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Reducetarianismo faz bem para saúde, meio ambiente e animais, mas ainda encontra barreiras culturais

Reducetarianismo, segundo a Fundação Reducitariana, é um movimento político em que seus adeptos reduzem o consumo de produtos de origem animal, como ovos, leite e carne. De acordo com a organização, reduzir o consumo desses itens faz bem para saúde, meio ambiente e os animais. 

Por que consumimos animais?

Os benefícios de reduzir o consumo de alimentos de origem animal são comprovados por uma série de estudos científicos. Inclusive, alguns cientistas defendem que aderir a um estilo de vida vegano (que vai além da dieta) é a única forma de salvar o planeta. 

Mas por que a humanidade segue explorando os animais? Especialistas do tema afirmam que isso é uma mistura de reminiscências da evolução, marketing e cultura. 

As pessoas são atraídas pelo cheiro da madeira defumada do churrasco, e há uma abundância de alimentos processados e fast food a preço baixo, além do próprio valor cultural que a sociedade atribui ao consumo de carne. 

Mulher vegana, você é maioria no movimento

Por que aderir ao reducetarianismo?

De acordo com os adeptos do reducetarianismo, se você ainda não é vegano ou vegetariano, e acha que é difícil aderir a esses estilos de vida, é importante que você repense seu consumo de produtos de origem animal. 

Os reducitarianistas defendem que uma redução de apenas 10% dos produtos de origem animal já pode representar benefícios para a saúde individual, para o meio ambiente e bem-estar animal. 

De acordo com relatório do IPCC, consumir menos produtos de origem animal deveria ser um hábito adotado por toda a sociedade, não só por ser uma prática de compaixão pelos animais, mas também porque, segundo o relatório, o vegetarianismo estrito reduz a emissão de gases do efeito estufa, a degradação ambiental e o risco à segurança alimentar.

Um outro estudo, publicado na revista The Lancet, concluiu que a produção e o consumo de alimentos de origem animal devem ser reduzidos drasticamente para evitar milhões de mortes humanas e danos catastróficos para o planeta.

Ser vegetariano ainda pode resultar em uma vida mais longa, de acordo com um estudo publicado no periódico JAMA Internal Medicine. Segundo a pesquisa, realizada por profissionais da Universidade Adventista do Sétimo Dia de Loma Linda, nos Estados Unidos, quem é vegetariano estrito (que só come vegetais e fungos, como é o caso dos veganos) tem um risco 15% menor de morte, enquanto quem é ovolactovegetariano (que têm uma dieta baseada em vegetais, ovos, leite e produtos derivados destes) têm um risco de morte 9% menor que pessoas que comem carnes.

Outros estudos ainda descobriram que, em populações de baixo risco, aderir a uma dieta vegana reduz o risco de câncer em geral.

Uma pesquisa mais antiga sugere que uma dieta vegetariana estrita ainda pode diminuir os sintomas da asma. Mas não para por aí. Uma revisão de 25 estudos concluiu que uma dieta com redução nos produtos de origem animal contribui para a redução do risco de obesidade e diabetes tipo 2.

Além disso, quem consome menos produtos derivados de animais está menos exposto a agrotóxicos. Uma análise mostrou que há uma maior presença de agrotóxicos no leite materno de mulheres onívoras em relação às vegetarianas, o que pode ser explicado pela característica lipossolúvel (capacidade de se misturar com gordura corporal) dos agrotóxicos, que se bioacumulam no organismo dos animais — que consomem ração produzida com agrotóxicos — e, consequentemente, nos humanos que consumiram esses animais.

Em relação aos benefícios ambientais, reduzir o consumo de carne e outros produtos derivados de animais diminuiria a pressão sobre as terras agrícolas. Em um hectare de terra, por exemplo, é possível plantar 42 mil a 50 mil pés de tomate ou produzir apenas uma média de 81,66 Kg de carne bovina por ano. Assim, a alimentação vegetariana estrita estimula a diminuição do desmatamento.

