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Análises de 99 espécies de árvores de cinco continentes nos últimos 50 anos indicaram que o aquecimento global deve também reduzir a capacidade das plantas de absorver carbono da atmosfera

Por Carlos Fioravanti em Pesquisa Fapesp Florestas tropicais úmidas ou secas como as do Brasil devem perder vigor e crescer mais devagar à medida que a temperatura média global continuar subindo e a distribuição das chuvas continuar mudando ao longo do ano, intensificando a estiagem nas estações secas e o aguaceiro nas mais chuvosas. As conclusões resultam da análise de 347 cronologias (registros de variação de crescimento anual) elaboradas a partir de uma amostragem inicial de 7.751 árvores que crescem em cinco continentes entre os 30 graus de latitude norte e 30 graus sul (entre as cidades de Houston, no Texas, Estados Unidos, e Porto Alegre, RS, Brasil).

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Esse trabalho foi feito por um grupo de 100 pesquisadores, dos quais 12 de 10 instituições brasileiras, ligados à rede internacional Tropical tree-ring network, financiada pelas universidades de cada um dos países – uma parte das pesquisas brasileiras é apoiada pela FAPESP. Eles examinaram a variação ao longo dos últimos 50 anos dos anéis de crescimento do tronco de árvores de lugares e climas distintos, como o jatobá (Hymenaea courbaril) da Amazônia e Mata Atlântica, a imburana (Commiphora leptophloeos) da Caatinga, a massa (Brachystegia spiciformis) dos bosques secos no sul da África e coníferas que crescem entre 3 mil e 5 mil metros de altitude, a exemplo do cedro-do-himalaia (Cedrus deodara). Os anéis são círculos concêntricos de largura variável que indicam o crescimento anual das árvores: quanto mais largo, mais a árvore cresceu naquele ano, em resposta à temperatura e ao suprimento de água e nutrientes.

O jatobá, encontrado principalmente na Amazônia e na Mata Atlântica, foi uma das 99 espécies examinadas pelas equipes de uma rede internacional de pesquisa anéis de crescimento de árvoresReinaldo Aguilar / Flickr

Os anéis revelaram um padrão para as 99 espécies analisadas, de regiões desérticas como o norte da África e úmidas como a Amazônia e o Congo: “O crescimento das árvores depende principalmente da temperatura e da chuva”, comenta o biólogo Peter Groenendijk, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um dos autores principais do trabalho, detalhado em um artigo publicado em 31 de março na revista científica Nature Geoscience. “Ainda que florestas mais secas, como a Caatinga, sejam mais sensíveis à seca que florestas mais úmidas, como a Amazônia, uma regra geral que encontramos é que, quanto mais alta a temperatura e maior a falta de água, menor o crescimento naquele ano.”

Com a elevação da temperatura e o aumento da seca prevista para as próximas décadas, o crescimento de árvores tropicais pode diminuir. Crescendo menos, as árvores tendem a absorver menos dióxido de carbono (CO2) e podem correr um risco maior de morrer por estresse hídrico. Junto com o desmatamento e degradação das florestas pelas atividades humanas, as florestas tropicais podem vir a liberar – em vez de absorver – gás carbônico.

“A temperatura e o COda atmosfera devem aumentar nas próximas décadas, mas não sabemos como as árvores irão se adaptar às novas condições climáticas. Não necessariamente elas reagirão como no passado”, comenta Groenendijk, que estudou o comportamento de árvores no México, Camarões, Etiópia e Espanha.

O cedro-do-himalaia, outra espécie examinada, cresce entre 3 mil e 5 mil metros de altitudeSatish Parashar

O clima durante a estação seca, que no Brasil corresponde ao inverno, mostrou-se mais relevante para o crescimento das árvores do que os pesquisadores inicialmente imaginavam. “Quanto maior a seca e mais alta a temperatura nessa estação, menor será a capacidade das árvores de crescer quando chegar a estação chuvosa”, alerta o botânico Giuliano Locosselli, do Instituto de Pesquisas Ambientais (ex-Instituto de Botânica) de São Paulo. “Pensávamos que a estação seca fosse apenas um período de dormência com pouca influência do clima sobre o crescimento, mas o uso das reservas de amido e açúcares durante esse período poderá determinar o quanto a árvore irá crescer  a partir da primavera.” Além de Groenendijk e de Locosselli, outros participantes de instituições paulistas que fazem parte da rede internacional de pesquisa recebem financiamento da FAPESP.

Agora é a vez das florestas

As mudanças do perfil e na composição das florestas decorrentes do aumento da temperatura devem ser mais intensas em suas bordas, como na transição da Amazônia para o Cerrado ou em regiões já submetidas à escassez de água como a Caatinga. Groenendijk, porém, ressalta: “Pode ser que as florestas não tenham tempo de se adaptar. A transformação causada pelo desmatamento e pelas mudanças no uso do solo é muito mais intensa e rápida do que as causadas pelas mudanças do clima e do regime de chuva”.

Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.


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