Estudo revela que a perda de floresta impacta diretamente o regime pluviométrico, com consequências para agricultura e geração de energia
A Amazônia perdeu, em média, 27 mil quilômetros quadrados de floresta por ano entre 2001 e 2016. Até 2021, cerca de 17% de sua área total já havia sido desmatada. Essa transformação não afeta apenas a biodiversidade, mas também o clima regional, com reduções significativas nas chuvas, conforme demonstra uma pesquisa publicada na revista AGU Advances.
O estudo, liderado por Yu Liu e sua equipe, analisou os efeitos do desmatamento nos ciclos de umidade e precipitação nos estados do Mato Grosso e Rondônia, onde ocorreu 30% do desflorestamento da Amazônia brasileira nas últimas décadas. Utilizando um modelo climático regional acoplado a um rastreador de vapor d’água, os pesquisadores simularam o período entre 2001 e 2015, comparando cenários com e sem alterações na cobertura vegetal.
Os resultados mostram que a redução média de 3,2% na floresta durante os 14 anos analisados provocou uma queda de 3,5% na evapotranspiração e de 5,4% nas chuvas. O mecanismo por trás desse fenômeno envolve o ressecamento e aquecimento da atmosfera inferior, que suprime a convecção – responsável por 85% da diminuição das precipitações na estação seca.
As implicações são graves: menor volume de chuvas reduz a vazão dos rios, compromete a geração de energia em hidrelétricas, diminui a produtividade agrícola e aumenta o risco de incêndios. A pesquisa reforça a necessidade de políticas de proteção florestal e manejo sustentável, já que a Amazônia desempenha um papel fundamental na regulação do clima.
O trabalho utilizou dados de satélite para representar com precisão tanto o desmatamento quanto o crescimento secundário da vegetação, oferecendo uma análise mais realista do que estudos anteriores, que se baseavam em cenários hipotéticos extremos.
A perda contínua da floresta amazônica não é apenas uma ameaça local, mas um problema de escala global, dada a influência da região nos padrões climáticos. A preservação dessas áreas verdes é, portanto, essencial para garantir a estabilidade ambiental e econômica da região.