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A diversidade de espécies, complexidade e importância ecológica dos morcegos são aspectos desconhecidos pela maioria das pessoas

Morcego é uma palavra originária do latim em que muris significa rato e coecus, cego. Em grego, o nome verpertilio se relaciona ao hábito de vida noturno desses mamíferos de pequeno porte.

Mamíferos que voam

Os morcegos são mamíferos peculiares por sua capacidade voar. Porém, os cientistas ainda não sabem como esses animais adquiriram essa característica tão diferente de outros mamíferos. Existem teorias que afirmam que os morcegos evoluíram com o início da diversificação das plantas com flores, que trouxe como consequência a abundância de insetos.

Desta forma, os mamíferos da ordem Insetívora também se estabeleceram e exerceram uma forte pressão de predação contra os ancestrais dos morcegos, pois predavam pequenos mamíferos. Por essa razão, acredita-se que esses ancestrais fossem noturnos, tendo evoluído de um mamífero pequeno e arborícola.

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Classificação

Os morcegos são representados por duas grandes subordens: Megachiroptera e Microchiroptera. No Brasil, esses animais também são denominados por culturas indígenas como andira ou guandira. Além disso, representam a segunda maior ordem entre os mamíferos, sendo superados apenas pela ordem dos roedores (Rodentia).

Por possuírem hábitos noturnos, a maior parte dos morcegos utiliza uma sofisticada capacidade biológica de detectar a posição e distância de objetos ou animais através de emissão de ondas ultrassônicas, no ar ou na água.

Eles transmitem sons de alta frequência pela boca ou pelo nariz, que são refletidos por superfícies do ambiente, indicando a direção e a distância relativa dos objetos. Morcegos também usam o som para outras finalidades como comunicação e acasalamento. No entanto, alguns sons emitidos por eles não são audíveis para a espécie humana.

Distribuição

Os morcegos Megachiroptera são representados pela família Pteropodidae, que possui 150 espécies distribuídas entre regiões tropicais da África, Índia, sudeste da Ásia e Austrália. Devido à similaridade de suas faces com as das raposas, são conhecidos popularmente como raposas-voadoras.

Esses morcegos utilizam a visão para navegação e, por isso, têm olhos grandes. Além disso, não possuem ornamentações faciais e nasais, pois não apresentam o sistema de ecolocalização.

Os Microchiroptera são compostos por 17 famílias e 930 espécies no mundo. No Brasil são conhecidas nove famílias, 64 gêneros e 167 espécies, que habitam todo o território nacional, incluindo Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal, os pampas gaúchos e até as áreas urbanas.

As famílias brasileiras são: Emballonuridae, Phyllostomidae, Mormoopidae, Noctilionidae, Furipteridae, Thyropteridae, Natalidae, Molossidae e Vespetilionidae.

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Entre todos os mamíferos, os morcegos possuem a dieta mais variada, alimentando-se de frutos e sementes, pequenos vertebrados, peixes e até sangue.

A maioria é insetívora e o restante todo é basicamente frugívoro. Existem somente três espécies que se alimentam exclusivamente de sangue, sendo denominados hematófagos.

Portanto, os morcegos contribuem para a estrutura e dinâmica dos ecossistemas, atuando na polinização, dispersão de sementes, predação de insetos – dentre os quais muitos são pragas agrícolas – e fornecimento de nutrientes em cavernas, mas também são agentes de transmissão de inúmeras doenças silvestres.

Morfologia

O morcego é o único mamífero que se locomove pelo ar e, para isso, utiliza membros superiores (braços e mãos) que a evolução biológica transformou em asas.

A estrutura dos ossos da mão do morcego é parecida com a da mão humana, mas suas falanges são finas e compridas, quase do tamanho do corpo. Os dedos são unidos por uma membrana elástica, que também é ligada às pernas. Para voar, basta afastar os dedos e mover os braços para cima e para baixo.

Voo verdadeiro

Apesar de alguns mamíferos conseguirem planar a longas distâncias, os morcegos são o único grupo capaz de realizar o voo verdadeiro. No transcorrer da evolução, finas e elásticas membranas se desenvolveram entre seus dedos, alongando-se até a parte distal das suas pernas, dando-lhes capacidade de manobras e tornando-os grandes voadores.

Como suas asas possuem grande superfície, a desidratação é mais rápida do que em outros animais de mesmo peso. Por isso, os morcegos precisam de mais água do que outros mamíferos do mesmo peso.

