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A Conferência de Estocolmo de 1972 reuniu mais de 100 países e marcou o início das discussões ambientais ao redor do mundo

Você sabia que a primeira conferência ambiental do mundo aconteceu há mais de 50 anos? A Conferência de Estocolmo, realizada em junho de 1972, reuniu delegações de 113 países para discutir, pela primeira vez, como equilibrar a relação entre desenvolvimento econômico, preservação ambiental e bem-estar humano. 

O encontro, realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU), marcou o início da agenda ambiental internacional e refletiu uma mudança de paradigma que vinha ganhando força desde a década de 1960.

No entanto, esse “despertar ambiental” não surgiu do nada. Ele foi moldado por mudanças políticas e sociais que iniciaram com o fim da 2ª Guerra Mundial, quando o mundo passou a repensar a relação entre sociedade e natureza.

O pós-guerra e as origens da Conferência de Estocolmo

A devastação causada pela 2ª Guerra Mundial trouxe reflexões sobre novas formas de organizar a sociedade para o pós-guerra. A partir daí começaram a surgir importantes organizações não governamentais (ONGs), que se tornariam referência na luta pela conservação ambiental

  • International Union for Conservation of Nature (IUCN), em 1948;
  • The Nature Conservancy (TNC), em 1951;
  • World Wild Fund for Nature (WWF), em 1961. 

A própria ONU, inclusive, foi criada em 1945, com o fim da guerra.

Apesar do impulso inicial, as preocupações com a preservação do meio ambiente passaram a ganhar força mesmo nos anos 1960, atraindo a atenção da mídia e da sociedade. 

Em parte, catástrofes socioambientais, como o Desastre de Minamata no Japão, foram responsáveis por dar início a transformação, que consolidou o movimento ambientalista.

O desastre de Minamata e seus impactos

Entre 1936 e 1968, os habitantes da cidade japonesa foram contaminados por mercúrio. A ONU chamou o ocorrido de desastre em câmera lenta. Sem o conhecimento dos habitantes, a empresa Chisso, que fabricava principalmente o plástico PVC (policloreto de vinila), despejava resíduos da produção, contendo mercúrio, na baía de Minamata. 

O mercúrio é um poluente persistente. Ao atingir o meio ambiente, ele permanece ativo por muitos anos. Com capacidade para circular por longas distâncias, esse metal contamina e intoxica os organismos pelo caminho. 

Com o tempo, ele se transforma em metilmercúrio, que tende a ficar bioconcetrado, se acumulando na cadeia alimentar. O metilmercúrio contamina e se acumula em peixes e outros animais marinhos, intoxicando os seres humanos que se alimentam desses animais. Como foi o caso dos moradores de Minamata.

Mercúrio e seus efeitos devastadores na saúde

A exposição ao mercúrio causa sérios danos aos seres humanos: afeta os sistemas nervoso, digestivo e imune. Além disso, causa doenças cardíacas, pulmonares e nos rins. Em gestantes, fetos e crianças, atinge gravemente o sistema nervoso, pode causar perdas de funções ou paralisias. 

No entanto, o caso só veio à tona em 1956, quando ocorreu o primeiro registro da “doença de Minamata”. A partir de então foi esclarecido que a razão dos severos distúrbios que afetaram milhares de pessoas na região era envenenamento por mercúrio. 

Segundo a ONU, foram mais de 70 mil vítimas humanas, além de diferentes espécies de animais, aquáticos e terrestres.

Vale lembrar que, em pleno século XXI, a exploração de ouro na Amazônia, por meio do garimpo ilegal, utiliza o mercúrio durante o processo, poluindo o ecossistema. A poluição impacta diretamente a fauna, as comunidades tradicionais, incluindo os povos originários, que habitam a floresta. Como é o caso dos indígenas Yanomami

Além do Desastre de Minamata, outros desastres ambientais ocorreram ao longo da década de 1960. Fator que fortaleceu a necessidade de mudança na relação entre humanos e meio ambiente e o pensamento retrógrado da época. 

Memorial em Minamata homenageia vítimas da contaminação por mercúrio, contexto que influenciou a Conferência de Estocolmo.
Minamata Memorial, no Japão, em homenagem às vítimas do desastre que também influenciou a Conferência de Estocolmo / Foto de Hyolee2 sob CC BY-SA 3.0 no Wikimedia Commons

Primavera Silenciosa: impulso para a consciência ambiental

A década de 1960 também contou com importantes publicações, que ajudaram a alavancar o movimento ambientalista. Uma dessas publicações, e talvez a principal propulsora do movimento, foi o livro Primavera Silenciosa (Silent Spring), publicado em 1962. 

Escrito pela ecologista estadunidense Rachel Carson, o livro alertava para o uso indiscriminado de agrotóxicos após a 2ª Guerra Mundial, até então chamados de inseticidas

Em sua obra, Carson argumenta que “substâncias químicas não seletivas, que tem o poder de matar todos os insetos, os bons e os maus, de roubar o canto dos pássaros e os saltos dos peixes nos riachos, de revestir as folhas com uma película mortal e de permanecer no solo, tudo isso, ainda que o alvo pretendido seja apenas algumas ervas daninhas ou insetos”. 

A autora reforça, dando luz a um questionamento que ia de encontro com o pensamento crítico da época: “Alguém pode acreditar que é possível lançar tal concentração de venenos na superfície da Terra sem torná-la imprópria para toda a vida?”. E foi enfática ao afirmar que esses químicos “não deveriam ser chamados de inseticidas, mas biocidas”. 

