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Entenda como funciona a cadeia de produção do papel sulfite, seus impactos ambientais e vantagens

O uso do papel remonta há mais de dois mil anos. O papel sulfite, também chamado de apergaminhado, Off-Set ou papel ofício, é um papel que pode ser encontrado em várias cores, principalmente nas cores branca e, quando reciclado, bege.

Mas o que nem todos sabem é que o papel sulfite também pode ter vários tamanhos, sendo o mais comum o A4, cujas medidas são 21 cm X 29,7 cm. Ele é muito utilizado em impressoras e fotocopiadoras, mas também pode ser um item presente em atividades de artesanato, entre outros usos. Ele é chamado de papel sulfite porque, em sua produção, é adicionado sulfito de sódio.

O sulfito de sódio é um conservante usado em alimentos solúvel em água que serve para deixar o meio básico. Ele é preparado por meio da reação entre dióxido de enxofre e carbonato de sódio ou hidróxido de sódio.

A celulose, principal massa celular estrutural das plantas, é a matéria-prima mais utilizada para fazer o papel sulfite. Formada por monômeros de glicose ligados entre si, foi descoberta em 1838 pelo químico francês Anselme Payen, que determinou sua fórmula química. A celulose constitui uma importante matéria-prima para as indústrias, que a extraem a partir de diversos vegetais, como árvores de eucalipto, pinheiro, algodão, bambu, entre outras.

A celulose sintetizada naturalmente pelos diversos tipos de vegetais passa por uma série de processos para ser utilizada pela indústria de papel sulfite. Esses processos se dividem nas etapas florestal, de preparação da madeira, de obtenção de celulose, de secagem e de acabamento. O processo de produção de celulose se inicia com o plantio de sementes dos vegetais, que servem de fonte de celulose.

Após o corte desses vegetais crescidos, as toras são encaminhadas para fábricas, onde são descascadas e levadas até picadores para serem transformadas em cavacos, que são pequenos pedaços de madeira.

Obtenção de celulose

Os cavacos são transportados até os digestores, onde se inicia o cozimento ou polpação. A polpação serve para amolecer a madeira e facilitar o desfibramento e a deslignificação – que consiste em separar a lignina – responsável pela cor e resistência das fibras da madeira. Após a separação da lignina, é feita uma operação de lavagem e peneiração para retirar impurezas, que serão reutilizadas no processo.

Depois do peneiramento, a celulose é submetida a um processo de branqueamento, que consiste no tratamento com determinados reagentes químicos visando melhorar sua alvura, limpeza e pureza química. Quanto mais eficiente for o processo de deslignificação, menor será a necessidade de reagentes no branqueamento. O branqueamento pode ser feito por dois métodos principais: método ácido ou sulfito e método alcalino ou kraft, que é o mais utilizado no Brasil.

Por fim, após o branqueamento, a celulose é enviada para a secagem. O objetivo é retirar a água da celulose até que ela atinja o ponto de equilíbrio com a umidade relativa do ambiente. Na parte final da máquina secadora fica a cortadeira, que reduz a folha contínua a um formato determinado.

Impactos ambientais

As etapas de preparação da celulose que mais causam impactos ambientais são a etapa florestal, o branqueamento e a destinação dos resíduos.

No caso brasileiro, a matéria-prima da celulose provém de fazendas de árvores plantadas. Já nos países escandinavos e no Canadá, ela é obtida de florestas nativas de propriedade estatal, o que representa um problema significativo de desmatamento de mata nativa, principalmente porque as espécies nativas são de crescimento lento. Por outro lado, no caso das árvores plantadas, os impactos ambientais estão relacionados principalmente à perda da biodiversidade (tanto da flora quanto da fauna), causada pela monocultura, a exaustão do solo, a invasão de pragas e a contaminação dos recursos hídricos, devido ao uso de pesticidas.

A etapa de branqueamento da celulose aparece com frequência nas discussões a respeito da preservação do ambiente. A presença do cloro e de substâncias orgânicas, entre as quais a lignina, representa a maior parte no efluente de branqueamento e contribui para a formação dos compostos organoclorados – substâncias com significativo impacto ambiental. Para saber mais sobre esse tema, confira a matéria “O que são organoclorados?“.

No caso das monoculturas de eucalipto (espécie muito utilizada pela indústria de celulose, principalmente por causa do seu rápido desenvolvimento no Brasil), outro impacto ambiental frequentemente apontado é o alto consumo de água pelas árvores e seus impactos sobre a umidade do solo, rios e lençóis freáticos.

O eucalipto pode acarretar ressecamento do solo ao utilizar as reservas de água nele contidas, podendo, nesse caso, prejudicar também o crescimento de outras espécies, fruto da denominada “alelopatia”.

Por outro lado, um artigo publicado pela Revista do BNDES afirma que, apesar de possuir um alto consumo de água, isso não significa, necessariamente, que o eucalipto seque o solo da região onde se insere, ou que impacta os lençóis freáticos. Isso porque, de acordo com o artigo, o ressecamento do solo em florestas de eucalipto depende não somente do consumo de água pelas plantas, mas também da precipitação pluviométrica da região de cultivo.

De acordo com o site Two Sides, cerca de 50% da extração de madeira no mundo direciona seu uso para construção, enquanto que a produção de papel, no geral, representa 13% da extração de madeira.

