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Muitos especialistas têm comparado o papel do açúcar no crescente número de casos de obesidade com o cumprido pelo tabaco na carcinogenicidade das décadas de 1950 e 1960

Todo mundo sabe que o açúcar faz mal à saúde. Seu consumo exagerado é visto como a causa principal de diversas condições… A solução é maneirar na ingestão e utilizar alternativas sintéticas (adoçantes), certo? Ao que parece, não. O problema é que nem o tal consumo moderado pode ser suficiente para que nos livremos de seus perigos.

O que torna o açúcar perigoso

Olhando as diversas prateleiras de um supermercado é difícil achar um alimento que não possua algum tipo de açúcar. Isso não quer dizer que esse tipo de produto não exista, mas apenas que são difíceis de serem encontrados. Quem já teve contato com crianças sabe muito bem o efeito de alimentos e bebidas adocicadas no nível de energia dos pequenos.

O açúcar que conhecemos, proveniente da cana-de-açúcar e beterraba, é a sacarose. Ela é composta por duas moléculas, uma responsável pela produção de energia no corpo, a glicose; e a frutose, muito encontrada em frutas.

Por que a frutose do açúcar é perigosa?

A glicose é uma das principais fontes de energia do corpo. Quando ingerimos alimentos, o corpo absorve diferentes componentes para auxiliar em suas funções, a glicose é uma delas.

Segundo Patrick Skerret, da Harvard Health Publications, qualquer célula do corpo é capaz de quebrar glicose para conseguir energia. A frutose, no entanto, só pode ser quebrada por células hepáticas, as células do fígado.

Devido à presença da frutose em grande parte dos alimentos, muitas vezes o seu consumo é maior do que a capacidade do fígado de metabolizá-la. Isso faz com que o pâncreas passe a produzir mais insulina, o hormônio de armazenamento de energia. A insulina transforma a frutose em triglicérides, uma forma de gordura. No entanto, alto níveis de insulina podem bloquear a ação da leptina no corpo, o hormônio responsável pela saciedade que diz ao cérebro quando parar de comer.

O problema da formação de triglicérides no fígado está na fácil formação destes devido à quantidade significativa de frutose consumida. O excesso de triglicérides no fígado pode resultar em danos na função do fígado, como a esteatose hepática ou gordura no fígado, pode auxiliar na formação de placas de gorduras nas artérias.

gordura no fígado
Gordura no fígado: o que é, causas e sintomas

Robert Lustig, famoso pela palestra “Sugar: The Bitter Truth“, que hoje conta com milhões de visualizações no YouTube, é um endocrinologista infantil da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, especializado em obesidade infantil, conhecido por suas críticas não só ao açúcar mas a alimentos processados.

alimentos ultraprocessados e processados
Conheça alimentos processados e ultraprocessados

Lustig é o maior defensor da taxação de bebidas açucaradas e caracteriza o açúcar como uma “caloria tóxica” ao corpo. Na palestra ministrada, o endocrinologista afirma que o consumo de açúcar é responsável, no mundo todo, pela formação de gordura no fígado, resistência a insulina, diabetes tipo dois e obesidade, especialmente em crianças.

E a frutose das frutas?

O aspecto nocivo da frutose é visto com dúvida devido a ligação que muitos fazem com frutas. Afinal, se frutas fazem bem à saúde, como o açúcar presente em frutas pode ser ruim? De fato, segundo Lustig, o que faz das frutas uma magnífica exceção para os efeitos nocivos da frutose é a presença de fibras. Para o endocrinologista, as frutas contêm fibras solúveis e insolúveis que são capazes de controlar a maneira como o açúcar é absorvido pelo corpo, protegendo o intestino e o fígado. A única forma de consumo de frutas não recomendada é em sucos, segundo o endocrinologista, que é quando perdemos as fibras.

Patrick Skerret complementa a fala de Lustig ao mencionar que, apesar da frutose nas frutas, o problema é a quantidade de açúcar consumido. A frutose no consumo de uma fruta não se compara à quantidade presente em todos os alimentos que consumimos diariamente. Isso aponta para um dos maiores perigos do açúcar: sua ubiquidade.

Xarope de milho e de frutose
Xarope de milho e de frutose: gostosos, mas cuidado

Outro empecilho é a dificuldade em identificar o açúcar em alimentos. Confira um infográfico do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) sobre o consumo de açúcar publicado na matéria “Infográfico mostra os perigos do açúcar e como diminuir seu consumo

Infográfico mostra os perigos do açúcar e como diminuir seu consumo

Porque a comparação com o tabaco?

