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Também conhecida como neve antropogênica, é um fenômeno incomum que atinge países industrializados do Hemisfério Norte e tem como principal causa a poluição atmosférica

Nevasca industrial, ou neve antropogênica, é um fenômeno que acontece quando queda de neve ocorre devido à poluição atmosférica.

O termo “nevasca industrial” se originou por causa das localidades onde esse fenômeno aconteceu: sempre em áreas urbanas, de concentração industrial. Já o termo “neve antropogênica”, que é sinônimo do anterior, significa que a queda de neve é resultado da intervenção humana na natureza.

Um dos registros de nevasca industrial aconteceu em janeiro de 2023, na região de Surrey, no sudeste da Inglaterra.

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Como é formada a neve antropogênica?

A neve antropogênica é formada quando gotículas de água super-resfriadas são carregadas com partículas de poluição, que podem atuar como núcleos de gelo. 

Em outras palavras, o fenômeno ocorre quando há a combinação de umidade atmosférica e temperaturas baixíssimas, como explica o especialista em meteorologia e clima, Julian Mayes – que testemunhou o fenômeno – em seu artigo publicado, em dezembro de 2023, pela Royal Meteorological Society.

Segundo o especialista, gotículas de água congelam em temperaturas abaixo de 40°C negativos, quando em uma atmosfera limpa. No entanto, os cristais de gelo podem se desenvolver em temperaturas muito próximas a zero graus, quando há presença de poluentes.

Durante o inverno, em regiões de menor altitude do continente europeu e da Inglaterra, não é incomum a formação do que os especialistas chamam de anticiclone, com um nevoeiro superficial, não frontal (sem massas de ar em deslocamento) e nuvens baixas, que costumam ficar no mesmo lugar por dias.

Nessas condições, com o acúmulo de pressão atmosférica, a neve começa a se formar em temperaturas mais altas do que o normal.

Além disso, o aspecto deixado pela nevasca industrial é diferente: a neve que cai é muito seca, como se estivesse “desidratada”, sem a umidade natural esperada.

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Eventos de nevasca industrial pelo Hemisfério Norte

Uma pesquisa realizada pela University of the Highlands and Islands, na Escócia, e publicada em janeiro de 2024, analisou o panorama geral de alguns eventos de nevasca industrial registrados, ocorridos pela Europa e também Estados Unidos.

Segundo o estudo, o primeiro registro de nevasca industrial ocorreu em janeiro de 1971, no estado de Indiana, nos Estados Unidos. A neve, que caiu próxima ao campus de uma universidade, foi atribuída à poluição gerada por uma usina elétrica local, que na época funcionava à base de carvão.

Outro evento semelhante ocorreu em fevereiro de 1993, no município de Biebesheim-am-Rhein, na Alemanha.

No inverno de 2008 para 2009, nevascas industriais também foram registradas em outras cidades britânicas. Um estudo realizado pela University of Reading, no Reino Unido, reforçou que esse tipo de nevasca muitas vezes não pode ser prevista pela meteorologia, representando perigo para os transportes e modificando o albedo das superfícies em que cai.

Em dezembro de 2008, nas cidades Hereford, Dudley, Gloucester, Watlington, Tadley e Eccles a temperatura mínima não passou de 5.9°C negativos e imagens de satélite mostraram que não havia atividades de frentes (massas de ar em deslocamento) ou nuvens, acima do Reino Unido.

No mês seguinte, o Observatório Atmosférico da University of Reading, também detectou condições de muita neblina (congelante), mas os satélites também mostraram ausência de frentes ou nuvens. Nesse caso, a temperatura mínima não passou de 5.5°C negativos.

Os cientistas descreveram a neve como muito leve e com a aparência de coco ralado.

Ao longo dos anos, nevascas industriais também foram registradas em outros países, mas ocorreram principalmente na zona central da Suíça.

poluição atmosférica
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As nevascas industriais na Suíça

A pesquisa também relata quatro casos ocorridos em invernos consecutivos, na Suíça, entre 1999 e 2003, na cidade de Winterthur e na região do aeroporto de Zurique.

De 2002 a 2009 também foram registrados eventos em Berna, capital da Suíça. Após diversos estudos de caso, ficou provado que Energie Wasser Bern (EWB), uma central que gerava energia a partir da queima de resíduos, para aquecimento urbano de água, era a grande responsável pelas piores estatísticas de qualidade do ar da região.

No ar da região foi detectado uma série de compostos químicos, como cádmio, vanádio, cobalto, ferro, zinco, chumbo e compostos de cobre, que podem causar sérios problemas de saúde no organismo humano e no meio ambiente.

Em 2012, as chaminés e o incinerador da EWB foram desativados, o que aumentou drasticamente a qualidade do ar. Desde então, não houve mais registros de qualquer nevasca industrial por lá.

como podemos reduzir a poluição do ar
Como podemos reduzir a poluição do ar?

A relação entre cerveja e qualidade do ar

Num artigo publicado em 2021, pela alemã Ulrike Gerhard, a pesquisadora fala sobre como a representação do espaço urbano desempenha um papel central nas mudanças climáticas.  

Como uma confirmação desse fato, um artigo publicado pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung, noticiou sobre uma nevasca industrial, ocorrida na cidade de Munique, em 2016, evidenciando o fato de que a neve que caía na cidade cheirava à cerveja. 

O artigo citou um evento ocorrido em Nockherberg, local onde está instalada a fábrica da cervejaria Paulaner e também citou a região da cervejaria Augustiner. Nessas regiões aconteceu o fenômeno que os alemães batizaram de bier-schne, ou “neve de cerveja”, que nada mais é do que a nevasca industrial, nesse caso gerada pela poluição das fábricas cervejeiras.

Além da Alemanha, a “neve de cerveja” também ocorreu em Dublin, na Irlanda, em dezembro de 1995. Na época, a neve antropogênica foi causada pelas fábricas da cervejaria Guinness.

Foto de Greg Montani no Pixabay
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O futuro da nevasca industrial

Os cientistas especulam que talvez muito mais eventos tenham ocorrido no passado, apesar de não haver qualquer menção antes dos anos 70. Acredita-se que os eventos de nevasca industrial tenham sido subnotificados ou confundidos e considerados simples geadas.

A neve antropogênica representa um grande perigo nos invernos de muitas cidades e alerta para níveis altos de poluição do ar.

Os cientistas apostam que, com a diminuição de indústrias pesadas e a aplicação de novas tecnologias, além do aumento de temperatura do globo terrestre, as nevascas industriais podem ter sido mais comuns no passado, do que já são ou serão no futuro. 


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