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Atribuições equivocadas ligadas ao ser masculino, como a virilidade, podem interferir quando há um homem no comando, por exemplo, de uma instituição educativa, aponta artigo publicado na revista “Plural”

Por Margareth Artur/Revistas da USP em Jornal da USP Artigo publicado na revista Plural discute a noção de virilidade e de masculinidade e seus impactos no cotidiano de trabalho e na saúde de agentes socioeducativos que atuam em unidades de internação para adolescentes em conflito com a lei. De acordo com os pesquisadores Juliana Vinuto, Leandro de Oliveira Abreo e Hebe Signorini Gonçalves, existem certas características que se atribuem social e culturalmente às mulheres e aos homens. A estes últimos, a força, a disciplina, a rigidez, a frieza, a coragem e o poder são os atributos que se espera, tradicionalmente, do ser masculino. Esses aspectos constituem o que se conhece como virilidade e o gênero compõe a personalidade do ser. Normalmente se espera que a virilidade esteja presente no mundo de alguns esportes, na política, ou mesmo na “escolha de um bom marido”, conceitos de uma sociedade que está deixando de existir. As atribuições equivocadas relacionadas ao sexo masculino, como ser viril, muitas vezes interferem quando há um homem no comando, por exemplo, de uma instituição educativa, apontam os autores.

No artigo No fio da navalha: efeitos da masculinidade e virilidade no trabalho de agentes socioeducativos, os pesquisadores afirmam que, nas unidades de internação, a virilidade, em seu sentido mais distorcido, é o esperado socialmente, o que gera, nesses agentes, o medo: dos adolescentes internados, do bullying de outros agentes que apoiam, praticam, impõem e cobram, de si mesmos e dos colegas, atitudes violentas em relação aos jovens internados. Essa postura dos profissionais demonstra tanto a revolta de suas condições de trabalho quanto a obediência para sobreviver na função, garantindo a “manutenção da ordem e da disciplina”.

Essa situação no interior das instituições revela o estopim para a explosão do “adoecimento e/ou banalização da violência” em relação aos adolescentes e aos agentes socioeducativos. Controlar e vigiar é tarefa impossível para esses agentes, apontam os autores, demonstrando que a questão da virilidade é uma arapuca para os dois lados, pois os agentes são obrigados a punir fisicamente qualquer atitude considerada imprópria. Já os adolescentes sofrem com a falta de uma verdadeira atenção educativa, visto que há vários relatos de práticas punitivas infringidas aos internos. Essas práticas existem há um bom tempo, o que impede, nessas instituições, “historicamente rígidas e disciplinares”, o propósito real de “socioeducar”.

A Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) declara que o agente socioeducativo deve “garantir a atenção, a defesa e a proteção a pessoas em situações de risco pessoal, social e a adolescentes em conflito com a lei”, “identificando suas necessidades e demandas e desenvolvendo atividades e tratamento”. Esse é o “lugar” do agente socioeducativo na unidade de internação, segundo as leis estaduais. Mas o cotidiano revela outra realidade: superlotação das instituições, condições emocionais precárias nos dois lados, a falta de respaldo dos órgãos governamentais em relação à criação de espaços físicos adequados, e a falta de disponibilidade e eficácia de recursos educativos que possam verdadeiramente tornar esses jovens capazes de viver harmonicamente em sociedade.

A virilidade nas unidades de internação é vista como “organizadora do trabalho socioeducativo” e concentra-se na figura masculina pois, de acordo com ideias preconcebidas, é mais fácil um homem punir, ser responsável pela “segurança e controle”, devido às atribuições históricas de firmeza e insensibilidade. Na verdade, argumentam os autores, a virilidade é uma estratégia defensiva, mas, para muitos agentes, ela é prova de autoridade que satisfaz o orgulho pessoal na referência aos adolescentes como “vagabundos” e “bandidos”. Por fim, destaca-se a importância de se divulgar os empecilhos de toda ordem nas instituições de internação dos adolescentes com problemas com a lei, já que ignorar constitui mais impasses, principalmente para aqueles que caminham no “fio da navalha durante a execução da medida socioeducativa de internação, como os agentes socioeducativos”.

ArtigoVINUTO, J.; ABREO, L. de O.; GONÇALVES, H. S. No fio da navalha: efeitos da masculinidade e virilidade no trabalho de agente socioeducativos. Plural, São Paulo, v. 24, n. 1, p. 54-77, 2022. ISSN: 2176-8099. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2176-8099.pcso.2017.126635. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/plural/article/view/126635. Acesso em: 17 fev. 2022.ContatoJuliana Vinuto – Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, membro do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (NECVU) e do Núcleo de Antropologia do Direito (Nadir-USP).Leandro de Oliveira Abreo – Mestrando em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor do I e II Curso de Extensão, ministrado na mesma instituição.Hebe Signorini Gonçalves – Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRJ, professora do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas em Direitos Humanos do NEPP-DH/UFRJ, membro do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre a Infância e Adolescência Contemporâneas e do Laboratório Interdisciplinar de Estudos e Intervenção em Políticas Públicas de Gênero.

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