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Hábitos saudáveis dos Tsimane estão relacionados a cérebros e corações mais saudáveis na velhice

A chave para a longevidade saudável pode estar nos Tsimane, povo indígena que habita a floresta amazônica no norte da Bolívia. É o que indica um novo estudo, publicado em maio na revista científica The Journals of Gerontology e conduzido por pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos. O segredo dos Tsimane? Alimentação saudável e muita atividade física.

Ainda que tenhamos acesso aos melhores cuidados médicos, às tecnologias mais modernas e a hospitais muito bem-equipados, o sedentarismo e as dietas ricas em gorduras saturadas ainda são o grande desafio do nosso tempo para conquistar um estilo de vida saudável. Em contrapartida, os Tsimane têm pouco ou nenhum acesso a cuidados de saúde, mas são ativos fisicamente e seguem uma dieta rica em fibras, que inclui vegetais, peixes e carne magra.

Dados da Organização Mundial da Saúde divulgados em 2017 apontaram que o número de jovens obesos no mundo, com idade de cinco a 19 anos, aumentou mais dez vezes nas últimas quatro décadas, passando de 11 milhões em 1975 para 124 milhões em 2016. Na época, a ONU descreveu o problema como “uma crise mundial de saúde”.

O Brasil segue a mesma tendência. Nos últimos 35 anos, a prevalência da obesidade subiu de 5,4% para 21% da população. A situação preocupa, porque sedentarismo e índices de gordura corporais mais altos estão diretamente associados ao desenvolvimento de doenças graves, como diabetes, insuficiência cardíaca, disfunções pulmonares, doenças cardiovasculares, pressão alta, dificuldades respiratórias, apneia do sono e até alguns tipos de câncer.

Para piorar, de acordo com estudos publicados na revista Lancet, nos últimos 30 anos nenhum país conseguiu elaborar estratégias para reverter a epidemia global de obesidade de forma consistente. Mas a boa notícia é que os pesquisadores da Universidade do Sul Califórnia apostam que os Tsimane podem nos oferecer alguns insights bastante úteis para resolver o problema.

Hábitos dos Tsimane revelam como o estilo de vida ocidental é prejudicial

“Os Tsimane nos forneceram um experimento natural incrível sobre os efeitos potencialmente prejudiciais dos estilos de vida modernos sobre nossa saúde”, disse, ao jornal da universidade, Andrei Irimia, um dos autores do estudo e professor assistente de gerontologia, neurociência e engenharia biomédica na Escola de Gerontologia Leonard Davis e da Escola de Engenharia da instituição. Segundo ele, as descobertas da equipe sugerem que a atrofia do cérebro pode ser substancialmente retardada pelos mesmos fatores de estilo de vida associados a um risco muito baixo de doenças cardíacas.

Os pesquisadores inscreveram 746 adultos Tsimane, com idades entre 40 e 94 anos, no estudo. Para adquirir tomografias cerebrais, eles forneceram transporte para os participantes de seus vilarejos remotos até Trinidad, na Bolívia, a cidade mais próxima com equipamentos de tomografia computadorizada. Essa viagem pode durar até dois dias inteiros, com viagens por rio e estrada.

A equipe usou as varreduras para calcular os volumes cerebrais e, em seguida, examinou sua associação com a idade para Tsimane. Depois, eles compararam esses resultados aos de três populações industrializadas nos EUA e na Europa.

Os cientistas descobriram que a diferença nos volumes cerebrais entre a meia-idade e a velhice é 70% menor nos Tsimane do que nas populações ocidentais. Esse dado sugere que os cérebros do Tsimane provavelmente sofrem muito menos atrofia cerebral do que os ocidentais à medida que envelhecem. Vale lembrar que a atrofia está correlacionada com o risco de comprometimento cognitivo, declínio funcional e demência.

Os pesquisadores observaram que os Tsimane têm altos níveis de inflamação, que é tipicamente associada à atrofia cerebral em ocidentais. No entanto, o estudo indica que a inflamação elevada não tem um efeito pronunciado sobre os cérebros dos Tsimane.

De acordo com os autores, os baixos riscos cardiovasculares do Tsimane podem superar o risco inflamatório causado por infecções, levantando novas questões sobre as causas da demência. Uma possível razão é que, nos ocidentais, a inflamação está associada à obesidade e a causas metabólicas, ao passo que, no Tsimane, ela provavelmente é causada por infecções respiratórias, gastrointestinais e parasitárias. As doenças infecciosas são a principal causa de morte entre os Tsimane.

“Nosso estilo de vida sedentário e dieta rica em açúcares e gorduras podem estar acelerando a perda de tecido cerebral com a idade e nos tornando mais vulneráveis ​​a doenças como Alzheimer”, explica Hillard Kaplan, coautor do estudo e professor de economia da saúde e antropologia da Universidade Chapman. Kaplan, que estudou o Tsimane por quase duas décadas, garante que os hábitos desse povo indígena podem servir como base para revelar a chave do envelhecimento cerebral saudável.

Corações e cérebros mais saudáveis

Os Tsimane chamaram a atenção dos cientistas quando um estudo anterior, publicado em 2017 na Lancet, revelou que eles tinham corações extraordinariamente saudáveis ​​na velhice.

Esse estudo mostrou que os Tsimane apresentam a menor prevalência de aterosclerose coronariana de qualquer população conhecida pela ciência e que exibem poucos fatores de risco para doenças cardiovasculares. A taxa muito baixa de doenças cardíacas entre os cerca de 16 mil Tsimane está, muito provavelmente, relacionada ao estilo de vida pré-industrial de subsistência, que inclui caça, coleta, pesca e agricultura.

Para Kaplan, os novos dados demonstram que o povo Tsimane se destaca não apenas em termos de saúde do coração, mas também do cérebro. Segundo ele, as descobertas sugerem amplas oportunidades para intervenções para melhorar a saúde do cérebro, mesmo em populações com altos níveis de inflamação.


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