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Área de silvicultura de guanandi, espécie nativa da Mata Atlântica

Por WRI Brasil A restauração de paisagens e florestas é uma das medidas mais importantes para combater a emergência climática. Ao mesmo tempo em que é uma medida eficaz para proteger o solo, recuperar nascentes, deixar o ar mais limpo e a temperatura mais amena, a restauração também traz oportunidades de trabalho e retorno financeiro.

Agrofloresta
Estudo mostra viabilidade econômica da silvicultura de espécies nativas e das agroflorestas

Além do plantio ecológico, existem modelos de restauração que atuam em conjunto com sistemas econômicos, gerando renda no meio rural, desenvolvendo uma economia florestal e, assim, beneficiando toda a sociedade.

Em uma série de três artigos, o WRI Brasil mostra modelos de restauração de paisagens e florestas com fins econômicos, identificando o importante papel que eles exercem dos pontos de vista ambiental, econômico e social. Neste texto, entenda como funciona a silvicultura de nativas.

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O que é silvicultura de nativas e quais são seus benefícios ecológicos

Silvicultura de nativas é o plantio e cultivo de árvores de espécies nativas brasileiras para uso econômico. São plantios planejados para colheita e comercialização de madeira ou produtos florestais não madeireiros, gerando emprego e renda no campo.

Além da sua relevância econômica, a silvicultura de nativas tem presente um importante componente de sustentabilidade: por se tratar de espécies de árvores brasileiras, a atividade traz benefícios para a biodiversidade e contribui com serviços ecossistêmicos como a melhora da qualidade da água e do solo e o fornecimento de abrigo para fauna.

Também desempenham um papel fundamental no combate à emergência climática. Estudo recente publicado na revista Science identificou as florestas como partes importantes na mitigação das mudanças climáticas. Florestas plantadas capturam o carbono da atmosfera, que fica retido na madeira, ajudando a mitigar efeitos das emissões de gases de efeito estufa. A madeira de espécies nativas brasileiras é um produto de alto valor agregado que, em geral, tem um tempo de crescimento maior do que as espécies exóticas tradicionais. Por isso, essas árvores estocam carbono por um período mais longo, tanto durante o crescimento no campo quanto nos produtos de madeira sólida originados destas árvores. O período de crescimento mais prolongado também reduz a quantidade de intervenções que podem causar impactos no ambiente, como a colheita e a manutenção de estradas rurais.

Por fim, ao colocar madeira que foi plantada e cultivada para fins comerciais no mercado, a silvicultura de nativas ajuda a aliviar a pressão do desmatamento em áreas de florestas naturais. O plantio de espécies nativas pode ser feito mais próximo dos centros consumidores, eliminando desperdícios no processamento da madeira, empregando diferentes materiais genéticos, e ainda oferecendo outros benefícios. Dessa forma, o reflorestamento com nativas desempenha o papel duplo de impulsionar a economia por meio da comercialização de madeira de origem responsável e de ampliar a proteção das florestas ao desincentivar que árvores centenárias sejam utilizadas para o mesmo fim.

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Silvicultura de nativas faz sentido do ponto de vista econômico?

Se os benefícios ambientais do reflorestamento com nativas estão bem estabelecidos, podemos dizer os mesmos dos resultados econômicos da silvicultura de nativas? Por que um produtor deveria investir em plantar florestas?

A resposta é positiva. O WRI Brasil vem trabalhando nos últimos anos em identificar empresas, produtores rurais e organizações que plantam nativas para fins econômicos, e avaliar o resultado econômico dessas operações.

projeto Verena, por exemplo, conduzido pelo WRI Brasil em parceria com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e com a Fundação GoodEnergies, desde 2016 trabalha para demonstrar o potencial econômico do reflorestamento com nativas. Em um estudo com 12 propriedades rurais da Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica, o projeto comprovou que a atividade é competitiva. A análise comparativa mostrou que o uso de espécies nativas gera um retorno econômico maior do que a silvicultura com espécies exóticas, visto que a taxa interna de retorno mediana obtida na análise foi de 12,9% dos modelos com nativas, contra 11% para cultivo de eucalipto.

São vários os modelos de plantio que um produtor rural pode implantar para apostar na silvicultura de nativas. Alguns dos modelos de negócios identificados pelo projeto Verena são:

  • Plantio econômico biodiverso: diferentes espécies nativas, ordenadas segundo um desenho espacial definido de acordo com as condições ecológicas de cada espécie.
  • Plantio econômico monocultura: cultivo de uma única espécie nativa, plantada geralmente em linhas e com manejo semelhante ao do eucalipto.
  • Plantio misto (nativas e exóticas): utiliza espécies nativas e exóticas; por exemplo, mogno africano associado a outras espécies nativas.

