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"O youtuber acaba contribuindo para o reconhecer-se do jovem no lugar que ele ocupa na sua identidade de gênero, orientação sexual e também como membro da comunidade LGBTQA+”, afirma pesquisador

Por Brenda Marchiori, do Jornal da USP | Novos atores sociais e formas de relações sociais emergiram com o avanço de novas tecnologias, através das redes sociais e plataformas de vídeos ao longo das duas últimas décadas. Nesse cenário, os influenciadores da plataforma Youtube, os chamados youtubers, dialogam diretamente com os jovens, estabelecendo vínculos que acabam impactando esse grupo. Segundo estudo da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, a influência de youtubers LGBTQIA+ ajuda na formação dos jovens desse nicho, como sujeitos, a se situar e se posicionar na sociedade.

Na dissertação de mestrado, defendida em setembro deste ano, Os discursos deles trazem coisas que a gente sofre, conquistas que aconteceram: diálogos entre jovens e youtubers LGBTQIA+, o pesquisador Rafael Felix de Oliveira, sob a orientação da professora Ana Cláudia Balieiro Lodi, identificou e analisou as razões pelas quais ocorre a aproximação e escolha de youtubers para seguir e acompanhar. 

Os resultados da analise mostrou que os youtubers, também LGBTQIA+, podem assumir o papel de porta-vozes ao trazerem à tona discussões que contribuem para a formação desses jovens enquanto sujeitos. Segundo Oliveira, “identificar-se e perceber-se como pessoa da comunidade LGBTQA+ é um processo muito individual que carrega uma historicidade muito própria do indivíduo nas relações que o constituem, do seu círculo social, família, escola” e que, no âmbito virtual, inclui também os youtubers. 

Ao abordarem pautas que dialogam com a realidade dessa parcela da população, os youtubers acabam contribuindo para que o jovem se reconheça no lugar que ele ocupa, a sua identidade de gênero, orientação sexual e também como membro de um coletivo. Nesse sentido, “os youtubers acabam sendo porta-vozes de pautas coletivas LGBTQIA+”, afirma o pesquisador.

Isso ocorre porque, como evidencia Oliveira, os jovens LGBTQIA+ recorrem a youtubers “para se formar e se informar sobre pautas coletivas, se formar como parte desse coletivo [LGBTQIA+], ter entretenimento e poderem se identificar em histórias que vivenciam”. Nesse diálogo que estabelecem, “os jovens vão se compreendendo, se percebendo no lugar da sexualidade, da identidade de gênero e como integrantes, também, de um coletivo”. 

Para os jovens, estabelecer um diálogo com youtubers possibilita o acesso a debates e informações que levam à reflexão sobre questões sociais e à construção dos próprios posicionamentos. De acordo com a professora Ana Cláudia, “dialogar com os youtubers tornou-se uma prática que, pelo menos para o grupo que participou da pesquisa, viabilizou o acesso a debates, a informações sobre temáticas amplas, às vezes controversas, que são abordadas e tratadas de forma crítica pelos youtubers, possibilitando aos jovens refletir, então, sobre questões sociais e assumir seus próprios posicionamentos. Uma prática que possibilita a eles formar-se”. 

O estudo foi feito a partir da Análise Dialógica do Discurso (ADD), desenvolvido a partir da concepção de linguagem do Círculo de Bakhtin, com um grupo de jovens de 18 a 29 anos que acompanham YouTubers do segmento LGBTQIA+. 

Escola e aprendizagem em diálogo com a vida

Atualmente, destaca a professora, os vídeos em circulação na internet podem servir de fonte de conhecimento e inspiração para os jovens. “A aprendizagem envolve outras formas de construir conhecimentos, formas que poderiam complementar, não substituir, aquelas já conhecidas por nós. Eles aprendem hoje com vídeos em circulação na internet, que se fazem cada vez mais interessantes e elaborados verbo-visualmente”, afirma Ana Cláudia. 

Contudo, isso não minimiza, alerta a professora, o “papel social da escola como agência que possibilita o acesso aos bens culturais da humanidade e muito menos a importância do professor”, mas é um alerta sobre “como a escola tem se mantido distante e resistente a incorporar outras formas interessantes de possibilitar a aprendizagem”. 

Para a professora, as mídias, se bem trabalhadas no espaço escolar, podem aumentar o interesse dos jovens na aprendizagem e construção do conhecimento. “Escola, conhecimento e aprendizagem precisam estar em diálogo com a vida.”

Segundo Oliveira, a pesquisa também pode ser aplicada a outros grupos sociais como os movimentos feminista e negro, com outros influenciadores digitais de determinados nichos. Como porta-vozes, esses influenciadores conseguem reunir os jovens pelas plataformas digitais e os conduzem a discussões e reflexões que acabam contribuindo na formação desses sujeitos. 

“Youtubers acabam catalisando em torno deles pautas de reivindicação” e reunindo grupos “independente do espaço geográfico que ocupam, das limitações geográficas e da distância”, conclui o pesquisador. 

Ouça no player abaixo entrevista dos pesquisadores à Rádio USP

Por Rádio USP

Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da USP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.


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