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Agronegócio representa considerável parcela do PIB brasileiro, mas gera impactos socioambientais de valor inestimável

Agronegócio, ou “agribusiness” em inglês, é um termo criado em 1957 pelos cientistas John Davis e Ray Goldberg, e resultou da junção entre os conceitos de agricultura e negócio (do latim negotium ou “negação do ócio”).

Desde então, o setor de agronegócio brasileiro aumenta sua produtividade a cada ano, impulsionando o crescimento econômico do país, mas também levanta questões sobre distribuição de renda, qualidade de vida no campo e sustentabilidade ambiental.

O que é agronegócio?

Agronegócio diz respeito às atividades dos setores da economia envolvidos com a produção, processamento e comercialização de produtos agropecuários e seus derivados. Este segmento é responsável pelo fornecimento de insumos importantes para a economia e consumo como alimentos, combustíveis, produtos químicos, sementes e mudas, além de matérias-primas utilizadas em vários processos industriais.

Segundo o Censo Agropecuário de 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os estabelecimentos voltados às atividades agrícolas ocupavam uma área total de 351 milhões de hectares, sendo que cerca de 70% correspondiam a pontos de produção de pequeno porte (entre 1 e 50 hectares).

Vale ressaltar que agronegócio está relacionado a empreendimentos de larga escala, normalmente produzindo insumos para exportação a outros países. Porém, apesar de sua expressiva participação de 24,8% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, apenas 33% dos estabelecimentos agrícolas estão envolvidos no agronegócio, sendo responsáveis por empregar pouco mais de 30% da força de trabalho desse setor econômico.

O que é agricultura familiar?

Agricultura Familiar é definida, pelo Decreto Nº 9.064 de 2017, como um tipo de atividade agrícola realizada por uma família em sua Unidade Familiar de Produção Agrária (UFPA), onde são combinados diversos recursos para atender suas necessidades de subsistência e fornecer alimentos e outros bens e serviços à sociedade local.

O Censo Agropecuário de 2017 levantou que este tipo de atividade é exercida por cerca de 67% de toda mão de obra do setor agropecuário brasileiro, mas que o valor de sua produção é menor em todas as regiões do país quando comparado com as atividades de agricultura não-familiar, ou agronegócio.

Além disso, de 60% a 80% dos estabelecimentos localizados nas regiões Norte e Nordeste do Brasil são classificados como de agricultura familiar, exatamente nas regiões que apresentam menores percentuais de habitantes com rendimento, segundo o IBGE.

Quais são os impactos socioambientais do agronegócio?

agronegócio
Foto de Marta Ortigosa na Unsplash

Nas últimas décadas, o agronegócio tem sido pautado ora como um grande gerador de impactos socioambientais, mas também como um potencial motor de desenvolvimento nacional quando exercido com sustentabilidade.

O uso intensivo de agrotóxicos por segmentos do agronegócio afeta a saúde do trabalhador que está diretamente envolvido na atividade agrícola e, até mesmo, de agricultores familiares nos arredores dessas grandes estruturas de produção de alimentos e criação de animais.

Além disso, a aplicação de altas concentrações de fertilizantes inorgânicos em grandes áreas contribui para a contaminação dos lençóis freáticos, eutrofização e perda de biodiversidade, segundo estudo.

Por outro lado, o agronegócio brasileiro contribui com a disponibilidade de alimentos no mercado interno e favorece o desenvolvimento econômico do Brasil, seja pelos faturamentos das exportações de commodities, ou pelos investimentos em pesquisa e tecnologia.

Entretanto, o agronegócio apresenta lacunas que são supridas, em grande parte, pela agricultura familiar, como a promoção da segurança alimentar, a preservação da biodiversidade e a valorização das práticas sustentáveis de produção.

Quais são os impactos socioambientais da agricultura familiar?

A agricultura familiar é um setor agrícola que emprega 73% dos trabalhadores rurais no Brasil. Cerca de 70% dos alimentos consumidos e produzidos no país têm origem na agricultura familiar.

Regiões periféricas, em especial, são as mais beneficiadas pela agricultura familiar, pois pequenos produtores facilitam o acesso de pessoas em vulnerabilidade social a alimentos de qualidade e por preços acessíveis.

Outro impacto positivo da agricultura familiar para o país diz respeito à sua natural harmonia com a natureza. As técnicas de agroecologia transmitidas ao longo das gerações promovem um manejo sustentável dos recursos naturais e a preservação de espécies, além de conservar o solo e controlar de maneira natural a proliferação de pragas.

