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Na série Filme com o Especialista, professores da USP comentam trailers de filmes a partir de suas experiências de pesquisa, ensino e extensão

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Explorando uma floresta de algas em Cabo da Boa Esperança, na África do Sul, o cineasta Craig Foster passa a mergulhar diariamente, buscando se reconectar com a natureza. Em meio a corais, moluscos e outros animais marinhos, Foster cria uma improvável relação de confiança com um polvo fêmea, em quem observa muitas semelhanças conforme se aproxima.

Lançado este ano pela Netflix, Professor Polvo levou dez anos para ser feito e recebeu a estatueta de melhor documentário de longa-metragem no Oscar 2021. Este ano também marca o início da Década do Oceano, declarada pela Organização das Nações Unidas para fortalecer a interface entre ciência e política no desenvolvimento sustentável dos oceanos.

O professor do Instituto Oceanográfico (IO) da USP e educador ambiental Alexander Turra explica que a interação entre o animal e o mergulhador não é mero acaso. Dentre os moluscos, o polvo é quem tem os sistemas nervoso e motor mais desenvolvidos, representados pelos olhos grandes e uma musculatura que favorece a caça e a fuga.

“Isso tudo é potencializado por um simbolismo interessante, porque para ter uma circulação sanguínea tão eficiente, que permita essa natação rápida, ele tem três corações. Um central e dois coraçõezinhos na base de cada brânquia para fazer com que o sangue flua e oxigene o corpo todo”, afirma Turra, que também é fundador da Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano, resultado do convênio entre a Unesco e a USP.

Nesta edição de Filme com o Especialista, Alexander Turra conta como as características corpóreas e evolutivas dos polvos favoreceram sua relação com os humanos, explorada no filme Professor Polvo (Pippa Ehrlich e James Reed). Turra é professor do Laboratório de Manejo, Ecologia e Conservação Marinha do IO e coordena a Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano

Donos de personalidade individual e consistente, alguns polvos podem se colocar em situações de maior risco com mais frequência que outros. Característica observada também em caranguejos-ermitões, em São Sebastião, no litoral paulista, pelo grupo de pesquisa de Turra. “Quem é tímido, tende sempre a ser tímido”, conta.

Para o professor, a ideia de uma relação afetiva explorada no filme Professor Polvo é interessante para se pensar a empatia entre as espécies. Ele defende que as imagens de interação entre o polvo e o mergulhador refletem a confiança que se estabeleceu entre ambos. “Na verdade, ele não se sente ameaçado e a gente traduz isso no afeto. Mas não podemos encarar de forma muito fria: ‘olha, na verdade esse é um animal que se acostumou com outras espécies em seu entorno e se permitiu ter uma interação que, a princípio, pela forma maleável do corpo, deu a entender que era afetuosa’. Não necessariamente é isso.”

Junto de outros organismos marinhos, o polvo é um invertebrado e sua forma atual é resultado de um longo processo evolutivo, que levou milhões de anos. Nessa corrida, o animal perdeu a concha típica entre os moluscos, tornando-o versátil e flexível. “Um animal que se camufla, imitando a cor e a textura do fundo. Ele se esconde muito bem em pequenos buracos ao longo dos costões rochosos; buracos em que ele não conseguiria se esconder se tivesse uma concha”, explica Turra.

Apesar de suas capacidades de fuga, a captura global anual de polvos chega a 420 mil toneladas métricas, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. Com a pesca excessiva e a alta demanda de uso nos restaurantes, o animal é uma das mais de 500 espécies aquáticas criadas em cativeiro para consumo humano. Especialistas discutem os problemas éticos e ambientais da criação industrial e da aquicultura.

“Nós passamos a ser predadores desses animais. Não somos um tubarão, predando um polvo em seu ambiente, mas o estamos levando ao mesmo destino. E isso tem uma consequência nas populações desses organismos, além de um efeito em cadeia sobre sua função ecológica”, lembra o professor.

Década do Oceano

A Década das Nações Unidas de Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, também conhecida como Década do Oceano, foi declarada pelas Nações Unidas em 2017 e será realizada entre 2021 e 2030. A iniciativa pretende conscientizar a população em todo o mundo sobre a importância do oceano, o maior bioma do planeta.

Para isso, a organização mobiliza diferentes atores públicos, privados e da sociedade civil organizada em ações que favoreçam a saúde e a sustentabilidade dos mares. A ideia é construir uma estrutura comum para garantir que a ciência oceânica possa apoiar os países na implementação da agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável

Na USP, um convênio com a Unesco resultou na criação da Cátedra Unesco para Sustentabilidade do Oceano. A cátedra tem o IEA e o Instituto Oceanográfico (IO) como responsáveis por suas atividades e gestão. Há também quatro instituições parceiras: Coordenação de Ciências Oceânicas do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação; o Brazilian Future Ocean Panel (Painel Mar); a Brazilian Coastal Benthic Habitats Monitoring (ReBentos); e a SOS Mata Atlântica.

A Cátedra valoriza e dissemina a cultura oceânica, visando ampliar o conhecimento da sociedade sobre o oceano. Também busca aproximar a ciência da tomada de decisão, atuando como observatório do oceano e qualificando as políticas públicas.

No site, é possível acessar a Oceanoteca – uma biblioteca de documentos informativos ligados à cultura dos oceanos, além de conhecer as iniciativas de conservação, educação ambiental e divulgação científica sobre os oceanos. A Cátedra criou ainda uma playlist colaborativa no Spotify para “ouvir o oceano”.

Saiba mais sobre a Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano: Facebook, Twitter, Youtube e Instagram.


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