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Polêmico ramo científico estuda o comportamento social de animais e humanos sob a ótica biológica

A sociobiologia é uma ciência que propõe a síntese entre dois objetos que, em geral, são estudados separadamente: as sociedades humanas e as sociedades de outros animais. Esse ramo de pensamento procura explicar como certos comportamentos emergiram ao longo da evolução ou como foram moldados pela seleção natural, sugerindo que os comportamentos sociais do mundo animal, incluindo o humano, teriam uma base genética. Um de seus principais expoentes hoje é o pesquisador Richard Dawkins.

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História da sociobiologia

Existe certa controvérsia sobre como datar o início da sociobiologia. Algumas versões apontam para os livros de etologia (estudo biológico do comportamento dos animais) humana que fizeram sucesso nas décadas de 1960 e 1970, enquanto outras remontam aos pioneiros da matemática de populações, como Ronald Fisher, Sewall Wright e John Haldane, na década de 1930.

Apesar das ideias sociobiológicas já existirem, o termo “sociobiologia” só se popularizou na segunda metade da década de 1970, com o lançamento do livro Sociobiology: The New Synthesis (traduzido como Sociobiologia: A Nova Síntese), do biólogo Edward O. Wilson. Nele, Wilson descreve a ciência como próxima da ecologia comportamental, com ambas ligadas à biologia de populações, sendo a teoria evolucionária o coração das três entidades.

Em seu livro, Wilson fez muitas declarações controversas sobre ética, chegando a afirmar que cientistas e humanistas deveriam analisar a possibilidade de “biologizar” esse campo de estudos, tirando-o do controle das mãos dos filósofos. Além disso, fez elogios ao positivismo, tendo atribuído sua curta duração à ignorância sobre como funciona o cérebro humano, chegando a dizer que as pessoas são naturalmente xenofóbicas.

Wilson, no entanto, somente insinuou tais afirmações, não chegando a mostrar como a biologia seria decisiva para esses assuntos. O autor não foi o único a gerar debates calorosos com afirmações contundentes: outros sociobiólogos como David Barash e Pierre Van den Berghe foram até mais radicais em suas afirmações, mas receberam menos atenção que Wilson.

O termo “sociobiologia” sofreu bastante resistência graças a essas afirmações, em especial por parte de etólogos, que não queriam se ver associados às declarações de Wilson. Há também quem afirme que o uso do termo “psicologia evolucionista” se deveu em parte à má reputação que “sociobiologia” ganhou.

O que diz o campo de estudos?

A sociobiologia trabalha com a hipótese de que comportamentos e sentimentos como altruísmo e agressividade, por exemplo, são, em parte, determinados geneticamente – e não apenas cultural ou socialmente adquiridos. Em outras palavras, instituições sociais poderiam ser fruto de um condicionamento genético ou do processo adaptativo de certa população.

Os sociobiólogos acreditam que os genes influenciam o comportamento social e, assim, o funcionamento da sociedade como um todo. É comum que considerem as condutas e os hábitos sociais como fenótipos, que são as manifestações visíveis ou detectáveis dos genes. Como os pesquisadores ainda não têm provas concretas de que ideias ou costumes possam ser determinados por genes, eles trabalham atualmente com a hipótese de que o código genético seria influenciado, ao longo dos estágios de desenvolvimento do indivíduo, pelo meio ambiente e pela densidade populacional.

Por exemplo, uma sociedade pode ter o índice de agressividade entre seus membros aumentado em momentos de escassez de alimento, provocada tanto por fatores ambientais quanto pela explosão demográfica. Ao mesmo tempo, um indivíduo também é capaz de tornar-se bastante agressivo em uma fase especial de sua vida, que é a adolescência. Logo, a sociobiologia conclui que a organização social, bem como o comportamento, são passíveis de serem tratados como “órgãos” de alto valor adaptativo, uma vez que se adaptam às circunstâncias vigentes.

Assumindo que os genes estão por trás das condutas sociais, a maioria dos sociobiólogos neutraliza a oposição entre o inato e o adquirido. A ideia comum é que todo caráter geneticamente determinado traz uma expressão do ambiente, apoiando-se na definição do fenótipo. Assim, a teoria é a de que: se uma pessoa com tendência genética à agressividade nascer em uma sociedade extremamente pacifista, esse traço provavelmente não irá se manifestar; já uma pessoa que vive em um local onde é necessário disputar alimentos pode se tornar agressiva.

Há uma divergência entre os cientistas sobre como o peso de cada componente genético influencia no comportamento. Três opiniões se destacam na análise de como a seleção natural age dentro dessa área. Alguns acreditam que a seleção natural opera sobre o grupo (espécie, população, parentela), outros pensam que ela se dá de forma individual e há ainda quem julgue que a seleção natural é concebida como uma força orientada para o indivíduo (admitindo algumas seleções em grupo).

