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O “Mar de Areia” é único deserto costeiro do mundo, que conta com uma rica biodiversidade ameaçada pelo aquecimento global

O deserto do Namibe é um dos mais antigos desertos do mundo, com pelo menos 55 milhões de anos. A região desértica abrange uma faixa com menos de 200 km de largura. A faixa vai desde o rio Carunjamba, na cidade angolana do Namibe, passando ao longo da costa da Namíbia, até o sul do rio Orange, na África do Sul. São cerca de 2100 km de deserto na costa sudoeste da África, um dos lugares mais inóspitos do planeta.

Segundo a Nasa, o Namibe é o deserto mais antigo do mundo, mas não há consenso entre os estudiosos. De acordo com o conservacionista sul africano, Brian J. Huntley, o deserto do Namibe e o deserto no Atacama, no Chile, são os mais antigos do mundo. 

Além disso, alguns meios de comunicação brasileiros se referem a região como “deserto da Namíbia”.  Entretanto a Namíbia tem dois desertos presentes em seu território: o Namibe e o Kalahari.

Namibe, que dá o nome ao deserto, é também uma província na Angola, enquanto Namíbia é o país vizinho, que abrange a maior parte do deserto em sua região costeira. Outra curiosidade é que, no passado, a parte angolana do deserto de Namibe era conhecida como deserto de Moçâmedes.

A origem da palavra Namibe

A cidade de Namibe, na Angola, foi fundada em 1849 e marca um dos extremos do deserto de Namibe. No entanto, antes da colonização portuguesa, a região era chamada Chitoto Chabotua, ou “toca dos pássaros”.
A palavra Namibe, que dá nome ao deserto, é derivada de “namib”, uma expressão de origem Nama (NÁ má). Namib significa algo como “um lugar vasto e distante”. Khoekhoegowab é uma das línguas nativas dos povos ancestrais Khoikhoi (Khoe), os primeiros pastores originários do sul da África.

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Descendentes dos povos Khoikhoi / Foto de Cyro Masci, sob CC BY-NC-SA 2.0 DEED no Flickr

Khoekhoegowab se tornou Nama gradualmente, no século 19, por conta de atividades missionárias, atuantes com os povos originários na região. Na Namíbia, a língua foi reintroduzida após a independência do país, em 1990, e ficou conhecida como Nama (ou Damara).

A língua é falada na Namíbia, Botswana e África do Sul, principalmente pelas comunidades étnicas Namaqua, Damara, Hai’om e Khomani.

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O Mar de Areia do Namibe

O Namibe, conhecido como Mar de Areia do Namibe, é o único deserto do mundo que fica na região costeira. O Mar de Areia tem mais de 30 mil km² e é coberto por dunas e uma zona de amortecimento

A zona de amortecimento, ou zona tampão, é uma região ao redor de uma área de conservação. No caso do Namibe, possui quase 9 mil km². 

Reconhecido como Patrimônio Natural da Unesco  em 2013, o deserto do Namibe possui condições ambientais não uniformes. 

O deserto é composto por planícies de cascalho, dunas de areia, colinas rochosas, uma lagoa costeira e cursos d’água sazonais. Além disso, há a formação dos misteriosos círculos de fadas

Existem também os nevoeiros, que vêm do mar e recobrem a região em alguns períodos. Os nevoeiros são a principal fonte de água para as espécies que vivem ali.

Os nevoeiros do deserto do Namibe

O nevoeiro é causado pelo efeito da ressurgência (afloramento) da Corrente de Benguela, que traz para a superfície oceânica as águas frias do fundo do mar. 

Essa corrente oceânica se move ao longo da costa sudoeste do continente africano, eliminando as chances de chuva no deserto. Em compensação, criam brumas que atingem até 100 km para o interior das dunas. O fenômeno é intermitente, e tem diminuído, como consequência do aquecimento do planeta.

As temperaturas são mais variáveis longe da costa, acima de 50°C durante o dia, podendo cair para abaixo de 0°C durante a noite. Mais ao Sul, existem dunas móveis de até 300 metros de altura e uma área de transição para planícies de cascalho, com domos de granito e calcário.

A Costa dos Esqueletos

Outro marco do único deserto costeiro do mundo é a Costa dos Esqueletos. A região cobre 500 km da zona costeira, numa faixa de areia de 40 km de largura. Ela recebe esse nome por conta da quantidade de esqueletos de baleias, que encalharam e acabaram ficando presas no local.

