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Utilizando uma tecnologia que estimula a transparência e confiabilidade dos dados, a criação do Biobanco da Amazônia contaria com a participação dos povos tradicionais, contribuindo para o fomento da economia local

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Por Camilla Almeida em Jornal USP | A floresta amazônica é dona de uma das maiores biodiversidades do mundo. Mesmo assim, o desmatamento no bioma avança cada vez mais: de 12 quilômetros quadrados (km2), em março de 2022, para 104 km2 até março deste ano, de acordo com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Novas iniciativas que fomentam a conservação dessa diversidade buscam o emprego de ações sustentáveis ao mesmo tempo em que estimulam a bioeconomia.

Essa ideia norteia a criação do Biobanco da Amazônia, proposta de pesquisadores da Escola Politécnica (Poli) da USP e outras instituições. Trata-se de um banco de dados genéticos de base comunitária, que tem como objetivo fomentar a economia local e trazer retorno às populações locais.

O diferencial da iniciativa é seu caráter colaborativo com os povos tradicionais e a valorização de seus conhecimentos. As coletas de DNA de espécies nativas e a inserção dos dados na plataforma seriam feitas pelas próprias comunidades, por meio de equipamentos de baixo custo, fornecidos pelo Instituto Amazônia 4.0.

“O biobanco possibilita o registro genético das espécies da Amazônia. Essa é uma forma de documentarmos a nossa biodiversidade e reverter sua diversidade em benefícios para a própria sociedade”, explica a professora Tereza Carvalho, supervisora do projeto, ao Jornal da USP. Os recursos amazônicos são ricos em propriedades e ativos de grande potencial econômico, que podem ser estudados a partir da coleta do material genético e análise laboratorial. Além disso, caso alguma empresa queira utilizar essas informações, ela deve se comprometer a compartilhar os benefícios econômicos obtidos com o produto formulado. 

Biocoins

“Esse ‘contrato’ é registrado de maneira transparente através de smart contracts, e os benefícios podem ser transferidos através da moeda interna do sistema, Biocoins. Como as transações são transparentes, quaisquer desvios podem ser facilmente provados, detectados e punidos apropriadamente”, coloca Leonardo Kimura, mestrando do Laboratório de Arquitetura e Redes de Computadores (Larc) da USP e primeiro autor do artigo. Smart contracts são contratos que se fazem cumprir automaticamente assim que ambas as partes entram de acordo e cumprem com as exigências sugeridas no documento.

A utilização da tecnologia blockchain –  um recurso avançado de gerenciamento de informações que permite o compartilhamento de conhecimentos em rede – auxiliará na transparência das transações pela possibilidade de se ter auditores responsáveis pela verificação da inalteração de dados disponibilizados. “Os auditores vão apurar os registros para supervisionar possíveis modificações, além de confirmar se os lucros que foram gerados estão sendo repassados adequadamente às comunidades locais – tudo para contribuir com a transparência do biobanco”, reafirma o mestrando. 

A iniciativa integra o projeto Amazônia 4.0, idealizado pelos professores Carlos Nobre e Ismael Nobre, do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, que busca a elaboração de técnicas e tecnologias que atribuam valor agregado aos recursos amazônicos. O Amazônia 4.0 funciona a partir de Laboratórios Criativos da Amazônia (LCAs), que vão a campo para capacitação e apresentação de tecnologias para as populações tradicionais. 

Potencial mal utilizado

Mais de 30 mil espécies vegetais já foram descobertas por cientistas na região amazônica e muitas ainda são desconhecidas. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), são mais de 2 mil espécies de plantas que possuem potencial alimentício e que podem ser utilizadas na produção de fármacos e remédios. Os pesquisadores destacam a necessidade de se estudar o material genético da fauna para compreender seus benefícios e entender de que maneira os recursos naturais podem ser aplicados.

“Um estudo genético das diferentes variedades de cacau permitiu rastrear onde elas foram primeiramente domesticadas, os efeitos negativos gerados pelo cruzamento dessas plantas, que resultou em informações que podem ser usadas para melhorar a resistência dessas plantas”, exemplifica Kimura.

O professor Marcos Simplicio, também supervisor do projeto, explica que o Biobanco da Amazônia abre espaço para explorar a biodiversidade e dividir descobertas de forma mais democrática. “A partir do momento que você consegue colocar essas informações em um banco de dados, as pessoas podem explorar e descobrir propriedades interessantes, criando importantes materiais com valor agregado.” 

Os resultados da pesquisa foram apresentados no artigo Amazon Biobank: a collaborative genetic database for bioeconomy development, publicado na revista Functional & Integrative Genomics.

Mais informações: e-mail mjunior@larc.usp.br, com Marcos Simplicio; e-mail lkimura@larc.usp.br, com Leonardo T. Kimura: e e-mail  terezacarvalho@usp.br, com Tereza Carvalho.


Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da USP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.


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