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Equipe da Universidade de Turim revela como a apreciação estética ajuda a assimilar novos conhecimentos

Imagem de Greg Rakozy no Unsplash

Contemplar algo bonito pode impactar – e muito – a capacidade humana de assimilar novos conhecimentos. A conclusão é de um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Turim, na Itália, que analisaram como os efeitos da apreciação estética no cérebro podem facilitar o processo de aprendizagem. Um resumo do trabalho está disponível em artigo publicado na revista Neuroscience aknd Biobehavioral Reviews, da Elsevier.

O estudo concentrou-se na revisão da literatura anterior sobre o assunto, produzida sob a perspectiva de disciplinas diversas (neurociência, filosofia, psicologia e outras). A partir disso, foram desenvolvidas novas considerações sobre os efeitos da beleza como facilitadores de aprendizagem. A análise sugere que emoções decorrentes da observação de elementos esteticamente agradáveis desempenham um papel crucial na obtenção de novos conhecimentos e na capacidade humana de se adaptar ao ambiente circundante.

A Teoria do belo e a Estética na busca pelo conhecimento

A tese sustentada pelo estudo, batizado de “Stopping for knowledge”: the sense of beauty in the perception-action cycle (“Parar para conhecer”: o senso estético no ciclo de percepção-ação, em tradução livre), não é inédita. Pelo menos desde a Grécia Antiga, a filosofia tem se debruçado sobre as estreitas relações entre beleza e conhecimento, ou estética e razão, sob diferentes prismas. Embora divergentes em alguns pontos, as variadas visões sobre o tópico contribuem para reforçar a ideia de que a percepção sensorial afeta o processo de aprendizagem.

Em Platão, por exemplo, a teoria do belo não se volta para a experiência sensorial, mas em sua superação. Para o filósofo grego, o belo é encarado como algo divino, e não fisicamente manifesto. Assim, ao superar o plano material e ascender à transcendência divina, o ser humano alcança a essência do belo e, consequentemente, a verdade das coisas.

Já no século 18, o termo “estética” começou a aparecer na produção filosófica para dar novos rumos à teoria do belo. A palavra estética tem origem no vocábulo grego aesthesis, que significa percepção. Nesse contexto, a filosofia moderna propõe que a apreciação estética – da natureza, da arte, de coisas ou de pessoas, por exemplo – abre caminho para o conhecimento mediante as sensações e os sentidos, na medida em que reúne o que é atrativo para a percepção humana para estimular o intelecto.

“Parar para conhecer”: princípios meditativos no processo de aprendizagem

No artigo, os pesquisadores da Universidade de Turim exploram todas as teorias e pesquisas anteriores na tentativa de explicar como nossa experiência de observação do belo pode facilitar a aprendizagem. Além disso, eles apresentam o princípio de “parar para conhecer”, que se baseia em modelos de contemplação estética delineados por outros pesquisadores no passado e nos princípios de uma série de técnicas de meditação.

“Parar” e “contemplar” são componentes cruciais de muitos tipos de práticas meditativas, incluindo a zen-budista. Essas práticas propõem a cessação de todas as atividades para observar os pensamentos, sentimentos e sensações presentes no momento, bem como sons e outros estímulos sensoriais no ambiente. Na meditação budista, “parar e contemplar” se refere essencialmente ao processo de não se envolver com desejos ou ilusões da mente, a fim de enxergar a “verdade” – ou seja, perceber as coisas exatamente como são, sem interpretá-las ou tentar mudá-las.

Combinados, esses dois conceitos abarcam a antiga noção filosófica de que inibir a ação, substituindo-a pela observação e pela sintonia com estímulos sensoriais, pode expandir a consciência e ajudar a estabelecer uma conexão superior com o que nos cerca. O estado contemplativo e consciente experimentado durante a meditação é comparável ao que uma pessoa pode sentir ao observar um espetáculo natural de tirar o fôlego (um pôr do sol, uma cachoeira ou as estrelas no céu), uma obra de arte criativa (como filmes, músicas e pinturas) e qualquer outro fenômeno, objeto ou pessoa esteticamente agradável. Em outras palavras, a beleza encoraja o indivíduo a abraçar o momento presente.

Nesse sentido, o trabalho da equipe da Universidade de Turim propõe, em diálogo com as teorias anteriores, um relato original da apreciação estética enquadrada na teoria da codificação preditiva. Os resultados mostram que emoções estéticas surgem em correspondência com a inibição do comportamento motor, aprimorando o processamento perceptual simultâneo no nível dos córtices sensoriais. Isso significa que a contemplação do belo minimiza a atividade humana para otimizar seu processo de aprendizagem.

Com base nos estudos anteriores, os pesquisadores levantaram a hipótese de que a apreciação estética representa um sistema de recompensa no cérebro, reforçando comportamentos desejáveis ​​ou benéficos, o que facilita processos de aprendizagem. Em última instância, a observação da beleza poderia motivar os indivíduos a buscar mais conhecimento, modulando o aprendizado perceptivo e a recuperação da memória.

Os pesquisadores também argumentam que apreciar a beleza do mundo pode ser uma estratégia benéfica na psicoterapia, uma vez que muitos transtornos mentais estão associados a experiências dissociadas de emoção e processos de pensamento rígidos. O ato de parar para contemplar a beleza ao redor pode ajudar as pessoas a desenvolverem uma visão mais curiosa, alegre e aberta da vida.

No futuro, os resultados podem orientar novos estudos que explorem o impacto da apreciação estética na aquisição de conhecimento e nos resultados psicoterápicos. Além disso, também podem dar suporte no desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas baseadas na apreciação estética, ou de algoritmos de aprendizagem de máquina que refletem os processos de aprendizagem humana.



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