A primeira hipótese diz respeito ao altruísmo, considerando-o como o grande motivador das condutas sociais. Assim, se a seleção natural agir de forma a preservar ou extinguir um agrupamento, os indivíduos aumentam as chances de sobrevivência e crescimento de todo o grupo se agirem de modo altruísta.

Já a segunda vertente remete ao egoísmo. Os adeptos da seleção natural voltada para o indivíduo partem do princípio de que a unidade concreta é o organismo individual, achando impossível que o meio ambiente exerça pressões seletivas sobre um grupo. Eles também acreditam que cada membro de uma sociedade busca apenas sua própria sobrevivência, sem se importar se haverá prejuízo a companheiros de sua espécie. A seleção natural, assim, agiria no sentido de preservar ou eliminar indivíduos, de modo que cada um deles estaria melhor adaptado à medida que fosse mais egoísta.

A terceira opinião, por sua vez, defende a ideia de que a seleção natural age como uma força orientada para o indivíduo, considerando serem possíveis formas de seleção de grupo. Essa vertente enfatiza o egoísmo, mas engloba também o altruísmo como motivador de comportamentos em sociedade. Segundo esse grupo, a seleção natural age principalmente sobre os indivíduos, então estes devem agir majoritariamente de forma egoísta, mesmo que isso prejudique os outros companheiros. Entretanto, eles entendem que há casos em que a seleção natural atua sobre grupos e então seria necessário que os indivíduos agissem com altruísmo.

Outro ponto de divergência é o papel da sociobiologia humana. Enquanto Robert Triveres acredita que o comportamento de chimpanzés e seres humanos pode ser análogo, pela sua semelhante história evolutiva, John Maynard Smith acha tal aplicação improvável, restringindo seus estudos aos animais.

Para quem acredita na sociobiologia humana, as semelhanças comportamentais entre o ser humano e outros mamíferos, especialmente os primatas, servem como evidências de que há um componente genético nas condutas sociais das espécies. A agressividade, o controle das fêmeas pelos machos, os cuidados paternais prolongados e a territorialidade, por exemplo, são alguns elementos apontados como comuns entre humanos e macacos.

Ainda que haja grande diversidade das formas sociais humanas, os sociobiólogos acreditam que isso não invalida a teoria de que os genes estão por trás desses padrões culturais de comportamento. Eles explicam que a alta variabilidade dos costumes mostra a função adaptativa da cultura em relação ao meio ambiente, atrelando a variedade apresentada pelas culturas às condutas individuais. Então, os genes promovem maleabilidade do comportamento social ao sofrerem os efeitos da seleção natural (atuando sobre o organismo individual), garantindo à espécie humana suficiente potencial de sobrevivência.

Analisando a evolução, percebemos que o comportamento em geral foi refinado, tornando-se mais complexo do que simplesmente maximizar a sobrevivência e a reprodução. Para Dawkins e outros sociobiólogos, este é um processo geneticamente determinado. Acima de tudo, a sociobiologia defende uma visão darwinista, em que o comportamento de humanos e outros animais é orientado em busca da sobrevivência do indivíduo, do grupo e da espécie.

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Críticas a esta vertente

A sociobiologia levantou muita polêmica desde seu princípio. É possível dividir as críticas que recebeu em dois grandes grupos. O primeiro questiona suas credenciais científicas, julgando a sociobiologia como “má ciência”. O segundo se refere ao aspecto político e se divide em dois subgrupos: os que acreditam que a sociobiologia faz má ciência intencionalmente, procurando no fundo justificar certas políticas reacionárias; e os que acreditam que ela é perigosa, independente dos desejos de seus proponentes.

Os críticos ressaltam que, por ser uma disciplina altamente especulativa, os sociobiólogos devem tomar cuidado com declarações como “novas descobertas sobre a natureza humana” em assuntos polêmicos, como a xenofobia e o sexismo. Um artigo publicado pela revista Nature, em 1979, “Sociobiology critics claim fears come true” (“Críticos da sociobiologia afirmam que medos podem virar realidade”, em tradução livre), mostra como grupos extremistas de direita na França e Grã-Bretanha estavam usando autores como Edward Wilson, Dawkins e Maynard Smith para justificar o racismo e o antissemitismo como elementos naturais e, portanto, impossíveis de serem destruídos.

Por outro lado, os sociobiólogos acusam seus críticos de rejeitarem a sociobiologia apenas por diferenças ideológicas e por medo das verdades inconvenientes que iriam contra seus ideais.

Dentre muitas críticas, a sociobiologia foi acusada de ser determinista, reducionista, adaptacionista, de fazer uma caricatura da seleção natural e do darwinismo e de ser irrefutável. No geral foi acusada de “má ciência” – essa crítica teve como ponto de partida o artigo apresentado à Royal Society em 1979, “The Spandrels of San Marcos and the Paglossian Paradigm: A Critique of the Adaptationist Programme”, que gera discussões até hoje.


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