Vantagens ambientais

Em solos desmatados e empobrecidos, a deposição dos resíduos orgânicos da fabricação de celulose e papel tem alguns efeitos benéficos como elevação do pH com consequente aumento na disponibilidade de determinados nutrientes, como fósforo e micronutrientes; aumento da capacidade de troca de cátions dos solos; incorporação de nutrientes minerais necessários às árvores; melhoria das propriedades físicas como a granulometria, a capacidade de retenção de água e a densidade do solo; aumento da atividade biológica do solo, acelerando a decomposição da serapilheira e a ciclagem de nutrientes. Os solos utilizados em reflorestamentos brasileiros, com raras exceções, são de baixa fertilidade, mesmo para a atividade florestal. A correção desses solos é necessária para melhorar a fertilidade e um nível alto de matéria orgânica aumenta a disponibilidade de nutrientes minerais e a capacidade de retenção de água e de cátions no solo. Entretanto, vale ressaltar que esse caso só se aplica a solos anteriormente empobrecidos.

Outra vantagem é que o plantio de monoculturas em áreas previamente desmatadas ajuda a capturar CO2 durante o crescimento da vegetação, principalmente porque, como ressalta Fernando Reinach em artigo publicado pelo jornal Estado de S. Paulo, a maior parte da captura de CO2 pelas plantas se dá em sua fase de crescimento. Na fase adulta não há captura de CO2 que não seja liberada novamente durante o período noturno. Entretanto, vale ressaltar que essa vantagem só traz benefícios quando a área em que será realizado o plantio em questão já se encontra em estado de deterioração e desmatada; e que, após o corte de árvores para obtenção da celulose, o carbono fixado nas árvores tende a voltar para a atmosfera.

Em comparação às espécies exóticas (que não são naturais dos biomas brasileiros), como o eucalipto – plantadas na forma de monocultura – os vegetais nativos e plantados de forma agroecológica são sempre mais vantajosos em termos de ganhos ambientais – por exemplo, estimulando a própria biodiversidade.

Certificação

Devido ao potencial de impacto ambiental do setor de produção de celulose (de base florestal), existe uma exigência (por parte dos consumidores) para que sejam gerados os menores impactos ambientais (externalidades negativas) possíveis na cadeia de produção dos produtos feitos a partir da celulose, como o papel sulfite.

A certificação é uma maneira de informar aos consumidores mais exigentes o comprometimento (por parte dos produtores) em reduzir as externalidades danosas ao ambiente (desmatamento na amazônia, desrespeito às áreas indígenas, etc.) dentro de certos critérios preestabelecidos pela certificação em questão.

Por meio da logomarca do sistema certificador impressa na embalagem do produto (como ocorre em pacotes de folhas de sulfite), o consumidor pode saber como o produto foi feito.

Os sistemas de certificação internacionalmente aceitos e que existem no Brasil são a norma ISO 14001, a certificação CerFlor e a certificação FSC. Cada uma delas tem as suas exigências especificadas de maneiras distintas.

A exploração de florestas tropicais, associada à extinção de espécies e ao desmatamento, trouxe uma pressão pela certificação de atividades de extrativismo florestal como uma alternativa para garantir boas práticas de manejo florestal. Entretanto, já se enfrentam problemas relacionados à certificação. Dentre eles, estão a falta de padronização nos métodos de auditoria dos órgãos certificadores, o pouco conhecimento público sobre certificações e os poucos investimentos em promoção por parte dos selos.

Certificações FSC aplicadas no Brasil, em especial nas florestas de ipê, têm tido sua legitimidade contestada, o que gera uma atmosfera de dúvida quanto à efetividade dos padrões adotados pelos órgãos certificadores responsáveis por este selo no país. A principal acusação nesse caso é de que os parâmetros são muito genéricos, não existindo indicadores objetivos de mensuração das atividades florestais. O site da FSC no Brasil afirma que “A certificação FSC é um sistema de garantia internacionalmente reconhecido, que identifica, através de sua logomarca, produtos madeireiros e não madeireiros originados do bom manejo florestal. Todo empreendimento ligado às operações de manejo florestal e/ou à cadeia produtiva de produtos florestais, que cumpra com os princípios e critérios do FSC, pode ser certificado”.

O papel sulfite e a sustentabilidade

A produção de papel sulfite, no Brasil, não destrói florestas nativas, pois 100% da produção de celulose e papel brasileira vem de árvores plantadas de eucalipto e pinus, que são vegetais exóticos plantados em áreas degradadas pela atividade agropecuária.

As árvores plantadas para a produção de papel não substituem as florestas naturais, elas são plantadas em esquemas de mosaico, onde extensas de preservação permanente e de reserva legal se mesclam com as plantações industriais.

No Brasil, a área total de árvores plantadas pela indústria é de 7,8 milhões de hectares, o que representa menos de 1% do território, sendo 2,6 milhões de hectares destinados à produção de celulose e papel.

O papel sulfite é de origem natural renovável, pode ser reciclado, é biodegradável, não possui resíduos perigosos em sua constituição e é produzido de forma segura. Além disso, 85% da matriz energética do setor de celulose e papel têm origem em fontes renováveis, como a biomassa e outros subprodutos. Entretanto, após algumas reciclagens, as fibras de papel se degradam, sendo necessárias novas levas de fibras virgens.

De acordo com o Instituto Sueco Real para Tecnologia, ler um jornal, pode consumir 20% menos carbono do que ver notícias online. Realizar cem buscas no Google emite 20g de CO2 equivalente a passar uma camisa de ferro.

Uma forma de economizar mais recursos é sempre imprimir frente e verso. Na hora de fazer o descarte correto, se possível, evite dobrar ou amassar o papel, assim você conserva as fibras celulósicas e melhora a qualidade da reciclagem. Para conhecer quais são os postos de reciclagem mais próximos de você, consulte o mecanismo de busca gratuito do Portal eCycle.


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