Loja
Apoio: Roche

Saiba onde descartar seus resíduos

Verifique o campo
Inserir um CEP válido
Verifique o campo

Consumo de carne carrega consigo o enriquecimento de lobistas capazes de subverterem ciência médica em prol dos seus interesses

Qual vegetariano ou vegano nunca escutou, até mesmo de médicos, que não comer carne poderia gerar deficiência de proteínas ou até mesmo anemia? Além disso, qual homem que optou por reduzir seu consumo de carne não teve sua masculinidade colocada em questão em uma roda de amigos? 

Mulher vegana, você é maioria no movimento

Mas, e se o jogo virasse e seu médico recomendasse a você cessar imediatamente o consumo de carne sob o risco de você ter um infarto fulminante, desenvolver câncer no intestino ou morrer por um desastre ambiental causado pelas mudanças climáticas agravadas pelas práticas da pecuária? 

Apesar de estudos recentes começarem a revelar que a carne não é o novo cigarro, mas, muito pior do que ele, os lobistas do agronegócio estão fazendo de tudo (até mesmo subvertendo a ciência) para que você não tenha acesso a essa informação, como mostrou uma investigação realizada por pesquisadores da Universidade da Califórnia. 

Os papéis mostraram que quase todo o financiamento do Centro de Clareza e Liderança para Pesquisa e Conscientização Ambiental (Clear), um dos centros de pesquisa mais proeminentes, vem do agronegócio. Dado que a Clear é uma das vozes pró-consumo de carne mais proeminentes nos círculos acadêmicos, isso é mais do que suspeito.

Mulher vegana, você é maioria no movimento

De acordo com documentos obtidos independentemente pelo New York Times e pelo Unearthed, o braço investigativo do Greenpeace do Reino Unido, todo o financiamento da Clear vem do agronegócio – e em grande quantidade.

A Clear foi fundada em 2019 graças a uma doação de US$ 2,9 milhões do Institute for Feed Education and Research, ou IFeeder. O IFeeder é financiado por grandes empresas agrícolas como Tyson e Cargill. Mas o IFeeder é tecnicamente uma instituição de caridade e, como tal, significa que não precisou divulgar seu financiamento.

Após essa doação inicial, várias outras doações, algumas próximas a 200 mil dólares, vieram de membros do agronegócio, como o California Cattle Council. Isso já está se assemelhando a um conflito de interesses. Mas receber financiamento da indústria não desqualifica necessariamente a pesquisa.

Mitloehner, que é professor do Departamento de Ciência Animal da UC Davis, “coincidentemente”, talvez seja o cientista que mais defende a indústria da carne bovina. De acordo com outros cientistas, ele minimiza os impactos da agropecuária nas mudanças climáticas. 

Larva do bicho-da-seda
Afastados do veganismo, ocidentais só contam com insetivoria para sobreviver à crise ambiental, mas quem se dispõe?

“O financiamento da indústria não necessariamente compromete a pesquisa, mas inevitavelmente tem uma inclinação sobre as direções com as quais você faz perguntas e a tendência de interpretar esses resultados de uma forma que pode favorecer a indústria”, Matthew Hayek, professor assistente de estudos ambientais na Universidade de Nova York, disse ao Times. “Quase tudo o que vi nas comunicações do Dr. Mitloehner minimizou cada impacto do gado. Suas comunicações são discordantes do consenso científico, e as evidências que ele apresentou contra esse consenso não foram, a meu ver, suficientes para desafiá-lo”.

Mas este não é o fim da história; no mínimo, o Clear parece ter sido criado especificamente para minimizar o efeito que a carne bovina tem sobre o clima. Em um memorando privado obtido pelo NYT, o IFeeder observou que Mitloehner forneceria “uma voz neutra e confiável de terceiros” que poderia “mostrar aos consumidores que eles podem se sentir bem” em comer carne. 

vegan
Veganismo é a forma mais efetiva de salvar o planeta, afirmam lideranças científicas

Em outras palavras, o centro não investigou a conexão, não apresentou pesquisas, mas comunicou uma postura pré-determinada. Na verdade, uma das primeiras atividades principais do Clear foi iniciar uma campanha de nove meses chamada “Repensar o Metano”, que tinha o objetivo de mudar a opinião pública sobre o metano – um gás de efeito estufa 25 vezes mais potente que o dióxido de carbono e emitido em altas concentração pela indústria da carne bovina. Mais uma vez, mais do que suspeito.

Se isso soa um pouco familiar, bem, é um manual semelhante ao que a indústria de combustíveis fósseis [..] e a indústria do tabaco antes dela [..] têm feito. O plano é simples: você financia vozes “neutras” da academia para propagar sua mensagem e depois faz parecer que há dois lados da história. Essa abordagem simples provou ser devastadoramente eficaz e é uma das principais razões pelas quais demoramos tanto para agir sobre as mudanças climáticas [..].