Algumas das árvores nativas madeireiras mais utilizadas nos modelos são o paricá, o jequitibá-rosa, o louro-pardo, o louro-freijó, o mogno, o guanandi, a tatajuba e a família dos ipês. Já entre as espécies nativas de produtos não madeireiros estão o cacaueiro, o açaizeiro, a macaúba, a erva-mate, o cumaru, a candeia e a palmeira juçara.

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Quem trabalha com silvicultura de nativas no Brasil

Um dos nomes de sucesso na silvicultura de nativas no Brasil é Bruno Mariani. O empresário está à frente da Symbiosis Investimentos, empresa que trabalha com o reflorestamento comercial de espécies nativas da Mata Atlântica para produzir madeira serrada de alta qualidade. Bruno e sua empresa aliam tecnologia ao plantio com fins econômicos, trazendo da ciência e do mercado os instrumentos necessários para instaurar uma economia florestal ao mesmo tempo produtiva e sustentável.https://www.youtube.com/embed/sWkGSDQSX_o

A Symbiosis move uma bioeconomia de produtos florestais madeireiros, promove a restauração da Mata Atlântica, ajuda a recuperar serviços ambientais e realiza a captura de carbono tanto na madeira quanto no solo, sem perder a produtividade e o lucro. A empresa opera em um modelo que mantém 40% das áreas destinadas para conservação e 60% para a produção. Áreas de pastagem pouco produtivas empregam poucas pessoas; a Symbiosis, em comparação, mantém mais de 40 pessoas trabalhando em todas as etapas da cadeia da restauração.

Bruno Mariani não é o único. Empresas como a Futuro Florestal, a Amata e a Fazenda Nova Coruputuba também estão mostrando que é possível obter retorno financeiro com o plantio de árvores nativas.

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Pesquisa & Desenvolvimento para impulsionar as nativas

Exemplos como o de Bruno Mariani sugerem o quanto a silvicultura com espécies nativas poderia ser beneficiada com mais investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). Para suprir essa lacuna, uma rede de organizações parceiras, entre as quais o WRI Brasil, vem atuando ao longo dos últimos anos em diferentes projetos, estudos e iniciativas.

Investir em P&D pode alavancar ainda mais esse potencial. Para demonstrar o quanto, o WRI Brasil conduziu o estudo “Prioridades e Lacunas de Pesquisa & Desenvolvimento em Silvicultura de Espécies Nativas no Brasil”, analisando diferentes cenários de investimento para estabelecer uma plataforma de P&D para espécies nativas da Amazônia e da Mata Atlântica. Um dos cenários, incluindo 30 espécies de árvores nativas, apontou um retorno de US$ 2,39 para cada dólar investido em um período de 20 anos.

Na esteira desse trabalho, em abril de 2021 a Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura lançou o Programa de Pesquisa & Desenvolvimento em Silvicultura de Espécies Nativas (PP&D-SEN). É o primeiro programa nacional de P&D para árvores nativas e vai conectar instituições de pesquisa, universidades, empresas, governos, sociedade civil e financiadores, formando uma rede inicial de 20 sítios para o desenvolvimento de pesquisas de espécies da Amazônia e da Mata Atlântica.

O PP&D-SEN vai abranger pesquisas em três áreas principais: produção florestal; meio ambiente e paisagem; e dimensões humanas. Estudar as relações entre essas áreas vai ajudar a compreender como elas influenciam a restauração na prática e, consequentemente, a promover a silvicultura com árvores nativas.

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Silvicultura de nativas: bom para o clima, para a economia e para as pessoas

O Brasil tem o compromisso de restaurar 12 milhões de hectares de áreas degradadas, de acordo com Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg). A restauração florestal, por meio da silvicultura com espécies nativas, é uma das medidas mais eficazes para alcançarmos esse objetivo.

O investimento em Pesquisa & Desenvolvimento e a parceria entre o projeto Verena, empreendedores e entidades do setor podem ajudar a aumentar a escala da restauração e atrair os investimentos de que atividade precisa para se desenvolver e fazer parte da solução contra as mudanças climáticas. A silvicultura com espécies nativas é um ganho para o clima, para a economia e para as pessoas: a atividade tem o potencial de incentivar uma economia florestal pujante, gerar renda e oportunidades de trabalho no meio rural, além dos evidentes benefícios ambientais, como a captura de carbono e a melhora da qualidade do solo, da água e do ar que respiramos.


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