Os morcegos também desenvolveram a capacidade de se dependurar para o repouso, de cabeça para baixo, agarrando-se a superfícies de cavernas, troncos e galhos com suas unhas afiadas e curvas.

As vértebras cervicais, da mesma forma que permitem à cabeça permanecer levantada durante o voo, a mantém levantada durante o repouso, de modo que o ambiente não pareça invertido.

Para esses animais noturnos, uma coloração viva seria de pouca utilidade e, por isso, há apenas variações com a cor da pele entre o preto e o pardo, com algumas espécies ruivas ou amareladas.

Mesmo assim, podem ocorrer pelagens brancas, como nas espécies de Diclidurus.

Apesar de existirem vários animais que podem predar os morcegos, como corujas, gaviões, falcões, guaxinins, gatos, cobras, sapos e aranhas grandes, apenas uma águia africana é realmente especializada em morcegos.

O mais surpreendente é que alguns morcegos se alimentam de outros, embora não sejam canibais, pois capturam espécies diferentes da sua.

Como se alimentam

Morcego
Imagem de Clément Falize no Unsplash

Os morcegos são divididos em sete grupos, de acordo com seus hábitos alimentares diversificados. Entre eles estão: carnívoros, frugívoros, hematófagos, insetívoros, onívoros, piscívoros, polinívoros e nectarívoros.

Carnívoros

Os carnívoros são predadores de grandes insetos e pequenos vertebrados, tais como pássaros, anfíbios, répteis e até pequenos mamíferos. Dentre os morcegos brasileiros, os carnívoros estão entre os de maior tamanho.

Frugívoros

Existem morcegos predominantemente frugívoros, mas que também incluem insetos na sua alimentação. No Brasil, pertencem à família Phyllostomidae e são considerados prejudiciais às árvores frutíferas por atacarem os frutos de pomares em regiões onde todas as matas foram destruídas.

Entretanto, os danos causados pelos morcegos à indústria de frutos são poucos ou de nenhuma relevância. Sobre sua importância biológica, os frugívoros desempenham papel importante na dispersão de sementes.

Hematófagos

Os morcegos hematófagos alimentam-se exclusivamente do sangue de mamíferos ou de aves. Para isso, eles utilizam seus dentes incisivos especializados para fazer pequenos cortes nos animais.

Nesse processo, lançam um anticoagulante com a saliva e sorvem o sangue que flui para fora. Depois de saciados, esses morcegos separam a parte líquida do sangue com seus rins especializados e urinam, eliminando o excesso de peso antes de retornar aos seus abrigos.

Insetívoros

Os insetívoros capturam a maioria dos insetos dos quais se alimentam enquanto voam. Os morcegos desse grupo atuam como controladores das populações de insetos, já que muitos são danosos à lavoura ou podem transmitir doenças como a dengue.

Por estarem no fim da cadeia alimentar, os insetívoros ficam sujeitos a maiores acúmulos de inseticidas e envenenamento subletal, que provoca sua esterilidade.

Onívoros

Os onívoros são adaptados para vários hábitos alimentares. Se alimentam de insetos, pólen, néctar e frutas e, às vezes, de pequenos invertebrados.

Piscívoros

Já os piscívoros são habilidosos na pesca. Vivem perto de cursos d’água e pescam através de ecolocalização.

Polinívoros e nectarívoros

Os polinívoros e nectarívoros são morcegos da família Phyllostomidae que retiram carboidratos do néctar e proteínas do pólen das plantas, mas que também podem ingerir insetos.

São facilmente reconhecíveis por seu focinho alongado e língua comprida. Os morcegos desses grupos têm pelos faciais e corporais especializados para transportar pólen.

Doenças transmitidas por morcegos

Dentre as doenças transmitidas por morcegos, a raiva e a histoplasmose são as mais comuns. Isso porque eles servem como hospedeiros para vírus que podem causar doenças em seres humanos. Por isso, cientistas afirmam que eles devem ser constantemente monitorados, já que suas características aumentam a possibilidade de transmissão de doenças.

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Raiva

Apesar da raiva ser comum em morcegos-vampiro, um estudo epidemiológico sobre raiva humana realizado na Amazônia concluiu que esses animais não possuem papel significativo na transmissão da doença.

Por outro lado, a raiva relacionada ao gado é mais relevante, uma vez que 2 milhões de cabeças foram contaminadas por morcegos em todos os países da América Central e do Sul, exceto no Chile e Uruguai, em 1972.

O controle da doença nos ruminantes deve ser feito com vacina anti-rábica e com a diminuição da população de morcegos transmissores, os hematófagos.

