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"Corrida espacial dos bilionários" levanta uma questão: viagens espaciais podem salvar a humanidade ou destruir o planeta?

Empresas como a SpaceX de Elon Musk, a Virgin Galactic de Richard Branson, a Blue Origin de Jeff Bezos e a Space Adventures têm trabalhado a todo vapor para tornar o turismo espacial uma atividade corriqueira. Pessoas comuns já estão comprando passagens para curtir o passeio. Alguns chamam esse conjunto de empresas concorrentes de “corrida espacial dos bilionários”.

Em 5 de julho, a Virgin Galactic levou Richard Branson a aproximadamente 86 km até o espaço. Pouco depois, em 20 de julho, foi a vez de Bezos conquistar o espaço, através da Blue Origin.

Enquanto isso, as ambições de Musk para viagens espaciais incluem tornar os seres humanos uma espécie interplanetária. O objetivo é preservar a humanidade por milhões de anos, caso a Terra seja destruída, com uma colônia em Marte e, eventualmente, em outros planetas.

No entanto, o lançamento generalizado de foguetes tem um custo considerável para o meio ambiente. Em julho, Eloise Marais, professora de Geografia Física da University College London, declarou ao The Guardian: “Para um voo de avião de longo curso, são emitidas até três toneladas de dióxido de carbono [por passageiro]. O lançamento de um foguete, por sua vez, produz cerca de 200 a 300 toneladas para uma média de quatro passageiros”.

Além disso, essas emissões lançadas na alta atmosfera permanecem ali por dois a três anos. Marais explicou que mesmo a água, uma substância aparentemente inofensiva, pode contribuir para agravar o aquecimento global quando injetada na alta atmosfera, onde pode formar nuvens.

Enquanto isso, os combustíveis emitem grandes quantidades de calor no nível do solo, potencialmente adicionando ozônio à troposfera, onde retém o calor como um gás de efeito estufa. Para piorar, combustíveis como querosene e metano também produzem fuligem e outros gases prejudiciais, que podem acabar prejudicando a camada de ozônio.

Impactos ambientais não podem ser ignorados

No ano passado, Jessica Dallas, consultora sênior de políticas da Agência Espacial da Nova Zelândia, escreveu, em uma análise de pesquisas sobre emissões de lançamentos espaciais, que “embora vários impactos ambientais sejam resultantes do lançamento de veículos espaciais, o esgotamento do ozônio estratosférico é o mais estudado e mais imediatamente preocupante deles”.

Como você pode imaginar, os foguetes queimam uma quantidade absurda de combustível para sair da atmosfera da Terra e escapar da gravidade. Esse é um preço alto a se pagar para que bilionários experimentem alguns minutos fugazes de diversão.

Mas Branson e Bezos não estão imunes a críticas, como não poderia deixar de ser. Muitas pessoas acreditam que, em vez de ostentarem passeios ao espaço com seus amigos e familiares, os bilionários – principais responsáveis pela crise climática – deveriam dispor de seus recursos para combater os problemas do nosso planeta, que sofre cada vez mais com incêndios florestais, desastres como furacões e uma pandemia em pleno curso.

Robert Reich, o ex-secretário do Trabalho dos EUA, twittou recentemente: “Alguém mais está alarmado que bilionários estejam aproveitando sua corrida espacial privada enquanto ondas de calor recorde estão acendendo um “dragão cuspidor de fogo de nuvens” e cozinhando criaturas marinhas até a morte em suas conchas?”.

Não é nenhuma surpresa saber que a humanidade enfrenta uma batalha difícil para garantir a sobrevivência das gerações futuras neste planeta. Em 2021, testemunhamos as temperaturas mais altas já registradas em alguns lugares, com ondas de calor brutais relacionadas às mudanças climáticas causando centenas de mortes evitáveis.

Felizmente, o lançamento de foguetes ainda está relativamente baixo na lista de poluidores em escala global. Por exemplo, a NASA disse que apenas 114 foguetes tentaram alcançar a órbita em 2020, em comparação com 100 mil aviões decolando, em média, por dia. Mas, em breve, o turismo espacial entrará em ação, com os custos de lançamentos espaciais caindo ano após ano.

