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Waldomiro Vergueiro analisa cenário de adaptação às demandas de diversidade nas Histórias em Quadrinhos como manobra estratégica e cautelosa das editoras

Por Walace de Jesus em Jornal da USPAs adaptações de personagens à realidade plural da sociedade atual já é realidade na televisão, nos cinemas, nos videogames, entre outros. O recente anúncio da Dc Comics de que na nova edição de Superman: Son of Kal-El (Super-homem: Filho de Kal-el), o filho de Clark Kent, Jon Kent, será bissexual é um exemplo. Mas essa diversidade nas histórias em quadrinhos (HQs) é espontânea por parte das editoras ou estratégia para o consumo do gênero pelo público? 

Waldomiro Vergueiro, professor e coordenador do Observatório de Histórias em Quadrinhos na Escola de Comunicações e Artes da USP, explica que ,apesar de acompanhar a realidade plural da sociedade, as grandes editoras responsáveis pelas HQs não modificam seus personagens tradicionais, como Clark Kent, mas sim personagens periféricos, como Jon. “A gente dizer que as editoras estão modificando os personagens tradicionais me parece generalização”, avalia Vergueiro, ao destacar a resistência das grandes editoras a mudanças em personagens tradicionais. “As empresas mostram que estão se adaptando aos novos tempos, modificando personagens próximos aos tradicionais”, destaca. 

Para Vergueiro, a estratégia adotada é louvável por atender às demandas de diversidade nos quadrinhos e que as HQs, enquanto produto de massa, devem remeter ao dia a dia do seu público, caso contrário serão hostilizadas e rejeitadas por ele. “Essas modificações devem ser vistas dentro de um esforço de adaptação e de marketing dessas empresas”, explica o professor.

Ele também comenta sobre a dependência das editoras dos seus leitores tradicionais. “Quem vai no cinema assistir ao Super-Homem é o leitor tradicional, que ainda pensa no herói como gavião da realidade norte-americana e defensor do American Way Of Life”, analisa Vergueiro, ao lembrar que boa parte da resistência da modificação de personagens está relacionada ao conservadorismo do público norte-americano, ao qual se destina primordialmente as histórias em quadrinhos de super-heróis. “Então, os leitores mais antigos têm um pouco de resistência a modificações porque se acostumam com um tipo de comportamento do herói”, complementa. 

“Afinal, uma história em quadrinho é feita para o seu tempo e momento histórico, refletindo a realidade, mas ela não fará uma mudança tão drástica a ponto de ser suicida”, comenta. 

É a partir das Histórias em Quadrinhos que outros espaços de mídia passam a se desenvolver, como a televisão, cinema e videogame, e que por isso precisam estar alinhadas à realidade plural na qual estamos inseridos atualmente. “Elas não podem simplesmente continuar publicando os mesmos personagens no mesmo formato, até porque as relações pessoais, políticas e ideológicas se modificam”, explica Vergueiro. 

O professor também lembra do novo filme da Marvel, Eternos, que em seu escopo busca representar um herói homoafetivo e um grupo de heróis plural e diverso, mas que ainda assim não compõem a linha de frente como os principais heróis do universo ocupam. “As empresas utilizam essas estratégias como elemento de vendas”, conclui Vergueiro.


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