Dado o pouco conhecimento sobre o assunto, é comum que se incrimine todas as espécies de morcegos. Por esse motivo, muitas vezes as espécies benéficas são injustamente acusadas e exterminadas.

Histoplasmose

A histoplasmose é uma micose sistêmica causada pelo fungo Histoplasma capsulatum, um ascomiceto que se aloja em solos úmidos e fartos de excrementos de aves e morcegos.

Essas fezes possuem um alto teor de nitrogênio, o que torna o pH do solo ácido e cria o nicho ecológico ideal para esse fungo.

As principais fontes de infecção para H. capsulatum são grutas, galinheiros, árvores ocas, porões de casas, sótãos, construções inacabadas ou antigas e áreas rurais. O contágio ocorre principalmente por meio da inalação dos esporos do fungo.

Vale ressaltar que a infecção pelo Histoplasma capsulatum não está restrita a grutas e cavernas. Agricultores, paisagistas, jardineiros, pessoas que trabalham na construção civil, com a criação de aves e o controle de pragas também estão expostos ao risco de serem infectados e desenvolver a doença.

Covid-19

Embora não se saiba qual é o vetor da pandemia do novo coronavírus, todos os olhos estão voltados para o morcego. Esses animais já haviam sido a origem de outras epidemias de coronavírus. No início deste século, eles foram a causa da transmissão da síndrome respiratória aguda grave, mais conhecida como Sars, que infectou mais de 8 mil pessoas.

Em meados da década de 2010, os morcegos foram a origem de outra doença respiratória semelhante: a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers), responsável por infectar cerca de 2,5 mil pessoas.

Quanto a este novo coronavírus, as autoridades chinesas acreditam que ele se originou em um mercado de Wuhan que vendia frutos do mar e carne de animais selvagens, incluindo morcegos e víboras.

Porém, uma análise realizada por pesquisadores da Escócia concluiu que morcegos e roedores podem transmitir uma infinidade de vírus à espécie humana. Segundo o ecologista Daniel Streicker, da Universidade de Glasgow, a quantidade de vírus é proporcional ao número de espécies contidas nesses grupos.

Por isso, ele defende estudos mais amplos que sejam capazes de identificar ameaças de fontes animais em várias espécies, não só em um grupo específico. O ideal seria focar em regiões de alta biodiversidade.

O vice-presidente da EcoHealth Alliance, Kevin Olival, também acredita que a descoberta de que a diversidade de espécies corresponde à riqueza viral é uma razão convincente para ampliar a vigilância sobre morcegos, roedores e outros grupos de mamíferos.

Reprodução e habitat

Em média, os morcegos têm um filhote por ano, que cuidam durante três meses. A gestação dura de 44 dias a 11 meses e o nascimento ocorre na época de maior oferta de alimentos.

Em áreas preservadas, os morcegos se abrigam em cavernas, tocas de pedras, ocos de árvores, árvores com troncos similares a sua coloração, folhas, árvores caídas, raízes na beira de rios e cupinzeiros.

No Brasil, nas áreas urbanas, é possível encontrar morcegos em pontes, no forro de prédios e de casas de alvenaria, na tubulação fluvial, em pedreiras abandonadas, no interior de churrasqueiras e até em aparelhos de ar condicionado.

Grande importância

Os morcegos são extremamente úteis aos seres humanos, servindo-lhes como material de pesquisa em estudos epidemiológicos, farmacológicos, de mecanismo de resistência a doenças e no desenvolvimento de vacinas. Servem também como recurso alimentar para alguns povos na África e até para algumas tribos no Brasil.

Frequentemente são tidos como prejudiciais pelas doenças que podem veicular e transmitir, tais como viroses e micoses.

Além disso, os morcegos são frequentemente mortos por turbinas eólicas. De acordo com um estudo, os jovens e as fêmeas são mais vulneráveis a esses encontros.

Preservação

No Brasil, há uma legislação que garante a proteção dos morcegos. Mesmo assim, pouco se tem feito para a sua conservação. Atualmente, cinco espécies de duas famílias estão listadas como ameaçadas de extinção: Família PhyllostomidaeLonchophylla bokermanni, Lonchophylla dekeyseri, Platyrrhinus e Família VespertilionidaeLasiurus ebenus e Myotis ruber.

Uma sociedade esclarecida deveria executar um programa de conservação da fauna sem preconceitos, que não incluísse somente os animais de agrado público. Os morcegos são ameaçados por inseticidas, pelo desmatamento e até por conta das lendas e superstições a seu respeito.


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