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Doublespeak ou discurso duplo é uma maneira estratégica de manipular a linguagem para confundir e influenciar as pessoas

Doublespeak é um termo comumente traduzido como duplafala, linguagem dúplice, fala dupla ou discurso duplo. Esse conceito se refere ao uso de eufemismos e ambiguidades intencionais para influenciar opiniões. Por meio desse tipo de discurso, quem o enuncia disfarça, distorce ou mesmo inverte o significado de algumas palavras, tornando algumas verdades mais palatáveis e favoráveis.

Assim, essa linguagem tem sido atribuída à manipulação e entendida como mentira em grande parte das vezes. Pesquisadores buscam entender se o discurso duplo realmente é uma maneira de mentir e manipular ou se é apenas uma forma de persuasão.

Usos de doublespeak

O discurso duplo ou doublespeak é utilizado para confundir as pessoas. Para isso, uma fala assume a forma de generalizações, ambiguidades intencionais ou eufemismo, que utiliza palavras mais agradáveis para suavizar ou minimizar o peso da fala. O linguista americano William Lutz define o discurso duplo como uma linguagem que finge se comunicar, mas não comunica. Com isso, ela faz o mal parecer bom, o negativo parecer positivo, o desagradável parecer pouco atraente ou tolerável. 

No mercado de trabalho, o discurso duplo é utilizado para camuflar determinadas situações. “Reestruturar a empresa”, por exemplo, pode ser uma forma de se referir ao ato de despedir funcionários. Utilizando doublespeak, também é comum que certas instituições financeiras adotem termos para disfarçar os aspectos negativos de um empréstimo. Segundo William Lutz, os bancos não possuem “empréstimos ruins” ou “dívidas incobráveis”, mas sim “ativos inadimplentes” ou “créditos inadimplentes” que costumam ser apenas “reescalonados”. 

Sob essa lógica, alguns líderes políticos também empregam o discurso duplo, como o caso do Donald Trump. Durante seu governo nos Estados Unidos, páginas inteiras sobre mudanças climáticas foram eliminadas dos sites do governo. Em paralelo, Trump e outros representantes buscavam novas maneiras de falar sobre a crise ambiental sem mencionar o termo “mudança climática”. 

Novas palavras foram empregadas de forma indireta, substituindo termos concretos por palavras que soassem mais positivas e tornassem os problemas ambientais mais obscuros. Gretchen Gehrke, que já trabalhou como cientista na Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, diz que os discursos passaram a girar em torno da resiliência. “Muito disso é porque você não precisa falar sobre qual é o problema para dizer que precisa ser resiliente ou se adaptar a um futuro em mudança”, aponta a pesquisadora.

Manipulação ou persuasão?

Em um estudo, pesquisadores da Universidade de Waterloo investigaram a utilização da linguagem eufemística e descobriram que o uso de termos eufemísticos agradáveis torna as avaliações das pessoas mais favoráveis. O principal autor do estudo, Alexander Walker, diz que essa linguagem manipuladora pode servir como uma ferramenta para enganar o público sem utilizar falsidades, mas usando a linguagem eufemística estrategicamente. 

Durante a pesquisa, os cientistas avaliaram se a substituição de um termo agradável (trabalhando em uma fábrica de processamento de carne) no lugar de um termo desagradável (trabalhando em um matadouro) teria impacto sobre as pessoas. Os resultados confirmaram que as avaliações dos indivíduos sobre determinada ação podem ser tendenciosas de uma forma previsível e egoísta quando alguém emprega o uso estratégico de termos mais ou menos agradáveis.

Nesse sentido, os pesquisadores identificaram a linguagem dupla como uma forma de manipulação estratégica da linguagem para influenciar as opiniões dos outros. Doublespeak é, portanto, uma forma de representar a verdade de uma maneira que beneficie o próprio enunciador. Walker conclui que o estudo mostra como a linguagem pode ser usada estrategicamente para moldar as opiniões das pessoas sobre eventos ou ações. 

Como fugir da linguagem dupla?

Tendo em vista as possibilidades manipuladoras da  linguagem dupla ou doublespeak, enquanto ouvintes/leitores, devemos assumir um pensamento crítico ao receber e interpretar determinado discurso. Nesse caso, podemos fazer as seguintes perguntas:

  • Quem está falando com quem?
  • Em que condições?
  • Sob que circunstâncias?
  • Com quais intenções e objetivos? 

Se surgir dificuldade ou desconforto ao tentar responder alguma dessas perguntas, pode ser que você esteja enfrentando uma situação de linguagem dupla e é melhor seguir pensando criticamente sobre o discurso.


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