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Costa dos Esqueletos, Namíbia / Foto de Domenico Convertini, sob CC BY-SA 2.0 DEED no Flickr

Além das baleias, muitos navios encalharam na Costa dos Esqueletos, pelas condições geográficas e do nevoeiro típico da região. O mar ali é revolto, as correntes marítimas são incontroláveis e os ventos são muito fortes. 

Como se formou o deserto do Namibe?

O deserto do Namibe foi formado a partir de três principais fatores: o anticiclone subtropical do Atlântico Sul (Asas), que é um sistema de alta pressão, localizado no sul do Oceano Atlântico, somado ao fenômeno “sombra de chuva”, que atua como uma barreira entre a luz solar e a superfície terrestre e ainda, a ressurgência da Corrente de Benguela.

A junção desses três elementos deu como resultado a hiper-aridez, os ventos terrestres e costeiros, além da neblina que, ao longo de milhões de anos, formaram o deserto do Namibe e ajudaram a impulsionar o desenvolvimento das espécies que habitam a região.

Apesar da hiper-aridez, que transforma o deserto do Namibe em um lugar hostil para se habitar, muitas espécies de microrganismos, animais e vegetais são nativos dessa região do planeta. 

Existe vida no deserto do Namibe?

Muitos répteis e aves são bem adaptados à vida no deserto. Espécies de mamíferos, como antílopes, raposas, guepardos e hienas, também podem ser vistos, às suas margens. Os elefantes do deserto também são avistados, de tempos em tempos, ao norte da Namíbia. Segundo estudiosos, os elefantes sobrevivem neste ambiente árido e hostil graças a sua alta capacidade de aprendizagem e adaptação.

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Elefantes do deserto, Namíbia / Foto de Jean & Nathalie, sob CC BY 2.0 DEED, no Flickr

O avestruz africano, considerado a maior ave do planeta, era uma parcela abundante da fauna do deserto do Namibe. No entanto, quase foram extintos no século 18, pela caça e uso ostensivo de suas penas, em roupas e acessórios. Desde o século 19 passaram a ser domesticados e sua população é cultivada para fins exploratórios. 

Além de muitas espécies de fauna presentes no território, o deserto do Namibe também conta com uma rica flora regional. Uma das espécies mais surpreendentes é a Acanthosicyos horridus, planta que produz um fruto comestível, o melão de Nara. Essa espécie se desenvolve nas dunas dos arredores de Sossusvlei, um lado seco de sal e argila, que fica dentro do Parque Nacional Namib-Naukluft.

De acordo com a Unesco, o alto número de espécies endêmicas desse bioma é um forte exemplo da capacidade de evolução e resiliência da vida em ambientes extremos. No entanto, a exemplo do que ocorre em diversas regiões do mundo, no deserto do Namibe as consequências do aquecimento global também são sentidas, prejudicando espécies-chave da região.

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Os impactos das mudanças climáticas no deserto do Namibe

De acordo com os cientistas, os biomas desérticos possuem os ecossistemas mais vulneráveis às alterações climáticas globais. O aumento das temperaturas, em conjunto com a diminuição das chuvas e as altas taxas de dióxido de carbono na atmosfera, podem causar fortes impactos na estrutura, nas funções e na biota dos ecossistemas desérticos. 

Perda de habitat e conflitos entre humanos e a vida selvagem

Uma pesquisa, divulgada pela Multidisciplinary Digital Publishing Institute (MDPI), analisou os problemas gerados pelas mudanças climáticas e outros fatores antropogênicos na perda de habitat de espécies da vida selvagem, na região do deserto do Namibe. Os pesquisadores apontaram, como uma das principais consequências, o aumento do conflito entre humanos e a vida selvagem (HWC, da sigla em inglês).

Os elefantes, espécie que enfrenta constantemente conflitos com humanos, são essenciais para o meio ambiente, pois prestam valiosos serviços ecossistêmicos. Além disso, tem seu valor econômico e cultural para a região. Para entender os fatores que geram a perda de habitat, os pesquisadores monitoraram elefantes do Namibe durante quase três anos.

Dos 87 elefantes monitorados, 28 viviam no deserto e os outros 59 na região do semi-deserto. Foram analisadas mudanças de uso do solo, movimentação dos indivíduos, taxa de precipitação e variação de temperatura local.