Críticos, em grande parte membros da indústria do açúcar, acreditam que a comparação entre o cigarro e o açúcar é um equívoco. Afinal, o primeiro representa a inalação constante de uma fumaça tóxica, enquanto o outro pode ser representado por um inofensivo pudim. Mas será que é tão inofensivo assimw

Comportamento da indústria

Em 1994, um escândalo se desenrolou nos Estados Unidos. Documentos internos de uma das maiores empresas de cigarros do país foram enviados a um pesquisador na Universidade da Califórnia. Nele estavam memorandos internos e pesquisas financiadas pela empresa que provavam, anos antes da informação ir à público, sobre as qualidades viciantes e os danos do cigarro para a saúde.

Lustig afirma que, devido à devastação do Furacão Allen, a produção de açúcar no Caribe foi devastada, levando à ascensão do preço do açúcar. Isso fez com que empresas como a Coca-Cola investissem no xarope de milho de alta frutose ou xarope de frutose para substituir o açúcar de seus produtos. Inventado pelos japoneses alguns anos antes, a alternativa era mais barata e logo foi utilizada em produtos por diversas empresas do setor alimentício, como refrigerantes, sucos prontos para consumo (suco de caixinha), condimentos (ketchup, mostarda), frutas em conserva (enlatadas), geleias, doces pastosos, bolos, pudins, pó para bebidas.

Segundo o The New Yorker, em um caso desmascarado por Cristin Kearns, pós doutoranda da Universidade da Califórnia, em São Francisco, documentos descobertos apontam uma tentativa da indústria em esconder os riscos do açúcar ao mesmo tempo em que embarcava em um esforço sistêmico, por meios científicos, legislativos e educacionais, a fim de incentivar o público dos Estados Unidos a consumir mais açúcar e menos gordura. O objetivo da indústria açucareira, segundo James Surowiecki, autor do artigo, era não só causar incerteza em relação ao consumo do açúcar, como havia ocorrido com o tabaco anteriormente, mas também direcionar toda a culpa da doença arterial coronariana para a gordura, vilã nutricional durante a década de 80.

Action on Sugar

Para ativistas e pesquisadores, o melhor caminho para diminuir o consumo de açúcar seria seguir o exemplo feito com os cigarros – o consumo baixou a partir de taxas, campanhas e e menor disponibilidade dos produtos.

Especialistas britânicos se juntaram para criar a associação Action on Sugar (em tradução livre, Ação Sobre Açúcar), que tem como objetivo alertar a população sobre os perigos do consumo de açúcar em excesso e também cobrar as autoridades para que elas adotem medidas para reduzir a obesidade na Inglaterra.

Uma das medidas propostas pela Action on Sugar é a redução da quantidade de açúcar nos refrigerantes. No começo do ano de 2016, o titular das finanças do Reino Unido anunciou que começaria a cobrar impostos sobre a venda de refrigerantes em combate à obesidade no país. Muitos fabricantes, porém, são contra essa medida, alegam que o aumento nos casos de obesidade ocorre por causa da ingestão de calorias e gorduras, não apenas pelo açúcar.

Há também quem apoie a medida, como o diretor de Serviço Nacional de Saúde na Inglaterra, Simon Stevens, que acredita que essa medida fará com que as empresas mudem as fórmulas das bebidas dando um bom exemplo para o resto do mundo. Porém, a Inglaterra não é a pioneira neste domínio; o México – maior consumidor de refrigerantes do mundo – aprovou um projeto parecido em 2013. A publicação Reader’s Digest do Canadá apontou uma queda nas vendas em países que implementaram taxas em bebidas açucaradas. O México viu um declínio de 12% em suas vendas de bebidas.

OMS

A Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu à seus países membros que tomem ação para diminuir o consumo de bebidas açucaradas na esperança de combater a obesidade, diabetes e cárie dentária. A organização pede:

  • Subsídios para frutas frescas e vegetais;
  • A tributação de alimentos e bebidas, em particular aqueles ricos em gorduras saturadas, gordura trans, açucares livres e/ou sal;
  • Impostos especiais de consumo como os aplicados em cigarros;
  • As receitas obtidas a partir dos impostos especiais seriam destinadas a melhorar sistemas de saúde, encorajar alimentação saudável e atividades físicas. Assim, a iniciativa teria o apoio público para o aumento.

A nova guia de consumo de açúcar da OMS recomenda um consumo de seis colheres de açúcar por dia, aproximadamente 25 gramas. Uma lata de refrigerante de 350 possuí em média 30 gramas de açúcar.

Confira o vídeo com os pontos mais marcantes do documentário Fed Up, disponível no serviço de streaming Netflix.


Fontes: Huffington PostHarvard Health PublicationsHuffPost BrasilReader’s DigestOrganização Mundial da Saúde



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