Estudo revela que o reflorestamento tem impacto maior do que se pensava, especialmente nos trópicos, mas depende de estratégias complementares
A restauração de florestas em escala global pode reduzir a temperatura média da Terra em 0,34°C, segundo um estudo da Universidade da Califórnia em Riverside. Esse efeito, porém, não é suficiente para compensar o aquecimento causado pela queima de combustíveis fósseis. A pesquisa, publicada na Communications Earth & Environment, destaca que, embora o plantio de árvores seja uma ferramenta poderosa, ele deve ser combinado com a redução drástica das emissões de carbono.
O estudo analisou o impacto de recuperar 12 milhões de quilômetros quadrados de florestas, área equivalente a 135% do território dos Estados Unidos. Desde o século 19, o planeta perdeu quase metade de suas árvores, cerca de 3 trilhões, devido à expansão agrícola e urbana. Mesmo que todas fossem replantadas, o resfriamento seria apenas parcial.
Além de absorver CO₂, as árvores influenciam a química da atmosfera. Elas emitem compostos orgânicos voláteis (BVOCs), que reagem com outros gases, formando partículas que refletem a luz solar e estimulam a formação de nuvens. Esses mecanismos ampliam o efeito de resfriamento, um aspecto pouco considerado em modelos climáticos tradicionais.
Os benefícios, no entanto, variam conforme a região. Florestas tropicais são mais eficientes, pois absorvem carbono rapidamente e emitem mais BVOCs. Já em latitudes mais altas, o escurecimento da superfície pelo plantio de árvores pode, em alguns casos, contribuir para o aquecimento.
O reflorestamento também afeta a qualidade do ar. No hemisfério norte, o estudo projetou uma queda de 2,5% na poeira atmosférica. Nos trópicos, os BVOCs aumentaram a formação de aerossóis, piorando a qualidade do ar em algumas métricas, mas melhorando em outras, como os níveis de ozônio.
Os pesquisadores ressaltam que iniciativas locais já fazem diferença. Pequenos projetos de restauração podem melhorar climas regionais sem exigir ações em larga escala. Um exemplo é Ruanda, onde a proteção de florestas gera receita turística, beneficiando comunidades e desestimulando o desmatamento.
Apesar do potencial, desafios persistem. Recuperar áreas originalmente florestais exigiria realocar terras agrícolas e urbanas, o que impactaria a segurança alimentar. Decisões sobre onde e como replantar são essenciais, com prioridade para os trópicos, onde o desmatamento ainda avança.
O estudo surgiu de um curso de modelagem climática na UC Riverside e evoluiu para uma análise abrangente. Seu recado é claro: replantar florestas é parte da solução, mas não dispensa o abandono dos combustíveis fósseis. Cada passo na direção da restauração conta, mas o combate às mudanças climáticas exige ações múltiplas e urgentes.