Rotação de culturas: o que é e quais são os benefícios

A rotação de culturas é um método de plantio que conserva a saúde do solo, evitando sua exaustão. Além disso, a rotação de culturas também auxilia no controle de ervas daninhas, pragas e doenças nas lavouras, diminuindo suas resistências. 

O manejo do solo e sua correta preparação é fundamental para garantir a fertilidade e uma boa produtividade no plantio das lavouras. No solo ocorrem processos que são essenciais para o crescimento e a saúde dos vegetais.

O que é rotação de culturas?

A rotação de culturas é uma técnica agrícola importante, que auxilia na reposição nutricional dos solos, alternando a plantação de diferentes espécies vegetais. Com a aplicação dessa técnica, as plantações de uma mesma área mudam periodicamente.

Variando as espécies vegetais, que compartilham do mesmo solo e demandam de processos de adubação diferentes, é possível manter as características químicas, biológicas e físicas do solo. O sistema de rotação de culturas é uma forma de evitar erosão, mantendo a terra nutrida.

Um exemplo de rotação de culturas pode ser dado com gramíneas como milho, trigo e cevada, e  leguminosas, como feijão, ervilha, soja. O planejamento para a plantação dessas diferentes culturas deve levar em consideração seu sistema de raízes e a época do ano. 

Nesse contexto, o milho, por exemplo, seria a cultura principal. Se plantado no verão, geralmente após 90 dias se faz sua colheita. Na sequência, o agricultor pode cultivar feijão ou soja, no mesmo local, fazendo com que o solo não sofra desgaste, não perca nutrientes e permaneça fértil. Após a colheita das leguminosas, a área estará preparada para uma nova safra de milho ou outra cultura.

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Qual é o benefício da utilização de plantas leguminosas na rotação de culturas?

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia (Inpa), o nitrogênio é um macronutriente indispensável para o desenvolvimento das espécies vegetais. Esse elemento é o mais absorvido pelas plantas e, por esse motivo, o solo se torna deficiente desse nutriente mais rápido. Além disso, a perda de nitrogênio do solo ocorre facilmente , por meio de perdas gasosas ou lixiviação

A lixiviação é um processo de extração de nutrientes do solo, por meio da água. É um processo natural que, no entanto, é acelerado quando o solo fica desprotegido e exposto às chuvas, o que ocorre com frequência em áreas desmatadas. 

Toda matéria orgânica, presente no solo, é uma relevante fonte de nitrogênio, absorvido pelas plantas. Técnicas de manejo de sistemas agroflorestais apresentam uma enorme vantagem, também nesse aspecto.

Dados do Inpa mostram que, mais de 70% do nitrogênio aplicado no solo de culturas da região amazônica, provenientes de fertilizantes agrícolas, é perdido por conta da lixiviação ou por meio de gases. Ou seja, além de ser um processo ineficaz, constitui uma grande ameaça para o meio ambiente.

Entretanto, a resposta para essa questão está na própria natureza. As espécies de plantas leguminosas têm uma característica que as torna capazes de capturar nitrogênio do ar. Isso ocorre porque um dos microrganismos presentes no solo é uma bactéria chamada rizóbio. 

O rizóbio se retém nas raízes das leguminosas e é por meio dessa bactéria que as plantas absorvem o nitrogênio do ar, depositando-o no solo. Dessa forma, o nitrogênio é liberado mais lentamente, o que diminui a perda por lixiviação. Sendo assim, plantas leguminosas podem ser utilizadas para aumentar a disponibilidade de nitrogênio, melhorando a qualidade dos solos.

Além da rotação de culturas, outras técnicas podem ser utilizadas para revitalizar e recuperar a fertilidade dos solos, de maneira sustentável. 

Técnicas de manejo ecológico do solo, além da rotação de culturas

Existem muitas formas ecológicas, sustentáveis e de eficácia comprovada para o correto manejo dos solos na agricultura. Algumas dessas técnicas são apresentadas a seguir.

Cobertura morta

Um exemplo é a “cobertura morta”, em que o solo é coberto por raspas de madeira, palha de arroz ou qualquer outro material biológico, com a intenção de protegê-lo contra altas temperaturas. A cobertura morta conserva a umidade do solo, aumentando também matéria orgânica e atividades biológicas.  

Adubação verde

A adubação verde é outra técnica utilizada para preparar o solo, que permite a ciclagem de nutrientes, por meio da plantação de espécies vegetais, que fazem a fixação do nitrogênio no solo, nutrindo a terra. As espécies de leguminosas são as mais indicadas para esse fim. 

Nesse contexto, o nabo forrageiro também é uma espécie vegetal bastante utilizada na adubação verde, podendo ser aplicado no preparo do solo para a rotação de culturas e também para a alimentação de animais. Uma de suas principais vantagens é a descompactação do solo, realizado por suas raízes. 

