Pesquisa sugere que roupas sintéticas podem afetar a produção de espermatozoides, com efeitos reversíveis após a interrupção do uso
Cães que vestiram poliéster por 24 meses apresentaram queda significativa na contagem e na motilidade dos espermatozoides, além de aumento nas formas anormais. O estudo, publicado no periódico European Urology, dividiu 24 animais em três grupos: um vestiu peças íntimas de algodão, outro de poliéster e um terço serviu como controle, sem uso de qualquer tecido. As peças foram confeccionadas de forma folgada para evitar isolamento térmico e usadas continuamente durante o período da pesquisa. Após a retirada das roupas, a maioria dos cães recuperou os parâmetros seminais normais em até 12 meses, embora dois animais tenham mantido quadros de oligozoospermia.
O trabalho avaliou temperatura testicular, características do sêmen, biópsias dos testículos e dosagens hormonais, incluindo testosterona, hormônio folículo-estimulante, luteinizante e prolactina. Enquanto o grupo do poliéster registrou alterações degenerativas nos testículos e mudanças expressivas nos espermatozoides, os grupos do algodão e do controle não apresentaram variações relevantes em nenhum dos indicadores. Os hormônios permaneceram estáveis em todos os animais durante o estudo, indicando que o efeito negativo ocorreu a nível local, sem interferência sistêmica endócrina.
Um dos aspectos intrigantes da pesquisa é a causa dessas alterações. Os autores sugerem que potenciais eletrostáticos gerados pelo tecido sintético possam desempenhar um papel na degeneração observada. A hipótese aponta para um risco pouco explorado no uso de materiais plásticos em contato direto com a pele. O poliéster, derivado do petróleo, é amplamente utilizado na confecção de roupas e frequentemente contém aditivos químicos, como ftalatos, associados a desregulações hormonais. Além disso, em cada lavagem, as peças liberam microfibras plásticas que contaminam cursos d’água e cadeias alimentares.
A reversibilidade dos danos na maioria dos cães traz um alerta misturado a certa esperança. A recuperação dos parâmetros seminais após a suspensão do uso do tecido sintético indica que o corpo pode se restabelecer quando a exposição cessa. Contudo, o impacto a longo prazo em humanos ainda carece de investigação mais aprofundada. A indústria têxtil produz volumes crescentes de poliéster, material que domina o guarda-roupa global, mas os potenciais efeitos sobre a saúde reprodutiva seguem pouco compreendidos.
A pesquisa com animais oferece um sinal de alerta para a necessidade de se estudar os impactos biológicos dos tecidos sintéticos em humanos. Enquanto a ciência avança, consumidores podem optar por fibras naturais como algodão, linho ou lã para reduzir a exposição direta da pele a materiais plásticos. A escolha consciente do vestuário beneficia o meio ambiente e pode proteger a saúde, reforçando a importância de um olhar crítico sobre os materiais que vestimos diariamente.