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As dietas com melhores pontuações são as mais baseadas em vegetais do que alimentos de origem animal e ultraprocessados, mais nutritivas e menos nocivas ao planeta

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Sem mudanças radicais na dieta humana global, as crianças de hoje herdarão um planeta severamente degradado, onde grande parte da população sofrerá cada vez mais de desnutrição e doenças evitáveis. Esse é o alerta dos cientistas no relatórioFood in the Anthropocene: the EAT–Lancet Commission on healthy diets from sustainable food systems, publicado no jornal científico The Lancet, quanto à urgência de se adotar um modelo de dieta que promova saúde não apenas à população, mas também ao planeta — como a Dieta da Saúde Planetária, proposta no relatório.

Com essa preocupação, pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP desenvolveram o Índice da Dieta da Saúde Planetária, capaz de avaliar a aderência de uma população às recomendações dessa dieta. Os dados mostram que, quanto maior a pontuação total do índice, menor a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEEs) gerada na produção dos alimentos consumidos e maior a qualidade nutricional da dieta. As análises também verificaram que as maiores pontuações constituíam dietas mais baseadas em vegetais (frutas, verduras, cereais integrais e feijões) do que em alimentos de origem animal e ultraprocessados, que são ricos em gorduras e açúcares.

O índice pode ser um instrumento para avaliar dietas, monitorar a adesão às recomendações dietéticas saudáveis e a qualidade geral da dieta de uma população. Além disso, a ferramenta permite identificar quais os grupos alimentares merecem maior atenção por parte das autoridades para propor medidas de redução do consumo, como é o caso da carne vermelha, indicada pelos pesquisadores. Trata-se de um método de análise coletivo, no âmbito de população, que pode ser aplicado em caráter de pesquisa em diferentes contextos socioculturais para avaliar a dieta de determinado grupo, e não para aplicação individual em consultório, por exemplo. “Também podem ser uma forma de testar se essas recomendações dietéticas possuem efeito protetor para a saúde”, afirma Leandro Cacau ao Jornal da USP.

O estudo é parte do doutorado em Nutrição em Saúde Pública do pesquisador Leandro Cacau, orientado pela professora Dirce Maria Lobo Marchioni, do Departamento de Nutrição da FSP, e apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A pesquisa foi realizada com participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) e contou com colaboração de pesquisadores do Grupo de Estudos Epidemiológicos e Inovação em Alimentação e Saúde (Geias) da USP, do Elsa-Brasil e da Universidade de Zaragoza, na Espanha. O artigo foi publicado na revista Nutrients, neste mês.

“No modelo de dieta do relatório da EAT-Lancet ainda há a possibilidade de consumir alimentos de origem animal, mesmo que em pequenas quantidades, para, assim, contribuir com baixos impactos ambientais. Ou seja, tanto o índice quanto o relatório focam uma dieta diversificada que seja capaz de reduzir impactos ambientais e promover saúde à população”

O pesquisador explica que não há mais como falar de dietas saudáveis sem levar em consideração a pauta da sustentabilidade. A Dieta da Saúde Planetária, do relatório da EAT-Lancet, apresenta um modelo para combater os hábitos que tornam o sistema de produção insuficiente para garantir a nutrição adequada às 10 bilhões de pessoas estimadas em 2050, voltado a alternativas com menor impacto ambiental e uso consciente da produção. 

O índice desenvolvido pelo pesquisador foi testado em 14.779 brasileiros, funcionários de instituições públicas de ensino e pesquisa e participantes do Elsa-Brasil, estudo longitudinal e multicêntrico, ou seja, que acompanha ao longo dos anos pessoas de vários estados do Brasil. A aplicação foi realizada em dados que foram coletados entre os anos de 2008 e 2010, a primeira coleta de dados do Elsa-Brasil. 

Leandro Cacau – Imagem cedida pelo pesquisador

Como funciona o índice?

Baseado nas recomendações da dieta proposta no relatório da EAT-Lancet, o índice é composto de 16 grupos de alimentos como, por exemplo, o grupo de carne vermelha, que inclui carne de boi, carneiro e porco, e de frutas, que integra as frutas consumidas. O pesquisador explica que os indivíduos recebem uma pontuação gradual em cada um deles; ao final, a pontuação pode variar de 0 a 150 pontos. Desse modo, quanto maior a pontuação total, mais saudável e sustentável é a dieta. 

Quanto à pontuação, de acordo com o cientista, foram empregadas várias análises de validação e de confiabilidade. Entre elas, está a  análise que relaciona os grupos com as emissões de GEEs, um dos maiores causadores das mudanças climáticas e do aquecimento global. Assim, estimou-se a quantidade de emissão desse poluente na produção de cada um dos alimentos consumidos pelos participantes.

“O estudo acontece desde meados de 2019 e foram pensadas mais de 15 propostas para o índice, até obter uma que melhor capturasse a adesão a uma dieta saudável e sustentável”, afirma o pesquisador. 

Os resultados mostraram que quanto maior a pontuação, menor a emissão de GEEs e maior a qualidade da dieta, que geralmente é caracterizada por maior consumo de frutas, vegetais, cereais integrais e leguminosas e baixo em alimentos gordurosos e adoçados, como os ultraprocessados.

“Nós verificamos que os participantes com maiores pontuações possuíam menor consumo de alimentos fonte de proteína animal (como, por exemplo, carnes, frangos e laticínios), colesterol, gordura total, gordura saturada e sódio. Enquanto que aqueles com maiores pontuações no índice consumiam mais fibras, proteínas de origem vegetal (como feijões, lentilhas, castanhas) e de micronutrientes antioxidantes, como zinco, magnésio e vitamina E”, afirma. 

Mas, isso não significa que as dietas vegetarianas e veganas são a única opção. Leandro explica que no modelo de dieta do relatório da EAT-Lancet ainda há a possibilidade de consumir alimentos de origem animal, mesmo que em pequenas quantidades, para, assim, contribuir com baixos impactos ambientais. “Ou seja, tanto o índice quanto o relatório focam uma dieta diversificada que seja capaz de reduzir impactos ambientais e promover saúde à população”, esclarece. 

Ele ainda destaca que os idosos possuem maior adesão a uma dieta saudável e sustentável, assim como pessoas que não fumam e que praticam atividade física, o que já era esperado pela característica desses grupos, que são mais preocupados com a alimentação.

Apesar de ter utilizado uma amostra da população brasileira, a ferramenta pode ser aplicada em outros países e essa é a próxima etapa do autor. Leandro Cacau irá avaliar se o índice também identifica a adesão à dieta saudável e sustentável em mais de 3 mil adolescentes da Europa, e se os adolescentes com maiores pontuações no índice possuem menor risco para doenças cardiovasculares. 

De acordo com o pesquisador, como resultados preliminares com os participantes do Elsa-Brasil indicaram que os com maiores pontuações no índice têm menores valores de pressão arterial e menor chance de possuir excesso de peso, os autores também irão avaliar se eles também apresentam menores valores de perfil lipídico, de resistência à insulina e menor risco de aterosclerose, importantes fatores de risco para doenças cardiovasculares. 

Os pesquisadores interessados em utilizar o índice devem encontrar em contato com Leandro Cacau pelo e-mail abaixo.

Mais informações: e-mail lcacau@usp.br, com Leandro Cacau


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