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Estudo publicado na Revista Science avalia que plantar árvores é a melhor solução para reduzir o excesso de CO2 na atmosfera

Desmatamento da Amazônia no Peru. Imagem: WFU/Acers/Via BBC News Brasil

Além de preservar as florestas que já existem, zerando o desmatamento, plantar árvores pode ser a melhor solução para combater o aquecimento global. Essa é a conclusão de um estudo publicado na última sexta (5) na Revista Science, que fala em espalhar árvores por todos os espaços possíveis do planeta – aqueles não ocupados por zonas urbanas nem destinados à agropecuária.

Seria o equivalente a plantar 1,2 trilhão de novas mudas, número quatro vezes maior que a totalidade das árvores que vivem na floresta amazônica. Calcula-se que existam no planeta hoje cerca de 3 trilhões de árvores.

O plantio massivo de árvores em locais subutilizados é o principal ponto defendido pela pesquisa. “Seguramente podemos afirmar que o reflorestamento é a solução mais poderosa se quisermos alcançar o limite de 1,5 grau [de aquecimento global]”, afirmou à BBC News Brasil o cientista britânico e ecólogo Thomas Crowther, professor do departamento de Ciências do Meio Ambiente do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, na Suíça, e um dos autores do trabalho acadêmico.

O limite a que ele se refere é a preocupação central do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), da Organização das Nações Unidas, cujo relatório foi lançado ano passado: limitar o aumento do aquecimento global em 1,5 grau Celsius até 2050.

O pesquisador defente uma campanha global para atingir tal meta, envolvendo governos, organizações e pessoas físicas. Segundo os dados analisados, o plantio deveria ocorrer em todos os espaços relativamente ociosos, independentemente de quem seja o dono do local. “São regiões degradadas em todo o mundo, onde humanos removeram as florestas e hoje são áreas que não estão sendo usadas para outros fins”, comenta. “No entanto, não sabemos sobre a propriedade da terra de todas essas regiões. Identificar como incentivar as pessoas a restaurar esses ecossistemas é a chave para o reflorestamento global.”

Este é o primeiro estudo já realizado que demonstra quantas árvores adicionais o planeta pode suportar, onde elas poderiam ser plantadas e quanto de carbono elas conseguiriam absorver. Se todo esse reflorestamento for feito, os níveis de carbono na atmosfera poderiam cair em 25% – ou seja, retornar a padrões do início do século XX.

Desde o início da atividade industrial, a humanidade produziu um excedente de carbono na atmosfera de 300 bilhões de toneladas de carbono. De acordo com os pesquisadores, se fossem plantadas 1,2 trilhão de árvores, quando elas atingirem a maturidade conseguiriam absorver 205 bilhões de toneladas de carbono.

O estudo foi baseado em um conjunto de dados global de observações de florestas e no software de mapeamento do Google Earth Engine, usando também dados de solo, clima e projeções climáticas. Foram analisadas todas as coberturas de árvores em áreas florestais da terra, de florestas equatoriais até a tundra do Ártico. No total, 80 mil fotografias de satélite de alta resolução passaram pelo crivo dos cientistas. Com as imagens, a cobertura natural de cada ecossistema pode ser somada.

Atualmente existem 5,5 bilhões de hectares de floresta no planeta – segundo a definição da ONU, ou seja, terras com pelo menos 10% de cobertura arbórea e sem atividade humana. Isso significa 2,8 bilhões de hectares com cobertura de dossel de árvores.

O estudo concluiu que há ainda um total de 1,8 bilhão de hectares de terra no planeta em áreas com baixíssima atividade humana que poderiam ser transformadas em florestas. Nesse espaço, poderiam ser plantadas 1,2 trilhão de mudas. “À medida que essas árvores amadurecem e aumentam, o número de espécimes cai. Quando chegamos às florestas maduras, as árvores realmente enormes armazenam maior quantidade de carbono e suportam grande quantidade de biodiversidade”, explica Crowther. Isso renderia 900 milhões de hectares de copas de árvores a mais – uma área do tamanho dos Estados Unidos.

Ainda assim, é preciso agir rápido, já que as florestas demoram para crescer e atingir todo seu potencial de absorção de carbono. Bastin estima que seriam necessários 18 anos para que esse reflorestamento maciço começasse a implicar no freio ao aquecimento global.

Segundo os pesquisadores, mais da metade do potencial terrestre de reflorestamento está concentrada em seis países, nesta ordem: Rússia (151 milhões de hectares disponíveis); Estados Unidos (103 milhões); Canadá (78 milhões); Austrália (58 milhões), Brasil (50 milhões) e China (40 milhões).

Recepção à pesquisa

Especialistas ambientais que tiveram acesso prévio à pesquisa se mostraram otimistas com o material. “Finalmente, uma avaliação precisa do quanto de terra podemos e devemos cobrir com árvores, sem interferir na produção de alimentos ou espaços de habitação humana”, declarou a diplomata Christiana Figueres, ex-secretária executiva da Convenção do Clima da ONU. “É um modelo para governos e para o setor privado.”

“Agora temos evidências definitivas da áreas de terra potencial para o reflorestamento, onde elas poderiam existir e quanto carbono poderiam armazenar”, avaliou o engenheiro civil René Castro, especialista em desenvolvimento sustentável e diretor-geral do Departamento de Clima, Biodiversidade, Terra e Água da FAO, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.

Um cientista não envolvido no estudo, no entanto, advertiu que a estimativa é “muito vaga”, informa a Vox. Dois outros pesquisadores argumentaram na Conversation que “a melhor solução para a mudança climática continua sendo a manutenção dos combustíveis fósseis no subsolo”.

Eles ressaltam que “o reflorestamento massivo só funciona se a atual cobertura florestal do mundo for mantida e aumentada” (o que pode parecer óbvio, mas nem todos os governos tem se esforçado nesse sentido). E acrescentam: “Não será fácil, mas a sociedade precisa proteger as florestas que temos, e proteger as novas florestas perpetuamente para manter permanentemente o carbono sequestrado nas árvores e fora da atmosfera”.


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