Segundo a pesquisa, fatores como atividades agrícolas, escassez de chuvas e secas constantes contribuíram para a menor captação de água em bacias hidrográficas efêmeras, essenciais para a manutenção da vida dessa espécie no deserto. Esse aspecto favoreceu a perda de 73% do habitat dos elefantes.

O deserto do Namibe tem a característica de sofrer períodos de seca e aumento de temperatura entre outubro e janeiro. No entanto, na última década esses períodos têm se tornado cada vez mais frequentes. Esse fator reforça a urgência de medidas de conservação ambiental e sustentação desses habitats. Entretanto, se as condições ambientais permanecerem, o deserto do Namibe pode se tornar inabitável num futuro próximo.

Redução do nevoeiro e a ameaça ao futuro das espécies

O nevoeiro, que acolhe as dunas de areia na costa do deserto do Namibe, é fundamental para a manutenção da biodiversidade dessa região. A névoa, depositada no solo do deserto, se torna uma importante fonte de água para as espécies que ali habitam. A formação de orvalho também.

Uma pesquisa, publicada pela Ecosphere, estudou os riscos que o aumento da temperatura terrestre representa para o fenômeno do nevoeiro. Além disso, os pesquisadores analisaram como a diminuição de sua ocorrência afeta os habitats e a biodiversidade dependente desse fenômeno.

De acordo com a pesquisa, ao longo das décadas de 1960 e 1970, a precipitação média anual, causada pelos nevoeiros, chegava a 200 mm em algumas regiões mais distantes da costa. Esse valor chegava a zero a 100 km de distância da costa.

Nessa época, havia um intervalo médio de quatro dias entre os nevoeiros. A pouco mais de 30 km da costa, o intervalo máximo era de 40 dias. Esse intervalo é importante para os animais que dependem desses eventos para terem acesso a água.

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Nevoeiro na costa / Foto de Joshua Kettle no Unsplash

Segundo os pesquisadores, entre 1979 e 2009, a quantidade de dias em que houve nevoeiro caiu em 29%. Desde então, a incidência dos nevoeiros tem diminuído, não apenas no Namibe, mas por todo o mundo. 

Isso é alarmante porque é o intervalo entre os nevoeiros, e não sua magnitude, que determina a continuação da vida, das espécies dependentes, no deserto do Namibe

Os resultados são preocupantes, mas os cientistas buscam soluções e esperam que as espécies dependentes do nevoeiro possam adaptar seus mecanismos fisiológicos, para períodos maiores de desidratação e reidratação.

Além dos nevoeiros, outra ameaça à fauna do Namibe está relacionada à flora.

Redução de espécies endêmicas e a importância do polvo do deserto

A Welwitschia mirabilis é um espécie endêmica, representante da flora e um símbolo do deserto do Namibe. A planta é enorme, seu caule pode ultrapassar 50 cm de diâmetro e ela é encontrada mais próxima da costa. Seu crescimento é muito lento, no entanto, sua vida é bem longa.

Algumas plantas menores dessa espécie, segundo os cientistas, têm uma idade aproximada variando entre 500 e 600 anos. Para as plantas maiores, é estimado que tenham mais de mil anos.

Conhecida como “polvo do deserto”, a espécie tem enorme valor ecológico, fornecendo biomassa verde (alimento) para alguns animais. Além disso, suas grandes folhas fazem sombra e são responsáveis por diminuir até 20°C da temperatura do solo, em relação ao solo exposto, proporcionando abrigo aos animais.

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Welwitschia mirabilis / Foto de Geir K. Edland, sob CC BY-NC-ND 2.0 DEED no Flickr

Por outro lado, um estudo publicado pela Plos One, investigou os efeitos das alterações climáticas no desenvolvimento dessa, que é uma espécie-chave, de alta relevância para a biodiversidade do deserto.

Segundo os pesquisadores, o polvo do deserto deve ter sua população reduzida, diminuindo ainda sua distribuição e disponibilidade locais. Isso quer dizer que, a longo prazo, essas espécies podem ser suprimidas. Ainda, os efeitos das mudanças climáticas já estão afetando o desenvolvimento da espécie.

De acordo com o estudo, não apenas essa, mas outras espécies podem ser prejudicadas pelo aumento global da temperatura. Além disso, desertos de todo o mundo correm o risco de perder sua biodiversidade conforme o aquecimento global se intensifica.


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