Retrato da ecologista Rachel Carson, autora de Primavera Silenciosa, obra que inspirou a Conferência de Estocolmo.
O trabalho de Rachel Carson ajudou a alavancar o movimento ambientalista, que culminou na Conferência de Estocolmo / Foto de U.S. Department of Agriculture, sob domínio público no Flickr

Rachel Carson foi duramente criticada por negacionistas na época. Principalmente por membros da indústria química dos Estados Unidos, sendo acusada de histeria. Por outro lado, o livro da ecologista se tornou um best seller e abriu o caminho para o ativismo ambiental e os questionamentos relacionados à degradação do meio ambiente. 

O fortalecimento do movimento ambientalista

Ao longo dos anos 1960 e da década seguinte, outras publicações relevantes ganharam palco e foram ajudando a transformar o cenário mundial. 

Dentre elas, a edição de janeiro de 1972 da revista britânica The Ecologist. Intitulada “A blueprint for survival” (Um projeto para a sobrevivência, em tradução livre), a edição destacou que “o principal defeito do modo de vida industrial, com seu caráter expansivo, é que ele não é sustentável”. 

Ainda, a publicação vanguardista deixou claro que sustentar esse modo de vida favorecia uma pequena parcela da população, impondo sofrimento para o restante da humanidade. 

Além disso, destacou dois possíveis caminhos para o término da sociedade de consumo. Um deles abraçando as mudanças necessárias, criando uma sociedade sustentável. Outro destinado à fome mundial, epidemias, crises sociais e guerras.

Vale destacar que, em plena década de 1970, a revista emitiu um alerta que permanece atual: “uma mudança radical é tanto necessária quanto inevitável”. A revista ainda ressaltou o aumento da taxa de natalidade no planeta e o consumismo crescente como principais causas para a perturbação dos ecossistemas e esgotamento de recursos naturais. Esses pontos, de acordo com a publicação, minam “os próprios fundamentos da sobrevivência”.

“Os limites do crescimento” e a crítica ao modelo industrial

Alguns meses depois, o Clube de Roma, formado por personalidades que se reuniam para debater o panorama mundial, incluindo a comunidade científica da época, publicou o relatório The Limits to Growth (Os limites do crescimento). Também conhecido como “relatório Meadows”. 

O relatório analisou modelos de crescimento populacional, em contraste com os impactos da expansão econômica sem limites. E destacou que “mantendo as atuais tendências de crescimento da população mundial, industrialização, contaminação ambiental, produção de alimentos e esgotamento de recursos, este planeta alcançará os limites de seu crescimento nos próximos 100 anos”.

Nesse contexto, o despertar para a consciência ambiental passou a tomar forma, impulsionando cada vez mais discursos e ações a favor do desenvolvimento sustentável.

Disputas antes da Conferência de Estocolmo

Com toda a transformação que ocorria na época, líderes dos países industrializados, que eram de fato os responsáveis por toda a degradação ambiental e os impactos negativos que ultrapassaram suas fronteiras, passaram a buscar maneiras de estabelecer medidas que regulassem o desenvolvimento dos países emergentes, incluindo o Brasil. 

A proposta tinha como objetivo evitar que países emergentes – muito explorados enquanto colônias –  seguissem os mesmos passos destrutivos dos países ricos. 

Preocupações com a desigualdade social, dificuldade no acesso à educação e às tecnologias, e questões de equidade também integravam as discussões.

Com toda a pressão social e a repercussão política gerada em volta do tema ambiental, em 1968, o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (Ecosoc, da sigla em inglês), recomendou que a Assembleia Geral da ONU convocasse uma conferência, de nível mundial, colocando como pauta a relação da humanidade com o meio ambiente. 

No fim desse mesmo ano, por meio da resolução 2398, os países foram oficialmente convocados para a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano – marcada para 1972, em Estocolmo, na Suécia.

Resultados e legado da Conferência de Estocolmo

Foi assim que em junho de 1972, após uma intensa preparação, aconteceu a primeira conferência mundial para debater questões ambientais. 

Liderada pelo então secretário-geral Maurice Strong, magnata do petróleo, a Conferência de Estocolmo contou com a participação de 113 países e garantiu a assinatura da Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano.

Com 26 princípios, envolvendo proteção ambiental e a melhoria da qualidade de vida, entre países ricos e em desenvolvimento, a declaração atua como um guia, com recomendações para preservar o meio ambiente e inspirar a relação humana com a natureza. No entanto, o documento não estabelece metas.

Ainda durante a Conferência de Estocolmo, a ONU criou o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). O órgão é responsável pela atuação na agenda ambiental, em nível internacional.

Depois de 1972, a próxima discussão global foi realizada no Rio de Janeiro. A Rio 92 marcou o aniversário de 20 anos da primeira conferência ambiental do mundo. Em 2022, a Conferência de Estocolmo completou 50 anos.

Apesar dos aspectos positivos que todo esse movimento trouxe para a mudança cultural da época e para o mundo nos anos seguintes, as discussões sobre as relações entre meio ambiente e o ser humano nunca estiveram livres de discórdia. 

O fato é que as conferências do meio ambiental e cúpulas sobre o clima caminham a passos lentos em  direção a uma solução para a crise ambiental. Por outro lado, vale destacar que a Conferência de Estocolmo deixou um legado importante e abriu o caminho para que as relações humanas com a natureza fossem repensadas e debatidas.


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