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Pesquisa exclusiva para a Página22, realizada pelo Instituto Market Analysis, mostra o grau de importância das árvores na vida de moradores de áreas urbanas. E o que os leva a plantar mudas por conta própria, quando falta ação do poder público

Por Magali Cabral em Página22Além de importante para a cidade e provocar uma sensação de bem-estar nas pessoas, o ato de plantar árvores é uma forma simples e econômica de ajudar a diminuir o avanço da mudança climática, que segue provocando eventos meteorológicos extremos em vários cantos do planeta. Os mais perceptíveis são as secas prolongadas em regiões tradicionalmente agrícolas e a alta frequência de temporais devastadores em áreas urbanas.

Apesar dos alertas científicos sobre a importância das áreas verdes em cenários muito impactados, a prefeitura da maior cidade brasileira, por exemplo, não plantou uma árvore sequer nos últimos seis meses – sendo que já acumulava um déficit de 180 mil mudas que deixaram de ser plantadas nos últimos 10 anos, segundo reportagem na Folha de S.Paulo. Juntem-se a esses dados as que caíram ou foram retiradas pela Defesa Civil e não foram substituídas. Essas informações foram apuradas junto à Divisão de Arborização Urbana, aos Planos de Metas e ao Plano Municipal de Arborização Urbana de São Paulo.

Se um poder público se abstrai dessa função, não faltam nos ambientes urbanos cidadãs e cidadãos dispostos a sair por aí carregando uma enxada e plantando as mudas de árvores que deseja ver crescer em sua rua ou bairro. O que move essas pessoas? Qual a relação delas com a natureza? O que é mais importante: os serviços ambientais indispensáveis à regulação do clima, o conforto térmico, a paisagem, ou bem-estar psicológico? O que impede outros de fazerem a mesma coisa?

O instituto de pesquisas Market Analysis fez essa investigação a pedido da Página22 e trouxe algumas respostas. A pesquisa foi realizada de forma online entre 16 de novembro e 7 de dezembro de 2021, com 1.153 respondentes maiores de 18 anos das cinco regiões do Brasil.

Segundo a pesquisa, o reconhecimento de que árvores são importantes para a cidade é comum à maioria dos brasileiros: 91% das pessoas que dizem plantar árvores concordam com essa afirmação, como mostra o gráfico abaixo. A relação entre plantar árvores e a sensação de ajudar a combater a mudança climática também é compartilhada por grande parte da população (86%). Outra fatia importante das pessoas crê que a recompensa por essa atividade vai além dos ganhos de bem-estar e do lazer pessoal, pois traz a sensação de pertencimento à comunidade (82%).

Em um contexto de individualismo, intensificado pelo isolamento social causado pela pandemia, plantar árvores aparece como uma atividade urbana com potencial para conectar as pessoas com a natureza e a vida em comunidade.

Segundo o estudo, o plantio urbano de árvores é observado pelos brasileiros a partir de duas perspectivas principais: a primeira reúne preferências ligadas à cidadania e à coletividade e, portanto,  pensa a atividade a partir de princípios ou valores; a outra está vinculada a objetivos mais hedônicos, de prazer individual. Na primeira perspectiva prevalece a leitura da necessidade de resolver problemas coletivos, como a mudança climática ou a melhora da qualidade de vida da comunidade. Por exemplo, plantar árvores é atividade ambiental e de pertencimento comunitário. A segunda perspectiva também tem muitos adeptos, ou seja, também são muito importantes os ganhos utilitários pessoais como lazer ou o embelezamento de suas ruas.

Têm menos importância para os brasileiros as expectativas sociais e influências próximas. Ou seja, é menor a adesão à ideia de que plantar árvores é algo que vizinhos e parentes esperam que eu faça. A facilidade ou a dificuldade pessoal ou institucional para executar essa atividade – isto é, a necessidade de conhecimento especializado e de autorizações para o plantio de árvores – também é uma crença que divide opiniões.

Quem é a favor da arborização urbana e por quê

O estudo revela que a atitude pró-arborização urbana é relativamente alta na população brasileira, com uma média de 2,74 de adesão, considerando um piso de valor igual a 1 e um teto de valor igual a 3. A posição favorável ao plantio de árvores tende a aumentar com a idade do indivíduo, atingindo uma média pico de 2,87 no grupo entre 55-64 anos versus a média geral de 2,74, e é ligeiramente mais acentuada entre os mais ricos e entre pessoas que têm filhos.

Curiosamente, os contrastes são bem maiores entre gerações que entre classes sociais. Isso indica, de acordo com a pesquisa, que comportamentos pró-ambientais práticos como a arborização urbana exigem menos recursos materiais para despertar engajamento e mais experiência de vida e conexão com questões ecológicas.

