Efeito gollum é o acúmulo de recursos, tópicos e até mesmo campos inteiros de pesquisa
Você já ouviu falar do efeito Gollum?
A comunidade científica, embora altamente colaborativa na maioria das vezes, pode ser responsável pelo acúmulo de recursos. Isso significa que o acesso a recursos, como espécies, locais de estudo e, às vezes, até mesmo tópicos de pesquisa ou campos inteiros, permanece restrito.
Esse é o resultado de um fenômeno conhecido entre esses especialistas. O “efeito gollum”, inspirado pelo personagem da famosa obra de Tolkien, Senhor dos Anéis, descreve cientistas que se tornaram possessivamente apegados e guardam aspectos de sua pesquisa do público.
O resultado desse fenômeno não afeta apenas a comunidade científica. A humanidade e o seu progresso permanecem estagnados, sem acesso à informações importantes para o desenvolvimento de inúmeras áreas de pesquisa.
O que causa o efeito Gollum?
Pesquisadores atribuem o efeito Gollum ao aumento da competitividade no meio acadêmico por diversos motivos. Incluindo:
- Financiamento;
- Publicação;
- Posições permanentes;
- Prestígio científico.
A omissão de oportunidades de pesquisa pode ajudar os pesquisadores a evitar a concorrência. Além de minimizar o risco de pesquisas publicadas que contrariem as suas.
Pesquisadores já estabelecidos sentem-se no direito de guardar recursos e tópicos. Assim, se recusam a compartilhá-los com outros, a menos que recebam uma compensação, como coautoria, mesmo que injustificada.
Como esses assuntos são, na maioria das vezes, passados entre supervisores e estudantes, esse ciclo se mantém, dificultando o progresso científico e colocando a pesquisa nas mãos de poucos selecionados.
Propriedade intelectual
Outra possível causa para o fenômeno é a questão da propriedade intelectual. Muitos especialistas não são capazes de separar aspectos de sua pesquisa que são propriedade intelectual daqueles que não são.
Por exemplo, um pesquisador não pode alegar que um local de pesquisa inteiro é seu, mesmo que tenha conduzido pesquisas na área por um longo período. Contudo, projetos de estruturas colocadas no local, como armadilhas, podem ser considerados propriedade própria, sendo necessário consentimento antes de serem utilizadas por terceiros.
Isso exclui, no entanto, questões que envolvem o uso de dados coletados em propriedade privada ou financiados por partes interessadas que podem decidir o que pode ser publicado.
O alcance do efeito Gollum
Uma pesquisa considerou 563 pesquisadores de 64 países para investigar o alcance do fenômeno. Segundo os resultados publicados no jornal One Earth, quase metade dos entrevistados afirmou ter vivenciado o efeito. Além disso, dois terços relataram tê-lo vivenciado repetidamente ao longo de suas carreiras.
“Isso variou desde a negação de acesso a locais de estudo ou dados, até o roubo de ideias de pesquisa, manipulação de autoria e obstrução do trabalho de pesquisa. As experiências de alguns dos entrevistados levaram até mesmo a sérios problemas de saúde mental que exigiram intervenção médica”, disse Jose Valdez, pesquisador de biodiversidade na Universidade Martin Luther Halle-Wittenberg (MLU) e no Centro Alemão de Pesquisa Integrativa em Biodiversidade.
E, mesmo que com as alegações de que certas informações são passadas de supervisores para estudantes, alguns dos entrevistados admitem que isso não acontece. Seus próprios supervisores e colegas bloqueiam o acesso à informações importantes para outras pesquisas.
“Nossas descobertas mostram que o efeito Gollum é um problema sistêmico alimentado pela hipercompetitividade e pelas pressões da academia moderna, como posições e recursos limitados”, explica Valdez.
Quais as consequências?
Dentro da comunidade científica, as consequências do efeito Gollum são extensas. De acordo com a pesquisa de Valdez, mais de dois terços dos entrevistados relataram contratempos significativos na carreira. Alguns tendo que abandonar seus tópicos de pesquisa, mudar de grupos e institutos de pesquisa ou até mesmo abandonar a ciência completamente.
Isso realça que o efeito afeta, desproporcionalmente, grupos marginalizados e pesquisadores em início de carreira.
“Na ciência, o comportamento possessivo prejudica o progresso científico e afeta desproporcionalmente pesquisadores iniciantes e menos estabelecidos”, diz Valdez.
De fato, apenas um terço dos entrevistados afetados disseram que tomaram todas as medidas para se defender.
Por outro lado, quase um quinto dos entrevistados admitiu ter demonstrado comportamento semelhante ao de Gollum.
“Quando o ambiente científico se torna hostil, não se trata apenas de contratempos profissionais, mas também de ideias não concretizadas, autoconfiança abalada e potencial perdido”, afirma o coautor Dr. Sharma.
Porém, não os efeitos do Gollum não são restritos apenas à comunidade acadêmica. Toda pesquisa acadêmica enriquece o conhecimento humano com novas possibilidades.
As descobertas científicas, médicas, tecnológicas e biológicas são essenciais para o desenvolvimento do planeta. Sem essas informações, ideias importantes são perdidas e acumuladas por uma pequena parcela da população, impedindo o progresso.
Soluções
Como parte da pesquisa, os especialistas deram aos participantes a oportunidade de sugerir soluções para o problema. As estratégias mais mencionadas incluíram aumentar a conscientização sobre o problema, recompensar o comportamento ético e promover uma cultura de abertura e colaboração.
Além disso, reformas institucionais foram propostas, como financiamento mais estável, especialmente para pesquisadores juniores, incentivos para trabalho em equipe e orientação, bem como diretrizes claras sobre troca de dados e autoria.