Prática criminosa chega a desmatar até dez campos de futebol por dia, principalmente no Cerrado
Por Observatório do Clima | A Rede Cerrado, o Observatório do Clima (OC), o Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (FBOMS) e outras organizações ambientais e sociais lançaram na segunda-feira (5/5) abaixo-assinado reivindicando o fim imediato da prática devastadora de desmatamento conhecida como “correntão”. O manifesto, já disponível online para assinaturas, pede ações urgentes do poder público para banir esse método brutal que destrói a biodiversidade e agrava a crise climática brasileira.
O “correntão” é uma tática de desmatamento que usa uma corrente de metal, em geral adaptada de âncoras de navios, presa entre dois tratores de grande porte para derrubar vastas áreas de vegetação nativa. É uma ferramenta de aniquilação ambiental, que devasta a flora, provoca a morte de animais, incentiva a grilagem de terras e de meios para burlar a fiscalização. Pode desmatar até dez campos de futebol por dia. Muitos animais silvestres, inclusive espécies ameaçadas, não têm chance de escapar e acabam esmagados. Exemplo de devastação causada pelo “correntão”: https://is.gd/rMf4yq.
A prática, usada principalmente no Cerrado, um dos biomas que têm liderado taxas de desmatamento no país e que abriga oito das doze principais bacias brasileiras, coloca em risco a biodiversidade e a segurança hídrica no Brasil e na América do Sul, além de ameaçar comunidades e povos tradicionais que dependem de recursos naturais para manter seus modos de vida.
Embora combatido por legislações ambientais como o Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), o uso do “correntão” se mantém devido à falta de uma proibição nacional explícita e a brechas legais em alguns estados. Um exemplo é o Decreto Legislativo nº 49/2016, de Mato Grosso, que suspendeu uma proibição estadual anterior e permitiu a continuidade da prática.
As entidades proponentes do abaixo-assinado alertam para os danos causados pelo procedimento. Entre os impactos negativos estão a perda massiva de biodiversidade, a degradação do solo e de recursos hídricos devido à erosão e ao assoreamento de rios, o incentivo ao desmatamento ilegal e à grilagem de terras, além do agravamento da mudança do clima e do impacto social direto sobre povos indígenas e comunidades tradicionais que dependem das florestas para subsistência e cultura.
“Não podemos mais assistir passivamente à destruição causada pelo correntão. Essa prática bárbara, realizada brutalmente, especialmente no Cerrado, representa um retrocesso inaceitável e uma ameaça direta ao futuro dos nossos biomas e da nossa segurança climática. É urgente que o Congresso Nacional e as autoridades competentes atuem para banir definitivamente essa ferramenta de destruição”, afirma Hiparidi Top Tiro, coordenador geral da Rede Cerrado.
A expectativa pela proibição definitiva está no Projeto de Lei (PL) nº 5.268/2020, que propõe alterar o Código Florestal e a Lei de Crimes Ambientais para proibir expressamente o uso do correntão e agravar as penas. O abaixo-assinado reivindica a aprovação urgente das proposições deste PL, a revogação imediata do decreto permissivo de Mato Grosso e a fiscalização ambiental efetiva.