A diversificação de culturas na plantação, e de conhecimentos tradicionais, faz da agricultura familiar mais resiliente e adaptável às mudanças climáticas, o que evidencia ainda mais sua importância para a adoção de políticas públicas voltadas à segurança alimentar no Brasil e no mundo.

É verdade que o agronegócio é importante para a economia brasileira?

O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da ESALQ/USP divulgou um estudo mostrando que o PIB do agronegócio atingiu “sucessivos recordes” em 2020 e 2021, apesar de uma leve queda em 2022 devido ao aumento dos custos dos insumos para a produção agrícola. Os 24,8% da participação do agronegócio no PIB total brasileiro demonstra sua importância para a economia nacional.

Em contrapartida, o Economista e Professor Ladislau Dowbor atesta para a importância de uma análise mais profunda sobre o real reflexo que o aumento do PIB pode ter na qualidade de vida da população no geral. Considerar apenas as transações econômicas, não levando em conta aspectos como saúde, educação, acesso a bens públicos e a fontes de informação de qualidade, faz do cálculo atual do PIB incompleto e não representativo da real situação social do país.

Os impactos socioambientais, como os decorrentes das atividades de alguns setores do agronegócio, também não entram nas métricas utilizadas para calcular o PIB, mas geram prejuízos diretos na saúde e bem-estar das pessoas, principalmente aquelas em situações de vulnerabilidade, dentre elas os agricultores familiares.

Neste sentido, é boa notícia ao país quando seu PIB está em crescimento, mas a má distribuição de acesso a serviços essenciais à subsistência demonstra, por outro lado, o acentuamento das desigualdades sociais. Enquanto grandes produtores lucram mais, populações às margens do mercado trilionário do agronegócio recebem parcelas desproporcionais dos ônus de suas práticas.

É possível existir um agronegócio sustentável?

O agronegócio tem sido alvo de intensas discussões sobre sua compatibilidade com a sustentabilidade, principalmente devido aos impactos ambientais causados pelas práticas de monocultura. Ao priorizar apenas um tipo de planta, a monocultura exclui outras espécies vegetais e animais importantes para os ecossistemas.

Ao analisarmos a relação entre agricultura familiar e sustentabilidade, o cenário se mostra mais favorável. Além da adoção da agroecologia citada anteriormente, os agricultores familiares contribuem para a preservação da variedade de sementes adaptadas ao clima local, uso sustentável da água e solo, e até geração de energia renovável.

Por meio destas ações, a agricultura familiar fornece ainda mais segurança alimentar para o país, servindo de exemplo para o agronegócio na busca por sustentabilidade.

Além disso, a proteção e o fortalecimento de comunidades tradicionais devem prevalecer em uma nação que busca por sustentabilidade, e são medidas asseguradas pela Constituição Federal Brasileira. Eis a importância da demarcação de terras indígenas, pois essas populações estão vivendo em equilíbrio com a natureza há séculos, e seus conhecimentos sobre práticas agrícolas possuem um valor inestimável, mas pouco reconhecido pelos grandes atores do agronegócio.

Qual é o futuro do agronegócio e da agricultura familiar?

O Ministério da Agricultura realizou algumas projeções que mostram crescimento da área utilizada por algumas lavouras até 2031. Dentre elas, é previsto que só a soja ganhará mais de 10 milhões de hectares em área plantada. Como ela é um dos principais vegetais que representam a monocultura, vale ressaltar que é preciso que novas formas de cultivo sejam adotadas nos próximos anos.

O sexto Relatório de Avaliação do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) prevê que haverá um aumento da temperatura média do planeta caso as políticas atuais continuem como estão. Dentre estas políticas, estão as de uso e ocupação do solo, e dentro destas as voltadas a práticas agrícolas.

Em contrapartida, também há a previsão de aumento da produtividade da agricultura familiar nos próximos anos, mas sua representatividade ainda será menor em comparação com o agronegócio.

Neste sentido, um caminho interessante para um agronegócio sustentável seria a geração de valor aos conhecimentos de populações tradicionais, por meio da adoção de suas práticas naturalmente harmoniosas com o meio ambiente.

Por outro lado, o Brasil só caminhará efetivamente para um cenário que garante de fato segurança alimentar, justiça ambiental e sustentabilidade quando suas políticas socioambientais favorecerem a agricultura familiar, empoderando seus praticantes, garantindo a segurança de sua atuação e promovendo educação ambiental que demonstre os benefícios presentes e futuros da sua adoção em escala nacional.


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