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Exposição de Sebastião Salgado chegará ao Brasil no início do ano que vem, após mostrar em Londres e em Paris a imensidão de uma floresta ameaçada, e os efeitos da destruição para quem vive dentro e fora dela

Por Fernanda Macedo, de Gasglow em Página 22 Até março de 2022, os visitantes que entrarem no Museu de Ciências de Londres, na Inglaterra, encontrarão 5 milhões de km2, 400 milhões de árvores, cerca de um quinto de toda a água doce e biodiversidade do planeta. Parece muito para caber em uma exposição, mas é justamente essa imensidão que impressiona ao visitar “Amazônia”, a nova série de fotografias de Sebastião Salgado e curadoria e cenografia de sua esposa, Lélia Wanick Salgado. A exposição foi lançada em Paris, teve algumas fotos expostas em Glasgow, na Escócia, na 26º Conferência do Clima pela ONU (COP 26), e deve chegar ao Brasil no ano que vem, possivelmente em fevereiro.

Captura de imagem do Instagram de Sebastião Salgado

A maior floresta tropical do mundo estende-se por nove países da América do Sul e mais de 60% do bioma encontram-se no Brasil. Fantasiada e imaginada por pessoas do mundo inteiro há séculos, a real dimensão da Amazônia só pode ser entendida quando vista do céu. De avião ou helicóptero, Salgado registra uma região amazônica ainda, em grande parte, desconhecida que, segundo ele e Lélia, “nunca deixa de nos ensinar e surpreender com a cultura e engenhosidade de seus habitantes e com o mistério, a força e a beleza inigualável da natureza”. 

Ao longo de sete anos, Salgado fotografou a floresta e seus povos por terra, água e ar.  Apesar de já ter tido cerca de 17% de seu território desmatado, as imagens mostram porções da floresta que sobreviveram, antes que novas desapareçam.

Amazônia pode virar peça de museu

Vítima constante da predação, a Amazônia sofre enorme pressão com a abertura de estradas, fazendeiros, madeireiros e garimpeiros que fecham o cerco à floresta em um processo contínuo de desmatamento que se acelerou nos últimos anos. Os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em novembro, indicam que a área desmatada na Amazônia foi de 13.235 km², entre agosto de 2020 e julho de 2021. É o maior número desde 2006. Ambientalistas acusam governo Bolsonaro de ter omitido o relatório anual do Inpe durante a COP 26.

Salgado esteve na conferência, no espaço promovido pela sociedade civil brasileira, o Brazil Climate Action Hub, organizado em contraposição ao Pavilhão Brasil, gerenciado pelo Ministério do Meio Ambiente do País. O Hub reuniu algumas fotos da exposição e foi um importante espaço de articulação e voz para o Terceiro Setor, movimentos sociais e alguns empresários que marcaram presença na COP 26.

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“O desmatamento pode estar no seu prato” diz Google em sua plataforma: “Eu sou Amazônia”

“O Poder Executivo tem uma posição, que todos nós conhecemos, de destruição dos nossos ecossistemas. Hoje nós estamos sofrendo um desmatamento profundo na Amazônia, o maior, talvez jamais existido, pela destruição de todos os filtros de proteção dos ecossistemas. O Ibama foi desativado. A Funai, que protegia os povos indígenas, hoje é uma instituição que trabalha para um certo agronegócio predatório. Então, esse governo tem um discurso que aparece aqui na COP de uma certa forma, mas, na realidade, o comportamento dele é outro. E ele necessariamente vai ter que mudar, se quiser que o povo brasileiro e a comunidade internacional o respeitem”, disse o o fotógrafo e ativista durante a Conferência.

O temor, segundo cientistas como Carlos Nobre, é que uma destruição da Amazônia acima de 20% a 25% provoque “um ponto de não retorno “, ou seja, que o bioma não consiga mais se recuperar e acabe por ter suas características naturais modificadas, transformando-se em savana.

Os prejuízos do ponto de não retorno da Amazônia não seriam sentidos apenas por quem vive na região. Essa floresta é o único lugar na Terra onde a umidade aérea não depende da evaporação dos oceanos. Ao contrário, as árvores operam como um ventilador que projeta centenas de litros por dia na atmosfera, criando os chamados “rios voadores“, que carregam muito mais água do que o Rio Amazonas.

Os cientistas estimam que, enquanto 17 bilhões de toneladas de água entram no Atlântico a partir do Rio Amazonas a cada dia, em um período semelhante, 20 bilhões de toneladas de água sobem da selva para a atmosfera, ganhando o apelido de “Oceano Verde”, e em seguida, deixa a região amazônica.  Portanto, os “rios voadores” são vitais para o bem-estar econômico de dezenas de milhões de pessoas, no Brasil, na América do Sul e além. 

Com o desmatamento acelerado e as mudanças climáticas, a temperatura do solo da bacia amazônica já subiu 1,5°C e deve subir mais 2°C se mantidas as tendências atuais. Existe ainda o risco de queda no volume anual das chuvas de até 20%, como resultado do aquecimento global, segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).

De inferno a paraíso

A dificuldade de acesso a algumas áreas da floresta contribuiu para que algumas etnias conseguissem, durante séculos, preservar seu povo e modo de vida tradicional. São sobreviventes de uma história que sofreu um genocídio com a chegada dos navegadores portugueses, em 1500. Naquela época estimava-se que havia uma população indígena no Brasil de até 4 milhões. Hoje, os dados do IBGE indicam que 890 mil brasileiros se declaram indígenas. 

Nos séculos seguintes à chegada de Portugal ao Brasil, a Floresta Amazônica foi apelidada de “Inferno Verde”, uma selva impenetrável inundada pela chuva e perigosa para os forasteiros. Alguns exploradores vivenciaram a floresta e sobreviveram para contar seus feitos, como o explorador alemão Alexander von Humboldt e o marechal Cândido Rondon, cartógrafo do Exército Brasileiro, considerado um dos mais importantes protetores dos indígenas do Brasil. 

Mas muitas expedições, principalmente aquelas que esperavam encontrar ouro na mítica cidade perdida de El Dorado, nunca mais voltaram. Alguns foram mortos por tribos nativas hostis ou morreram de picadas de cobra ou de fome. Outros optaram por se estabelecer com tribos indígenas e compartilhar seu modo de vida. 

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Hoje, a imagem dessa floresta tropical é diferente. Vista por alguns como um tesouro da natureza e de forma idílica e romantizada por muitos, a verdade é que a Amazônia e seus povos seguem seriamente ameaçados. Em 2021, o mundo inteiro já sabe que esse caminho pode comprometer a nossa própria existência na Terra. “Para que a vida e a natureza escapem de mais destruição e depredação, é dever de todos os seres humanos em todo o planeta participar de sua proteção”, afirmam Sebastião e Lélia, aos visitantes da exposição.  


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