Consórcio entre culturas

Já o consórcio entre culturas é também uma forma de manejo agroecológico, em que duas ou mais espécies vegetais são plantadas simultaneamente. Uma vez que são plantadas no mesmo espaço plantas favoráveis, ou seja, aquelas que não competem entre si, a utilização de recursos naturais, como água, radiação solar e nutrientes é otimizada. 

Isso porque cada espécie tem seu ciclo de desenvolvimento, o que também auxilia no aumento da biodiversidade de insetos e organismos que nutrem o solo. Além de ser uma alternativa aos agrotóxicos, no controle de pragas, o consórcio entre culturas é também uma técnica importante de conservação e recuperação de solo. Numa plantação de abóboras, por exemplo, a associação com culturas de alface, feijão, manjericão, melão e milho, traria resultados bem favoráveis.

Imagem de Freepik

Sistemas agroflorestais

Sistemas agroflorestais (SAF) também são formas sustentáveis de produção agrícola que, além de colaborar para o aumento da biodiversidade, também contribuem para a conservação ambiental, a mitigação das mudanças climáticas e auxiliam na conservação do solo.

Nas agroflorestas, os cultivos agrícolas funcionam em conjunto com a plantação de árvores e também animais. A plantação de árvores, que podem ser frutíferas ou madeireiras, aumentam a produtividade dos solos, uma vez que a adubação ocorre naturalmente. 

Os sistemas de agroflorestas podem funcionar com três variações principais: como sistemas silvi-agrícolas (árvores ou arbustos com culturas agrícolas), como sistemas silvipastoris (árvores ou arbustos com animais e plantas forrageiras, que servem como alimento para os animais) ou ainda, como sistemas agrossilvipastoris (animais com consórcios silvi-agrícolas). 

A aveia preta é uma das espécies bastante utilizadas em SAF e rotação de culturas. Isso porque tanto serve como forragem, que é aplicada para a proteção e adubação da terra, mas também como pastagem para animais, principalmente em épocas de outono e inverno.

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Qual é a importância do manejo do solo?

De acordo com o Inpa, manejar e construir um solo vivo é, entre outros, um importante princípio agroecológico. O solo é uma fonte essencial de nutrientes para as espécies vegetais, e é necessário evitar erosão, manter a adubação com materiais orgânicos e cuidar da ciclagem de nutrientes.

Em muitos casos, o fogo é usado como forma de limpeza, o que melhora a fertilidade dos solos. No entanto, segundo o Inpa, o prazo de validade dessa técnica é curto, durando apenas três anos. Além disso, há emissões de gases de efeito estufa e o risco de incêndios.

Um solo é considerado saudável e fértil quando é bem nutrido, com macro e micronutrientes, e apresenta umidade, porosidade e acidez (pH) adequados.

A porosidade do solo é relativa aos seus micro e macroporos, presentes na terra, que são ocupados por água ou ar. A água é conduzida pelos macroporos e armazenada pelos microporos.

Já a matéria orgânica, presente no solo, é a responsável por agregar suas partículas, inclusive as camadas presentes no solo (areia, argila e silte), o que melhora sua ventilação, consequentemente melhorando a organização de macro e microporos. Por isso é tão importante evitar a compactação dos solos, pois isso diminui a infiltração da água, o avanço das raízes, entre outros fatores.

Características químicas do solo

Em relação às características químicas do solo, 16 elementos são essenciais para o bom desenvolvimento das espécies vegetais. O carbono, oxigênio e hidrogênio são três desses, fornecidos pela água e pelo ar. Os outros 13 elementos são divididos em macro e micronutrientes, e são fornecidos pelo solo. Daí a importância de ter um solo bem cuidado, com o manejo adequado.

Entre os macronutrientes, que são necessários em maior quantidade, estão o nitrogênio, o fósforo, o potássio, o cálcio, o magnésio e o enxofre. Os micronutrientes são formados pelo boro, o cloro, o cobre, o ferro, o manganês, o molibdênio e o zinco. 

A agricultura intensiva, que é o método de produção de alimentos mais difundido em todo o mundo, explora o solo de maneira agressiva. Isso se torna um círculo vicioso, pois um solo empobrecido, nesse contexto, demanda de mais produtos industrializados para suprir as necessidades das produções agrícolas. 

Por outro lado, a agroecologia tem se tornado cada vez mais relevante, encontrando soluções sustentáveis, provando sua eficácia na produção agrícola, mantendo o respeito e o cuidado ao meio ambiente.

Bruna Chicano

Cientista ambiental, vegana, mãe da Amora e da Nina. Adora caminhar sem pressa e subir montanhas.

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