo. Trata-se da escavação e aquecimento do solo a altas temperaturas, levando à vaporização e eliminação dos contaminantes de petróleo. Em seguida, o solo é devolvido para o local de origem.
Esse método é particularmente importante para a regeneração da microbiota nos solos contaminados. Um estudo publicado pela Sociedade Americana de Agronomia revelou que a recuperação biológica do solo em campo pela dessorção térmica agiliza a sua reutilização para a atividade agrícola.
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É indispensável o monitoramento da área contaminada durante o processo de remediação para observar o cumprimento dos seus objetivos e dimensionar o comportamento da pluma de contaminantes no solo.
Fontes: Embrapa (1)(2)(3); Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo; Revista Agriculture; Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT; Agronomy Journal.