Apesar da percepção de que os jovens são mais sensíveis a temas ambientais, os dados da pesquisa sugerem que a preocupação climática ou ambiental entre esse perfil fica em um plano mais abstrato e teórico.

A atitude a favor da arborização das cidades pelos cidadãos também é maior entre aqueles que já têm familiaridade com a agenda ambiental, como reciclagem de lixo, poluição do ar ou escassez de água, e com o tema da mudança do clima (média de 2,81 nesse subgrupo versus média geral de 2,74). Na mesma direção, indivíduos que se sentem agentes de mudança em questões relacionadas ao meio ambiente – ou seja, acreditam que suas ações e decisões de consumo fazem diferença – revelam uma postura mais favorável ao plantio de árvores nas cidades.  A crença no aquecimento global e o aumento de seus efeitos desastrosos também aparece associada com a atitude pró-arborização dos brasileiros.

Motivos e obstáculos para plantar árvores nas cidades

Entre as razões específicas para plantar árvores nas cidades, questões relativas à prestação de serviços ambientais aparecem com força na opinião dos brasileiros (gráfico a seguir). O papel das árvores em temas como a conservação do solo e da água e como provedoras de abrigo e alimento para animais, principalmente aves, são motivos importantes para grande parte da população (81% e 80%, respectivamente). Aparecem com destaque também benefícios funcionais para os seres humanos, como fornecer frutas (opção de alimento ou renda extra), ajudar a reduzir a poluição e promover o conforto térmico. Embora com menor intensidade, a presença de árvores é relacionada à beleza cênica no ambiente urbano (64%) e à valorização de propriedades (54%).

As motivações de plantio urbano de árvores relacionadas a tópicos conceituais, como a conservação do solo e da água, a promoção do conforto térmico e a redução do consumo de energia, embora frequentes, não chegam a dominar a preferência dos brasileiros. Essas atribuições exigem um grau de conhecimento e sofisticação cognitiva maiores sobre a relação entre arborização e seu retorno específico para o meio ambiente. Indivíduos de maior renda, que exibem mais credenciais educativas, apontam esse benefício com mais frequência que a média geral dos brasileiros. 

O gatilho normativo – que valoriza a vinculação da arborização a um meio ambiente saudável – e o gatilho utilitário – que valoriza benefícios particulares tangíveis trazidos pela arborização –, aparecem com força semelhante no ranking de motivações. Já o gatilho hedonista, ligado a ganhos estéticos ou imateriais, tende a aparecer com menos força entre as razões para o plantio de árvores em ambientes urbanos por cidadãos. Esse último tipo de consideração é mais forte entre indivíduos de maior idade.

Entre as barreiras para o plantio de árvores por parte de cidadãos em áreas urbanas, problemas com a fiação elétrica aparecem como o tema mais comum (gráfico abaixo). Essa percepção negativa na relação entre árvores urbanas e a rede de eletricidade provavelmente se dê em função do risco de desabastecimento de um serviço essencial no caso de falha ou demora na poda das árvores pelo poder público. De fato, a mais recente chuva forte na cidade de São Paulo provocou a queda de mais de 300 árvores, e pessoas ficaram dois dias sem energia elétrica. Isso mostra que minimizar os conflitos entre a criação e manutenção de áreas verdes com a infraestrutura das cidades pode ser um desafio para as administrações municipais.

Animais atraídos pelas árvores e a ocorrência de folhas e raízes nas ruas e calçadas, consequências naturais da presença de árvores, são também obstáculos para o plantio nas cidades, na opinião dos brasileiros. Folhas no chão, que podem ser vistas como “sujeira”, e calçadas danificadas pelas raízes contribuem para a percepção negativa das árvores nas cidades. As menções a animais, folhas e raízes como barreiras são indicativos da distância entre seres urbanos e natureza. Também podem indicar a falta de confiança da população no poder público, no que tange à prestação de serviços de manutenção das calçadas, limpeza de bueiros e podas das árvores.

Entre os obstáculos mais frequentes ao plantio de árvores nas cidades, problemas com a fiação elétrica e animais indesejados associados à presença de árvores são, em geral, mais importantes para pessoas mais jovens, revelando uma preocupação mais racional na relação custo-benefício. Por outro lado, temas como insegurança, que vê a árvore como obstáculo para detectar comportamentos potencialmente criminosos, e com a rede de eletricidade são mais frequentes entre pessoas de classes mais altas e pessoas que costumam conversar sobre temas ambientais.


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