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As larvas de Tenebrio molitor são capazes de biodegradar plástico

Tenebrio molitor é o nome científico dado ao besouro de hábitos noturnos conhecido como bicho-da-farinha. Apesar do nome popular fazer referência às infestações de grãos armazenados pela sua fase adulta, esta espécie de besouro é mais conhecida por sua fase larval. A larva-da-farinha é utilizada na alimentação de animais, mas tem se tornado mais comum na alimentação humana e pode ser um caminho para solucionar os problemas de gestão de resíduos plásticos.

Enquanto o besouro adulto mede entre 1,25 e 1,8 centímetros, suas larvas medem cerca de 2,5 centímetros de comprimento. A longevidade dos adultos pode variar entre 25 e 60 dias a depender da sua alimentação, sendo esta geralmente composta por farelo de trigo. Já a duração da fase larval pode ser de até 90 dias. O Tenebrio molitor se desenvolve em ambiente seco e escuro, idealmente em temperaturas entre 26 e 32ºC (1, 2).

Para que serve o Tenebrio molitor?

Assim como as larvas de Zophobas morio, as larvas de Tenebrio molitor são comumente utilizadas na alimentação de pássaros e répteis. Estas mesmas larvas, no entanto, representam uma possibilidade para inovação na gestão de resíduos plásticos. 

Pesquisadores da Universidade de Stanford, nos EUA, em conjunto com Jun Yang e outros pesquisadores da Universidade de Beihang, na China, descobriram que o Tenebrio molitor, quando larva, pode viver a partir de uma dieta de isopor e de outras formas de poliestireno.

Metade do isopor consumido pelas larvas do estudo foi convertida em dióxido de carbono, assim como aconteceria com qualquer outra fonte de alimento. Porém, o material excretado era similar a fezes de coelho e poderia ser utilizado como fertilizante para plantações.

Antes desse estudo, achava-se que o isopor, um produto extremamente problemático para o meio ambiente, não poderia ser biodegradado. Mas os microrganismos presentes no sistema digestivo das larvas produzem enzimas capazes de biodegradar o plástico. Descobrir quais são as condições favoráveis para a degradação do plástico por estas enzimas pode ajudar cientistas a criar enzimas mais poderosas na degradação do plástico e guiar fabricantes a desenvolver polímeros que não acumulam-se no meio ambiente ou na cadeia alimentar de diversos ecossistemas.

Larvas podem biodegradar diversos tipos de plástico

Em um outro estudo, foi observado que o isopor não é o único plástico que as larvas de Tenebrio molitor se alimentam, e que os adultos da espécie também são capazes de devorar esses materiais. Neste estudo, além do isopor, a espuma de polietileno e dois tipos de poliuretano (incluindo uma esponja de lavar louça) foram consumidos de forma altamente eficaz pelo bicho-da-farinha

Porém, o estudo obteve variações entre 31,7% e 45,5% de resíduos plásticos (microplásticos) presentes nas excretas dos animais, o que indica a necessidade de investigar os caminhos enzimáticos para que ocorra a biodegradação destes plásticos de forma efetiva.

Humanos podem comer Tenebrio molitor?

Em 2021, o Painel sobre Nutrição do EFSA (Autoridade Europeia de Segurança Alimentar) aprovou o consumo humano da larva-da-farinha. Para o Painel, o consumo destas larvas só deve ser evitado por pessoas com alergias a crustáceos, a ácaros ou ao alimento oferecido às larvas. A organização também realça que deve-se evitar a contaminação do alimento das larvas, para que estas se mantenham seguras para o consumo humano. 

Após esta decisão, a empresa Ÿnsect, que já cultivava as larvas para a produção de óleos e pós para serem utilizados como aditivos de rações, passou a vendê-los para a produção de shakes, barras de cereais, massas e até hambúrgueres plant-based. Adicionalmente, os exoesqueletos vazios passaram a ser coletados para serem vendidos como adubo orgânico.

Larvas nutritivas

As larvas de Tenebrio molitor apresentam um elevado teor de proteínas (cerca de 18%) e de lipídeos (10%), além de serem fontes de ácidos graxos e aminoácidos essenciais. Seus principais ácidos graxos são o oleico (37,8%) e o linoleico. Dentre os minerais, as larvas-da-farinha são fonte de fósforo, magnésio e zinco. Além disso, com exceção da lisina, as larvas apresentam todos aminoácidos essenciais acima da quantidade diária recomendada (3).

Outra característica das larvas é sua baixa quantidade de sódio e o potencial inibitório da enzima conversora de angiotensina de suas proteínas, o que as tornam uma opção para o desenvolvimento de alimentos funcionais anti-hipertensivos (4).

Alternativa à pecuária

Exemplo de produto alimentício para consumo humano contendo larvas de Tenebrio molitor. Imagem por kiliweb, licenciado sob Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0, via Open Food Facts

Por conta deste perfil nutricional e sua fácil criação, as larvas do bicho-da-farinha são consideradas uma maneira de reduzir a insegurança alimentar

Para além disso, essas larvas podem ser uma alternativa de proteína animal relevante no contexto das mudanças climáticas, pois a emissão de gases do efeito estufa, assim como o consumo de água pelas larvas de Tenebrio molitor é significantemente menor que para a criação de gado. De forma que a pegada de carbono e a pegada hídrica dos alimentos produzidos a partir destas larvas são mínimas em comparação à atividade pecuária.

Apesar de não haver regulamentação da Anvisa do uso de insetos para a alimentação humana, é possível encontrar criadores artesanais que utilizam insetos na produção de biscoitos e chocolates para o consumo humano (5).


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