Muriqui-do-norte é o maior primata da América do Sul e tem um papel importante no ecossistema
O muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) é uma espécie de macaco endêmico da Mata Atlântica. Ele é encontrado, junto com outras espécies, em porções florestadas dos estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia. No Brasil, há 12 populações distintas de muriquis-do-norte: seis populações estão localizadas em terras privadas, três populações em terras protegidas pelo estado e três populações em terras protegidas pelo governo federal.
O muriqui-do-norte é uma das duas espécies de muriqui do gênero Brachyteles — a outra, muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides), habita algumas regiões dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná.
A espécie, embora apontada como uma peça-chave para o reflorestamento, está ameaçada de extinção devido à perda de habitat impulsionada pela atividade humana.
Características do muriqui-do-norte
Ambas as espécies de muriqui são semelhantes, sendo grandes primatas caracterizados por extremidades longas, uma longa cauda preênsil e uma barriga grande e redonda. As caudas dos macacos são essenciais para a sobrevivência das espécies, permitindo que elas se equilibrem pelas árvores e se alimentem.
A espécie do norte é caracterizada pela sua pelagem espessa e de coloração marrom-clara e dourada.
Os muriquis são considerados os maiores primatas da América do Sul e são as duas maiores espécies de macacos do Novo Mundo. O comprimento da cabeça ao corpo para machos adultos varia de 47,8 a 49,7 centímetros. Eles mantêm uma cauda longa e totalmente preênsil que acrescenta outros 73,4 a 77,3 centímetros.
Embora sejam semelhantes à espécie irmã, a face dos muriquis-do-norte é manchada de preto e rosa, enquanto a face dos do sul é inteiramente preta. Outra diferença morfológica entre as duas espécies é a presença de um polegar rudimentar nos do norte, variando de 0,3 a 1,9 centímetros, e a ausência de um polegar nos do sul.
Distribuição gráfica e habitat
Esse macaco reside em florestas tropicais semidecíduas, de sucessão tardia — florestas que permanecem inalteradas em composição desde que permaneçam intocadas. Nessas áreas, as árvores fornecem uma copa densa que permite que os macacos transitem facilmente de uma copa para outra.
Os muriquis também são encontrados em partes de floresta primária, floresta secundária, áreas altamente perturbadas de vegetação secundária e matagal. Sua distribuição exclui as florestas de várzea no extremo sul da Bahia e norte do Espírito Santo.
O desenvolvimento humano, a falta de floresta contígua e as barreiras naturais que incluem o Rio Grande, o Rio Paraíba do Sul e a Serra da Mantiqueira separam geograficamente os muriquis-do-norte de suas espécies irmãs. De fato, a falta de contato físico entre si torna o cruzamento impossível, criando assim duas populações distintas.
O macaco hippie
Além de serem conhecidos por serem os maiores macacos da América do Sul, os muriquis também possuem fama internacional por outro motivo — sua alimentação. Embora sejam herbívoros, se alimentando de 132 espécies diferentes de planta, é uma planta específica que ajuda nesse reconhecimento.
Uma espécie de planta preferida pelo muriqui-do-norte pertence ao gênero Anadenanthera. As sementes desta árvore, chamadas popularmente de “feijões mágicos”, são conhecidas por produzir efeitos alucinógenos e psicoativos — dando aos macacos o apelido de “hippie monkeys” ou “macacos hippies”.
Porém, não é só por isso. Os muriquis também são conhecidos como hippies por serem animais sociais. Eles geralmente começam o dia com um abraço coletivo, estão constantemente se tocando e demonstrando afeição uns aos outros e seguem uma doutrina igualitária; isto é, seu sistema social não possui uma hierarquia de dominância.
Raramente, dois grupos de muriquis-do-norte podem entrar em conflitos, com os machos do grupo maior protegendo coletivamente as fêmeas de seu grupo. Porém, é raro o comportamento agressivo entre indivíduos do mesmo grupo. Quando a agressão surge, ela normalmente está relacionada a fêmeas de um grupo expulsando novas fêmeas que tentaram se juntar ao grupo.
O comportamento respeitoso entre as espécies preserva essa reputação pacífica de “macacos hippies”.
Os animais são diurnos e passam a maior parte do tempo em cima de árvores. A vida diária desses macacos consiste em forragear, alimentar-se, socializar-se, brincar e descansar — de fato, cerca de metade do dia deles é gasto descansando.
Importância e ameaças
Como já mencionado, ambas as espécies de muriqui estão ameaçadas de extinção. Isso se dá, principalmente devido à desflorestação, habitats fragmentados e à caça — que fez com que restassem menos de 2 mil animais de ambas as espécies de muriqui no meio ambiente.
“O muriqui realmente sofre com a falta de presença. O público nunca os vê porque há muito poucos em cativeiro. Mesmo no Brasil, onde esses primatas são os maiores mamíferos endêmicos do país, as pessoas não sabem que eles existem”, disse Russell Mittermeier, vice-presidente executivo da Conservation International e presidente do grupo de especialistas em primatas da IUCN.
A possível extinção da espécie é uma ameaça não apenas à biodiversidade da fauna, como da flora. Conhecidos como “jardineiros da floresta”, os muriquis-do-norte possuem funções importantes para o ecossistema que habitam, sendo responsáveis pela dispersão de sementes das frutas e outras plantas que consomem através de suas fezes.