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Novas evidências revelam que as chimpanzés Ngogo em Uganda vivem além de sua capacidade reprodutiva, lançando luz sobre a menopausa em primatas não humanos

A menopausa, um fenômeno raro no reino animal, tem sido há muito tempo associada apenas a humanos, orcas e baleias-piloto de barbatana curta. No entanto, uma descoberta impressionante está agora reescrevendo as regras da biologia. Um grupo de cientistas dedicados ao estudo dos chimpanzés Ngogo, que habitam o Parque Nacional Kibale, em Uganda, reuniu evidências inéditas que sugerem que algumas dessas chimpanzés selvagens também experimentam a menopausa.

Este marco na pesquisa científica, divulgado recentemente na revista Scientific American, está lançando luz sobre um fenômeno que até agora era exclusivo dos seres humanos. A primatologista Susan Alberts, da Universidade Duke, que não esteve envolvida no estudo, expressou sua empolgação com os resultados: “Acho que esta é uma pesquisa incrivelmente empolgante. Eles fizeram um trabalho tão bonito com suas análises.”

O grupo de chimpanzés Ngogo, objeto de estudo dessa pesquisa, é notável por várias razões. Eles vivem em um ambiente muito mais isolado em comparação com outros grupos de chimpanzés, distantes das influências das cidades humanas. Além disso, esses primatas tornaram-se figuras de destaque graças a uma série documental na Netflix. Mas o fator mais intrigante é que, em comparação com outras populações de chimpanzés, eles tendem a viver muito mais tempo.

Desde o início dos anos 2000, a bióloga Sholly Gunter e sua equipe, do McLennan Community College, notaram a presença de um grande número de fêmeas chimpanzés mais velhas na população. Essa observação intrigante levou à hipótese de que essas chimpanzés poderiam estar passando pela menopausa. Para investigar isso, Gunter e seus colegas começaram a coletar amostras de urina desses primatas e a testá-las em busca de mudanças hormonais que indicassem a menopausa, como o aumento do hormônio luteinizante e a diminuição do estradiol, semelhantes aos indicadores da menopausa em seres humanos.

Os resultados foram reveladores, identificando alterações hormonais consistentes com a menopausa em várias fêmeas idosas. A pesquisa não apenas confirmou a ocorrência da menopausa em chimpanzés, mas também forneceu informações valiosas sobre quando esse processo tem início. De maneira notável, as chimpanzés Ngogo tendem a iniciar a menopausa após atingirem a idade de 50 anos, um padrão comparável ao dos seres humanos. Isso significa que, em média, essas fêmeas passam cerca de um quinto de suas vidas em um estado pós-reprodutivo, o que corresponde a quase metade do tempo vivido por caçadores-coletores humanos nessa fase da vida.

A explicação para a menopausa em chimpanzés é um quebra-cabeça evolutivo fascinante. Diferentemente dos seres humanos, as chimpanzés fêmeas adultas não permanecem com suas filhas para ajudar a criar a próxima geração, o que refuta a hipótese da avó. Em vez disso, esses primatas tendem a se mudar para grupos familiares diferentes quando é hora de ter filhotes, contribuindo para a criação de forma comunitária e não demonstrando incentivo genético para favorecer seus próprios netos.

Uma teoria que surge a partir dessa descoberta sugere que a menopausa pode ser uma característica dos sistemas reprodutivos dos mamíferos que emerge se o animal viver o suficiente. Segundo Gunter, “Pode ter sido algo que foi compartilhado pelo último ancestral comum de humanos e chimpanzés”. A vida isolada dos chimpanzés Ngogo e a consequente ausência de estresse induzido por atividades humanas podem ser um fator-chave que contribui para sua longevidade.

A pesquisa ainda levanta a questão de por que a menopausa permanece tão rara na natureza. A antropóloga evolutiva Melissa Emery Thompson, da Universidade do Novo México, uma das coautoras do estudo, aponta para a necessidade de realizar estudos semelhantes em outras espécies de mamíferos sociais, como elefantes e macacos-aranha-lanosos, para uma compreensão mais completa sobre a evolução desse fenômeno e seu propósito na sobrevivência de diferentes espécies.

Os resultados deste estudo pioneiro lançam um novo olhar sobre a biologia dos primatas e nos instigam a explorar mais profundamente a vida pós-reprodutiva de outros animais em nosso reino animal, reforçando a ideia de que a natureza continua a nos surpreender com sua complexidade e diversidade.


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