Entenda mais sobre a água-viva, um animal complexo e, ao mesmo tempo, simples
O termo água-viva é usado para descrever qualquer membro marinho planctônico da classe Scyphozoa (filo Cnidaria), ou da classe Cubozoa. O termo também é frequentemente aplicado a alguns outros cnidários que pertencem à classe Hydrozoa — animais que têm forma de corpo medusoide (em forma de sino).
Embora a nomenclatura seja utilizada em diversos animais, muitas águas-vivas não são semelhantes umas às outras. Segundo a National Geographic, elas não apenas ocupam ramos díspares da árvore genealógica dos animais, mas também vivem em habitats diferentes. Enquanto algumas habitam a superfície do oceano, outras preferem as profundezas.
O que as juntam no mesmo grupo é uma característica importante desses animais — seus corpos “gelatinosos”. Existem cerca de 2 mil espécies conhecidas de água-viva.
Características
Animais marinhos invertebrados, as águas-vivas são caracterizadas por manter uma anatomia relativamente simples. Elas não possuem cérebros, ossos, corações ou sangue e seus corpos são compostos de 95% de água.
São compostas por três camadas:
- Uma camada externa, chamada epiderme;
- Uma camada intermediária feita de uma substância espessa, elástica e gelatinosa, chamada mesogleia;
- Uma camada interna, chamada gastroderme.
Adicionalmente, possuem um sistema nervoso que permite que os animais cheirem, detectem luz e respondam a outros estímulos e uma cavidade digestiva que atua tanto como estômago quanto como intestino, com uma abertura para a boca e o ânus.
Devido à história evolutiva diversificada do animal, cada espécie de água-viva possui uma grande variedade de formas, tamanhos e comportamentos. Além disso, podem se reproduzir sexualmente e assexuadamente.
Porém, uma das principais características desses animais são seus tentáculos, que possuem células urticantes conhecidas como cnidócitos. Essas são usadas tanto para capturar presas quanto como mecanismo de defesa.
Picada da água-viva
Os cnidócitos são pequenos compartimentos que abrigam um mini ferrão em forma de agulha. Quando uma força externa aciona um ferrão, a célula se abre, deixando a água do oceano entrar. Isso faz com que o ferrão atire no que desencadeou a ação; uma vez lá, o veneno é liberado.
Embora a gravidade das picadas varie, em humanos a maioria das picadas de água-viva resulta apenas em um pequeno desconforto. No entanto, algumas também podem causar a morte.
Esse é o caso da picada da vespa-do-mar. A vespa-do-mar é uma espécie de água-viva encontrada em águas costeiras do norte da Austrália e Nova Guiné à Indonésia, Camboja, Malásia e Cingapura, Filipinas e Vietnã. O animal é conhecido como o ser vivo mais venenoso do mundo e sua picada libera um veneno que faz o coração se contrair.
O que fazer se for queimado por água-viva?
Apesar de ser comumente confundida com uma queimadura, o efeito do veneno da água-viva é resultante de uma picada. Ela pode apresentar os seguintes sintomas:
- Dor ardente, formigante e pungente
- Vergões ou marcas na pele – uma “impressão” do contato dos tentáculos com a pele
- Coceira
- Inchaço
- Dor latejante que irradia para uma perna ou braço
Porém, as picadas podem apresentar efeitos diferentes em organismos diferentes. Alguns indivíduos podem apresentar sintomas mais severos, como:
- Dor de estômago, náuseas e vômitos
- Dor de cabeça
- Dor muscular ou espasmos
- Desmaios, tonturas ou confusão
- Dificuldade ao respirar
- Problemas cardíacos
De acordo com o NHS, do Reino Unido, o protocolo para tratar picadas de águas-vivas inclui:
- Enxaguar a área afetada com água do mar (não água doce)
- Remover quaisquer espinhos da pele usando uma pinça ou a borda de um cartão de banco
- Mergulhar a área em água muito quente (o mais quente que puder ser tolerado) por pelo menos 30 minutos – use flanelas e toalhas quentes se não puder molhar
- Administração de analgésicos
Em caso de sintomas mais graves, consulte um médico.
Qual é a função da água-viva?
Em geral, as águas-vivas possuem um papel fundamental na cadeia alimentar marinha. De fato, uma pesquisa publicada no Frontiers comprovou que esses animais servem de alimento para algumas espécies de zooplâncton que se adaptaram a uma dieta onívora.
“Aqui mostramos pela primeira vez que as águas-vivas – consideradas tipicamente pobres em nutrientes – são, no entanto, uma importante fonte de alimento para os anfípodes durante a noite polar do Ártico”, disse Annkathrin Dischereit, estudante de doutorado no Instituto Alfred Wegener, na Alemanha, e primeiro autor do artigo.
“Por exemplo, encontramos evidências de que alguns anfípodes se alimentam de ‘cachoeira de gelatina’, carcaças de águas-vivas naturalmente afundadas. Outras espécies também podem atacar águas-vivas vivas.”
No entanto, embora sua importância, esses animais também sofrem em consequência à ação humana, como as mudanças climáticas. Por exemplo, o aumento da temperatura no Lago das Medusas de Palau, no Pacífico Sul, tem sido associado ao desaparecimento da espécie Mastigias papua.
A proliferação de águas-vivas também é frequentemente seguida por quebras nas suas populações, que são causadas por vários fatores sobrepostos, como escassez de alimentos, predação, parasitas, doenças, clima e encalhamento nas praias.