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Estudo de doutoranda da UFMG revela associação entre hábitos e as chances de redução de transtornos

Por Teresa Sanches em UFMG

Não é novidade que uma alimentação saudável, baseada em ingestão de vegetais, leguminosas, cereais e proteínas, é fator de proteção contra doenças crônicas não transmissíveis. Mas uma boa dieta, iniciada com o café da manhã, livre de alimentos ultraprocessados e na companhia dos pais ou responsáveis, pode fazer toda a diferença também para a saúde mental de adolescentes. É o que conclui pesquisa realizada pela doutoranda Lúcia Helena Gratão, da Faculdade de Medicina, orientada pela professora Larissa Mendes, da Escola de Enfermagem, com 73,5 mil adolescentes cadastrados no Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica).

Segundo Lúcia Gratão, práticas alimentares saudáveis como ingestão de água em quantidade adequada, prática regular de atividade física, menos tempo em frente a telas, tempo de sono suficiente, consumo de alimentos saudáveis e café da manhã frequente compõem a lista de fatores que caracterizam o que ela define como estilo de vida saudável e que pode estar associado a chances menores de ansiedade e depressão – os Transtornos Mentais Comuns (TMC) – para os adolescentes brasileiros.

Base de dados
Nos anos de 2013 e 2014, cerca de 75 mil adolescentes de 12 a 17 anos responderam à pesquisa Erica em 1.247 escolas públicas e privadas de 124 cidades brasileiras, incluindo todas as capitais e o Distrito Federal. Atualmente, o estudo está na segunda etapa de execução.

Os estudantes responderam a questionário sobre dados sociodemográficos, prática de atividade física, problemas de saúde (pressão alta, diabetes, asma), consumo de álcool, tabagismo, ocupação, alimentação, saúde bucal, saúde reprodutiva, sintomas depressivos e sono. Também preencheram recordatório sobre a alimentação nas 24 horas anteriores, tiveram peso, estatura e perímetro da cintura medidos e fizeram exames de sangue.

Os pais e responsáveis e dirigentes das escolas também responderam a questionários sobre o histórico de saúde dos adolescentes e sobre a estrutura física das instituições, respectivamente. Coordenado pelo Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (Iesc), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Erica tem o objetivo de revelar a proporção de adolescentes com diabetes mellitus e obesidade e traçar o perfil dos fatores de risco para doenças cardiovasculares desses brasileiros.  

Recortes
Segundo Lúcia Gratão, “embora esse tipo de estudo transversal não possibilite inferir as causas para os TMC, é possível verificar se os fatores que compõem um estilo de vida saudável estão ou não associados aos transtornos”.

A pesquisadora considerou os formulários e recordatórios alimentares do Erica, que foram integralmente preenchidos pelos estudantes (73,5 mil), para o cálculo dos padrões saudável e não saudável de estilo de vida e associação com a presença de TMC.

Do total de respondentes, 50,21% são do sexo masculino, 35,10% estão na faixa 12 a 13 anos de idade, 57,27% moram com os pais, e 68,21% fazem as refeições com a família quase todos os dias ou todos os dias. O café da manhã é a primeira refeição de quase todos os dias ou todos os dias para 48,42% dos entrevistados.

A análise resultou em três artigos — o primeiro acaba de ser publicado na BMC Public Health —, que tratam do tema na perspectiva da correlação entre padrão de estilo de vida (prática de atividade física, consumo de água e de alimentos ultraprocessados, hábito de tomar o café da manhã, tempo de tela e média de tempo de sono) e morar com os pais.  

Mais de 16% dos adolescentes foram classificados como inativos, e 14,19%, como insuficientemente ativos (atividade física por menos de 150 minutos por semana). E 58,15% permanecem mais tempo em frente às telas do que o recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (menos de três horas diárias).

No segundo recorte, Lúcia Helena investigou a associação entre padrões de consumo alimentar (alimentos in natura ou minimamente processados e ultraprocessados), refeições com a família e a presença de TMC. Nessa perspectiva, ela também identificou o padrão não saudável, com maior consumo de bebidas açucaradas (refrigerantes, sucos com açúcar, energéticos etc.), guloseimas, salgadinhos de pacote, biscoito recheado e menor consumo de frutas.

Para o padrão de consumo alimentar não saudável, a associação com o TMC não foi significativa. Mas, no caso de adolescentes que fazem refeições com maior quantidade de vegetais, leguminosas, cereais, carnes e ovos, houve associação com a redução de chances de TMC.

O consumo regular do café da manhã e a presença dos pais em pelo menos uma das principais refeições (70,36%) também foram associados a menor chance de TMC entre os entrevistados, porque nesses momentos há diálogo e interação, e os familiares acompanham mais de perto a alimentação do adolescente. 

Por fim, a pesquisadora investigou a associação entre o tipo de escola (pública ou privada), a presença de alimentos ultraprocessados, o consumo de alimentos ultraprocessados e a razão cintura-altura com a presença de TMC na população estudada. 

“A ingestão de alimentos ultraprocessados pode levar a alterações do estado nutricional, inclusive da relação cintura-quadril que possibilita uma correlação com a adiposidade abdominal (gordura visceral), que, em nosso estudo, também foi associada a um aumento das chantes para TMC”, relata a pesquisadora. Segundo ela, a publicidade que incentiva o consumo de alimentos ultraprocessados influencia o aumento da chance de obesidade e de outras doenças crônicas não transmissíveis.

TeseTranstornos mentais comuns em adolescentes brasileiros e fatores associados à ingestão de alimentos, hábitos de vida e ambiente escolar
Defesa em: 28 de maio de 2022
Programa: Pós-graduação em Ciências da Saúde – Saúde da Criança e do Adolescente
Orientadora: Larissa Loures Mendes
Coorientadora: Milene Cristine Pessoa

Este texto foi originalmente publicado por UFMG de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não representa necessariamente a opinião do Portal eCycle.


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