A carne não é o novo cigarro, é pior do que ele 

Sem levar em consideração todo o sofrimento animal desnecessário envolvido na cadeia de produção dos derivados de animais, o consumo de carne já se mostra pior que fumar, e defender o seu consumo desenfreado deveria ser considerado um crime ambiental. 

Cidade da Holanda proíbe propagandas que incentivam consumo de carne

O Brasil é o maior exportador de carne bovina e de frango e o quarto maior de carne suína. O mercado interno também não para de crescer. Essas notícias parecem boas para os produtores, mas e para nós, os consumidores? Uma demanda tão grande de carne traz consequências, desde a construção da fazenda até a nossa saúde.

Diferente do que aqueles que argumentam que “somos o topo da cadeia alimentar” possam imaginar, o consumo de carne, no contexto em que ele é realizado atualmente, está nos levando ao ecocídio.

É verdade que a carne contém proteínas e vitaminas importantes. Mas, quando se trata da carne bovina convencional, o consumo costuma ocorrer de forma excessiva, o que já predispõe o organismo a problemas crônicos, como doenças cardiovasculares e câncer. Ademais, a carne convencional é um verdadeiro repositório de agrotóxicos. Quem pensa que o pimentão é o ganhador no quesito contaminação por agrotóxicos está muito enganado, carnes, leites e ovos estão no topo.

Isso acontece porque os agrotóxicos são lipossolúveis, o que significa que eles são atraídos pela gordura do animal. Ao passar do tempo, comendo ração de soja e milho cultivados com agrotóxicos, o animal bioacumula essas substâncias no organismo ao longo da vida, o que faz com que um pedaço de bife contenha muito mais agrotóxicos do que uma porção de soja de mesmo peso.  

Segundo um estudo de 2020, a produção de carne não tem apenas uma influência negativa nas emissões de gases do efeito-estufa, mas também na pegada hídrica, poluição e escassez de água. No que diz respeito à saúde humana, em 2015 a Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (IARC) associou o consumo de carne vermelha e carne processada ao desenvolvimento de câncer em seres humanos.

Desde 2015, a carne processada é classificada pela Organização Mundial da Saúde em um grupo de 120 cancerígenos comprovados ao lado de álcool, amianto e tabaco. De acordo com o Cancer Research do Reino Unido, se ninguém comesse carne processada ou vermelha na Grã-Bretanha, haveria 8.800 casos a menos de câncer por ano.

De acordo com um estudo publicado em 2020, o consumo excessivo de carne e produtos de origem animal pode ser prejudicial à saúde humana, com evidências relacionadas ao câncer, a doenças do coração, à doença metabólica, à obesidade, a diabetes e a episódios de acidente vascular cerebral. Além disso, o consumo de carne também promove o surgimento e a disseminação de patógenos resistentes a antibióticos.

Em termos gerais, o consumo de carne vermelha deve ser reduzido para menos de 50 gramas por dia para evitar um risco aumentado de câncer de próstata, câncer de mama ou câncer colorretal. Uma hipótese levantada pelos cientistas para justificar a associação entre a carne e o desenvolvimento de diversos tipos de câncer são os contaminantes químicos frequentemente encontrados em carnes e produtos cárneos.

Para aumentar a produção, os criadores procuram implantar o sistema intensivo ou de confinamento, colocando o maior número de animais no menor espaço possível e por um tempo mais curto, assim podem ter controle mais acurado sobre eles.

confinamento-animal
Os perigos e a crueldade do confinamento animal

O problema é que esse sistema gasta mais água e exige mais ração – feita principalmente de milho e soja, repletos de agrotóxicos – na alimentação dos animais, o que o torna um inconveniente nas questões socioambientais. 

A carne é o produto que mais emite gases do efeito estufa em sua cadeia de produção, como mostrado em gráfico a seguir (em inglês): 

É preciso reduzir o consumo de carne

Embora a produção de carne bovina seja a que mais têm recebido investimentos, cada vez mais, os pesquisadores sérios destacam a importância de reduzir o seu consumo para diminuir a pegada de carbono da alimentação.

De fato, relatórios de grande escala mostraram que, se quisermos evitar mudanças climáticas catastróficas, desistir de comer carne é crucial. Reduzir consumo de carne vermelha é mais efetivo contra gases-estufa do que deixar de andar de carro.

Algumas pesquisas relatam diferenças significativas nas emissões de carbono de dietas que incluem carne e dietas vegetarianas. Um estudo de 2014, por exemplo, concluiu que dietas ricas em carne emitem 7,19 equivalentes de dióxido de carbono por dia, enquanto uma dieta vegetariana emite somente 3,81 – ou seja, uma redução de quase metade das emissões de gases do efeito-estufa. A diminuição é ainda menor quando se trata de dietas veganas, que emitem somente 2,89 de CO2 por dia. Mas os lobistas do agronegócio não querem que você tenha acesso a essas informações, aparentemente, sob o risco de perderem seus lucros.


Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos. Saiba mais