A economia de água também é significativa, já que para se produzir um quilo de soja (que é fonte de proteína completa), são gastos 500 litros de água, enquanto para um quilo de carne bovina, são necessários 15 mil litros.

Estudos mostraram que reduzir o consumo de produtos derivados de animais alivia a pressão sobre o uso da terra (1, 2) e pode ser essencial para evitar impactos ambientais negativos, como a grande expansão agrícola (3).

Para piorar a reputação de quem ainda consome carne, a disseminação do coronavírus a nível mundial foi associada ao abate de animais. Uma pesquisa mostrou que os frigoríficos são os principais focos de coronavírus. 

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É viável?

Há quem duvide dos benefícios gerados pela mudança de hábitos individuais. Entretanto, o vegetarianismo estrito ou o reducitarianismo parecem cada vez mais realidade. 

No Brasil, uma pesquisa do Ibope Inteligência, realizada em 2018, mostrou que 14% da população não consome proteína de origem animal, um aumento de 75% em comparação com a mesma pesquisa feita em 2012. 

A maior dificuldade encontrada para deixar de acreditar que consumir os animais faz bem parece ser o machismo. 

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Dieta machista?

Segundo a autora do livro “Política Sexual da Carne“, a dieta baseada em produtos de origem animal é reforçada pela cultura do patriarcado. Carol Adams defende que é impossível ser homem sem comer carne. Para a autora, consumir proteína animal contribui para manter a virilidade, que inclui características como força e robustez.

Em contrapartida, comer vegetais define o feminino. Mas, biologicamente isso não faz o menor sentido, já que uma pesquisa mostrou que o desempenho físico de mulheres veganas é maior do que o de mulheres que consomem produtos derivados de animais. 

Além disso, estudos recentes vêm questionando o mito da “natureza” caçadora dos homens. Uma pesquisa revelou que as mulheres estavam entre as primeiras pessoas a caçarem nas Américas. 

Ingerir derivados de animais é, culturalmente, uma forma de mostrar superioridade em relação aos animais e às mulheres. E essa suposta supremacia masculina é passada e reforçada cotidianamente por meio da linguagem. No Brasil,  por exemplo, para ofender uma mulher é comum chamá-la de fêmea de outras espécies como “galinha”, “vaca”, “piranha” e “cachorra”. Nessa lógica, os homens que não consomem animais são afeminados, gays e fracos.

O professor de Geografia Humana na Universidade de Newcastle Dr. Michael J Richardson também defende que a dieta baseada em proteína animal está relacionada à masculinidade tóxica. Em entrevista à Euronews, ele diz: “Minha experiência como amante de esportes, jogador de futebol, jovem, homem branco heterossexual era totalmente esperada no grupo de amizade… mas como qualquer outro desafio às estruturas de masculinidade hegemônica, uma vez declarado vegano, as acusações imediatas de fraqueza e homossexualidade vêm à tona.”

Na cultura americana é comum que homens que passam a reduzir seu consumo de carne sejam chamados de “meninos de soja”, o termo ganhou força com comentaristas de extrema direita que buscavam se distanciar de qualquer coisa considerada “feminina” ou “fraca”.

Um estudo da Universidade de Southampton mostrou que mesmo que os homens estejam interessados ​​em comer menos carne, sem aceitação do grupo social isso ainda pode ser uma escolha difícil. De forma complementar, outro estudo de 2018 descobriu que conceitos como “virilidade” e “poder” faziam parte da relação que nós, como espécie, temos com comer carne e estereótipos masculinos convencionais.Muitos homens estão interessados ​​em comer menos carne e demonstrar práticas de compaixão pelos animais, mas eles precisam de permissão social para isso — e à medida que mais homens decidem aderir ao reducetarianismo ou à uma vida vegana, essa decisão se torna mais fácil para outros homens.


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