O colapso ambiental expõe os limites da natureza diante da ação humana e das mudanças climáticas
Já ouviu falar em colapso ambiental? O termo soa como um alerta e, de fato, é um dos maiores desafios da nossa Era. O colapso ambiental ocorre quando um ecossistema entra em um desequilíbrio tão grande que perde sua capacidade de sustentar a vida. Desse modo, ele pode diminuir bruscamente e até desaparecer.
Esse é um dos graves resultados das atividades humanas, de toda a degradação e pressão que o ser humano exerceu sobre a natureza. Isso inclui ecossistemas terrestres, marinhos e de água doce.
Principais sinais do colapso ambiental no planeta
Os sinais já estão ao nosso redor: ondas de calor, branqueamento de corais, secas extremas, derretimento de porções cada vez maiores de gelo polar e enchentes severas. Essas são apenas algumas das consequências do agravamento da crise climática. São fatores que ampliam ainda mais a fragilidade dos ecossistemas, aproximando-os de um colapso ambiental.
Somado a isso, os desmatamentos e incêndios florestais, a poluição em diferentes níveis e a insistência na exploração dos combustíveis fósseis, seguindo a contramão da transição energética, aumentam ainda mais as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e agravam o aquecimento global e os eventos climáticos extremos.
Hoje, o aumento da temperatura média global é o principal efeito das nossas ações sobre o meio ambiente. É também o principal vetor de catástrofes socioambientais cada vez mais frequentes.
Na falta de soluções concretas, esse cenário tende a se intensificar nas próximas décadas. A ausência de ações efetivas nesse sentido deve colocar diversos ecossistemas pelo mundo sob uma ameaça real de colapso ambiental.
Saiba mais sobre a crise atual do clima em:
Lista Vermelha dos Ecossistemas (IUCN)
Sob essa perspectiva, uma iniciativa da International Union for Conservation of Nature and Natural Resources (IUCN) desenvolveu uma espécie de avaliação de risco. O objetivo foi verificar e classificar os ecossistemas mundiais, avaliando as reais probabilidades de colapso ambiental.
Dessa forma, a IUCN criou a Red List of Ecosystems (RLE), incluindo ambientes que enfrentam riscos que envolvam a perda da biodiversidade, processos ecológicos, interferências na interação entre espécies, entre outros fatores que devem ser prejudicados com o agravamento das ações humanas e das mudanças climáticas.
De acordo com a organização, esse sistema, que em 2024 completou uma década de existência, é uma importante ferramenta no planejamento de atividades de conservação ambiental.
Exemplos de colapso ambiental no mundo
Dados de 2024 mostram que de 475 ecossistemas avaliados em todo o mundo, cerca de 24% estão vulneráveis, pouco mais de 31% se encontram em perigo, outros 19% são vistos como criticamente em perigo, enquanto quase 0,5% são considerados já colapsados.
Ainda, 5% se classificam como “quase ameaçados”. Apenas 20% indicam uma menor preocupação. Do total, quase 72% são representados por ecossistemas terrestres.
A savana de Myanmar
Dos sistemas que sofreram colapso ambiental, está a savana de palmeiras do Central Ayeyarwady, em Myanmar. O ecossistema foi inteiramente convertido em áreas destinadas à agricultura e pasto.

O caso do Mar de Aral
Nessa lista também está incluído o Mar de Aral, localizado na Ásia Central, que chegou a ser considerado o 4º maior lago do mundo. O Mar de Aral foi suprimido, principalmente pelo uso de sua água na irrigação de plantações de algodão na região.
No site do Earth Observatory é possível ver sua transformação, ao longo dos anos, por imagens de satélite.

Como as mudanças climáticas aceleram o colapso ambiental
Para ecologistas da Bournemouth University, no Reino Unido, as principais preocupações sobre o colapso ambiental dos ecossistemas envolvem, principalmente, a dimensão, a velocidade e a magnitude que as mudanças ecológicas já atingem e seu potencial futuro.
No estudo, publicado pela Elsevier, os pesquisadores afirmam que os riscos de colapso dos ecossistemas devem aumentar no futuro, já que a tendência é que haja mudanças climáticas extremas.
Além disso, alterações bruscas na estrutura, função e composição dos ecossistemas devem ocorrer com pouco aviso. Mesmo que os sinais estejam claros. Isso quer dizer que tanto a biodiversidade quanto a sociedade humana deverão sofrer profundamente os impactos causados ao meio ambiente colapsado.
Para se ter uma ideia da gravidade, o termo “colapso ambiental” ou “colapso do ecossistema” foi utilizado pela primeira vez por paleontólogos, na década de 1980, para retratar a extinção em massa que ocorreu no final da Era Mesozóica, a era dos dinossauros.
De acordo com a publicação, a definição deve abranger apenas os ecossistemas que foram modificados num curto período de tempo e de modo súbito. Além disso, a incapacidade de recuperação desses ambientes também é uma característica do colapso. O ecossistema atinge seu ponto de inflexão, de não retorno.
Ainda, as maiores ameaças para o meio ambiente envolvem, principalmente:
- Mudanças de uso da terra e de ambientes marinhos;
- Exploração de recursos naturais;
- Mudanças climáticas;
- Todo tipo de poluição;
- Introdução de espécies exóticas invasoras;
- Incêndios;
- Fragmentação de habitats.

