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Entenda o que é a gentrificação verde e conheça os exemplos desse fenômeno no Brasil

Gentrificação verde é um processo de exclusão social pautado na mercantilização de espaços com infraestrutura ambientalmente amigável, também chamada de infraestrutura verde. 

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A expressão foi cunhada com o propósito de chamar atenção para a necessidade de justiça ambiental no espaço urbano. A gentrificação verde opera de forma autoritária, excluindo operários e pessoas pertencentes às classes baixas do usufruto das melhores condições socioambientais existentes, muitas vezes com o uso da força. Por isso, também pode ser conhecida como uma forma de ecofascismo. 

Quem criou o conceito de gentrificação?

“Gentrificação” tem origem no termo inglês gentry, que foi cunhado pela socióloga britânica marxista Ruth Glass, em 1964. Gentry faz referência à classe social europeia que, à sua época, estava em posições sociais favorecidas, como as de proprietários de terras ou membros superiores do clero.

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Ao cunhar o conceito de gentrificação, Glass pretendia chamar atenção para o processo de elitização socioespacial que ocorria com a ocupação do território pelas classes média e alta de Londres de bairros normalmente ocupados por classes operárias.

Esse deslocamento promovia (e ainda promove) a reconfiguração urbana expulsando os mais pobres, obrigando-os a se deslocarem para locais com piores condições de moradia e infraestrutura. A expulsão gerada pela gentrificação verde pode ocorrer de forma direta (uso da força policial) ou indireta, como ocorre quando há aumento da especulação imobiliária de um determinado local.

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Por conta de seu posicionamento marxista, a socióloga pretendia incentivar a implementação de políticas públicas que reduzissem os efeitos nocivos do processo de gentrificação

Como ocorre a gentrificação verde?

A gentrificação verde ocorre por meio das melhorias ambientais da infraestrutura urbana sem levar em conta as pessoas que ali habitam. 

Essas melhorias incluem investimentos em projetos como parques, reflorestamento, jardins de chuva, pavimentação permeável e estruturas de captação de água da chuva, e podem gerar a percepção de valorização local, uma vez que diminuem os riscos de problemas ambientais como inundações e deslizamentos de terra.

Se não for conduzido por políticas públicas inclusivas, esse processo leva à expulsão de moradores de baixa renda. 

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De acordo com um relatório da Zoological Society of London (ZSL), divulgado pelo jornal The Guardian, o rewilding (reintrodução da natureza no ambiente urbano) pode levar grupos de renda mais baixa a formar guetos. 

“[A área recuperada] pode ser criada em áreas de privação e você pode causar gentrificação verde. É mais verde e, por ser mais agradável, os preços das casas sobem”, disse ao Guardian a autora do relatório Nathalie Pettorelli. “Este não é apenas um problema ecológico, é um problema socioecológico; você tem que levar em consideração as pessoas o tempo todo e descobrir se você vai criar desigualdades.”

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Os preços das casas podem aumentar devido à diminuição do risco de inundações e outros desastres naturais na área. À medida que a qualidade dos espaços verdes melhora e a vida selvagem se torna mais prevalente, mais turistas também podem visitar a área.

Por isso, a autora defende a implementação de políticas públicas para garantir a permanência dos moradores locais, como a construção de habitações públicas sustentáveis.

Exemplos de gentrificação verde no Brasil

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Comunidade do Horto (RJ)

Em uma análise publicada na revista Scielo, os autores apontam alguns exemplos de gentrificação verde no Brasil. O primeiro exemplo rememora o fato ocorrido em 1893, quando houve a instalação do parque Real Horto, pelo príncipe da família real portuguesa, hoje conhecido como Jardim Botânico.

Com a instalação do parque, foi decidido limitar o acesso ao jardim e organizar seus respectivos trabalhadores, para que passassem a viver dentro de limites territoriais definidos. 

Depois de mais de um século, o local passou a ser assentamento de 600 famílias. Com a urbanização, houve emaranhamento dos descendentes dessas famílias com novos habitantes do território. 

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Atualmente, toda essa população não possui segurança no que diz respeito a sua permanência no local, sofrendo ameaças de remoção constantemente com base em justificativas de proteção ao meio ambiente.

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Após os anos 80, com a criação do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e a maior regulamentação do meio ambiente, começaram a ser encaminhados pedidos de reintegração de posse pelo poder público com justificativas ambientais.

Entretanto, o mesmo não ocorreu com áreas mais nobres próximas à comunidade, como o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e o Condomínio Parque Canto e Mello. 

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Fazenda do Arado (RS) 

A Fazenda do Arado Velho, em Porto Alegre (RS), uma região de diversidade de fauna e flora e riqueza histórica e cultural, onde há sítios arqueológicos de culturas indígenas guarani da era pré-colonial, é palco de uma tentativa de gentrificação verde.

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Parque do Minhocão (SP) 

A desativação de um viaduto (o elevado presidente João Goulart) para transformá-lo no Parque do Minhocão, na cidade de São Paulo, promoveu mudanças na estrutura sociogeográfica do local. 

O “esverdeamento” da região, com aumento do espaço de lazer e redução da poluição sonora e do ar, antes causada pelo tráfego de carros, houve embranquecimento da população devido ao aumento do preço dos aluguéis, caracterizando um processo gentrificação verde.

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Existe solução para a gentrificação verde?

Diante da crise ambiental que a humanidade se depara, é nítido que a preservação e a conservação do meio ambiente são pautas prioritárias.

Entretanto, só faz sentido implementar políticas ambientais quando estas incluem as pessoas. Do contrário, o processo se torna um fenômeno autoritário impulsionador de racismo ambiental e injustiça, podendo ser interpretado como uma forma de ecofascismo. A solução para a gentrificação verde é a promoção de políticas ambientais democráticas e inclusivas.


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