Marais pede cautela à medida que a indústria do turismo espacial cresce. Ela diz que, atualmente, não há regras internacionais sobre os tipos de combustíveis usados ​​nem regulação sobre seus impactos no meio ambiente. Para ela, a hora de agir é agora: enquanto os bilionários ainda estão comprando suas passagens.

Bilionários se defendem


Ainda assim, Musk argumenta contra a visão de que os bilionários estão perdendo seu tempo e dinheiro tentando explorar o espaço, enquanto falham em consertar os muitos problemas da Terra.

No Twitter, ele disse: “Aqueles que atacam o espaço talvez não percebam que o espaço representa esperança para muitas pessoas”.

Vários riscos existenciais ameaçam dizimar a humanidade e a biosfera terrestre. Essas ameaças obrigaram muitas pessoas brilhantes, como Musk, a pensar em alternativas para evitar potenciais catástrofes em potencial e a eliminação completa de nossa espécie. Eles garantem que procuram garantir que nosso ramo evolucionário persista e que as viagens espaciais sejam parte da resposta. Portanto, seria um “mal necessário” colonizar Marte como um planeta reserva.

Em entrevista ao portal Aeon, Musk disse o seguinte sobre seus planos de colonização de Marte:

Acho que há um forte argumento humanitário para tornar a vida multiplanetária, para salvaguardar a existência da humanidade no caso de algo catastrófico acontecer, em que ser pobre ou ter uma doença seria irrelevante, porque a humanidade estaria extinta. Seria [o equivalente a dizer]: “Boas notícias, os problemas da pobreza e das doenças foram resolvidos, mas a má notícia é que não sobrou mais nenhum ser humano”.

Outro defensor é do turismo espacial é o engenheiro de software, inventor e guru da resiliência global Vinay Gupta. Em entrevista à Vice, Gupta disse:

Tornar a vida interplanetária e depois interestelar permite que a criação gere maravilhas incalculáveis ​​ao longo de potencialmente trilhões de anos. Não temos ideia de quanto tempo a vida humana pode durar se conseguirmos tirá-la dessa esfera minúscula, frágil e cheia de riscos, para o oceano de escuridão e luz acima de nossas cabeças e de cada canto e recanto da esfera observável. Devemos a todos os futuros potenciais que poderiam emergir de nosso presente a possibilidade de existência; e, para consegui-lo, devemos ir não apenas para o espaço, mas também, eventualmente, por qualquer meio que acharmos necessário, para as estrelas.

Apoiando essas mentes geniais, um artigo no portal Futurismo argumenta:

Por tudo que sabemos neste momento, a Terra deu origem às formas de vida mais sofisticadas do universo. Nosso atual corpo de evidências científicas sugere que não existe ramo mais promissor da evolução do que o nosso. Se tivermos permissão para continuar, nosso ramo terreno quase certamente dará origem a inúmeras maravilhas incontáveis – ​expressões inconcebivelmente complexas da vida humana e pós-humana e da tecnologia. Além disso, se persistir, nosso ramo de evolução pode muito bem resultar em civilizações intergalácticas de seres superinteligentes, que atualmente não podemos compreender. […] Possuímos milhares de ogivas nucleares capazes de ocasionar uma catástrofe existencial, e estamos à beira da liberdade de um ecossistema global bastante frágil e com recursos limitados. Além disso, o fato de estarmos confinados a este único planeta significa que uma única colisão de asteroide ou algum outro evento cataclísmico imprevisto pode exterminar toda a nossa espécie e, potencialmente, toda a vida inteligente na Terra.

Mas, voltando ao tópico das mudanças climáticas, sabemos que um único foguete SpaceX Falcon Heavy queima aproximadamente 400 toneladas métricas de querosene, emitindo mais emissões de gases de efeito estufa em poucos minutos do que um carro médio faria em mais de 200 anos. Levando isso em conta, será que é possível afirmar que o espaço representa, de fato, esperança para as pessoas, como Musk argumenta? E, se sim, para quais pessoas?

Num momento em que vemos seres humanos morrerem por causa das altas temperaturas e dos desastres induzidos pelas mudanças climáticas, nem a Terra parece oferecer alguma esperança – que dirá Marte. E, para todos os efeitos, é possível que as gerações atuais nem sequer possam ver esse plano de salvação interplanetário ser colocado em prática. Será que vale a pena destruir este planeta para conquistar outros? É algo a se pensar.


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