No entanto, apesar de existirem inúmeras causas, considerar as ameaças de forma individualizada pode representar uma forma de subestimar impactos e fornecer projeções abaixo da realidade.
Múltiplas causas do colapso dos ecossistemas
Um artigo, publicado pela Nature, mostrou que os modelos utilizados para projetar possíveis cenários de colapso ambiental podem fornecer estimativas consideradas ruins. Isso porque, de acordo com os pesquisadores, considerar apenas uma fonte de estresse ambiental para qualquer ecossistema pode dimensionar de forma superficial o real tamanho do problema.
Segundo a publicação, a combinação das interações entre os sistemas globais com o aumento contínuo dos fatores das mudanças climáticas, pode provocar um rápido desequilíbrio nos sistemas terrestres.
Por um lado, existem pontos positivos, como a redução nas taxas de natalidade e também o aumento da geração de energia renovável. Mas por outro, as emissões de gases de efeito estufa e as tendências de consumo, entre outros fatores, continuam ascendentes. Além disso, eventos climáticos extremos tendem a aumentar no século XXI.
Para os pesquisadores, as interações que podem ocorrer entre diferentes sistemas podem levar ao aumento da degradação ambiental, mudar o comportamento de outros agentes das mudanças climáticas e causar estresses adicionais aos ecossistemas, que podem colapsar de forma ainda mais rápida do que se espera.
Amazônia em risco de colapso ambiental

A publicação cita como exemplo o ecossistema amazônico. O desmatamento atua como o principal agente de degradação. O aquecimento global como fator secundário. A partir daí, eventos como secas e incêndios (chamados pelos pesquisadores de ruídos do sistema), somados a mecanismos de retroalimentação, como alterações nos ciclos da água, podem gerar um “turbilhão desastroso”.
A tendência é uma piora nesse cenário, com a intensificação das mudanças do clima e o aumento de eventos extremos. O círculo destrutivo que se forma, não apenas na Amazônia, mas em inúmeros ecossistemas pelo mundo, pode ganhar ritmo acelerado, à medida que essas conexões se intensificam e a depredação humana persiste.
Como evitar o colapso ambiental: soluções práticas
Ações globais e políticas públicas
Evitar o colapso ambiental exige esforços que vão desde ações individuais ao desenvolvimento de políticas públicas globais. O caminho é desafiador. Por outro lado, ações concretas podem reduzir os riscos e fortalecer o meio ambiente e seus ecossistemas.
Para isso, alguns passos são essenciais:
- Acelerar a transição energética, substituindo combustíveis fósseis por fontes renováveis;
- Investir em tecnologias de captura de carbono;
- Ampliar áreas de conservação ambiental;
- Fortalecer políticas e ações contra o desmatamento e a degradação ambiental;
- Aplicar na educação ambiental, conscientizando a sociedade para mobilizar mudanças coletivas.
E o que nós podemos fazer?
- Aplicar os 3 Rs: reduzir, reutilizar e reciclar;
- Buscar opções de transporte alternativo ou dar preferência para os coletivos;
- Repensar nossos hábitos de consumo, praticando o consumo consciente;
- Apoiar empresas e iniciativas comprometidas com a sustentabilidade;
- Mudar o estilo de vida e optar pelo vegetarianismo ou veganismo.
Sabia que o estilo de vida vegano pode ser a chave para reduzir as emissões de gases de efeito estufa? Leia mais: Veganismo é a forma mais efetiva de salvar o planeta, afirmam lideranças científicas
Confira dicas para praticar o consumo consciente: 8 dicas de consumo consciente para o dia a dia
Aprenda a se prevenir da falsa sustentabilidade: Greenwashing: o que é e como evitar
Evitar o colapso ambiental depende da soma de escolhas cotidianas, individuais e coletivas, feitas por pessoas comuns, empresas e governantes. Priorizar práticas sustentáveis, preservar recursos naturais e se comprometer com a responsabilidade social pode ser a chave para um planeta mais equilibrado.