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Fósseis de 443 milhões de anos indicam que artrópodes primitivos encontrados no atual Mato Grosso resistiram a grandes mudanças do clima da Terra

Por Enrico Di Gregorio – Revista Pesquisa FAPESP | Há 443 milhões de anos, no fim do período geológico conhecido como Ordoviciano, a Terra passou por um tempo de intensa glaciação que levou a quedas abruptas nas temperaturas e no nível do mar. A mudança do clima contribuiu para a primeira grande extinção em massa do período Paleozoico, também há cerca de 443 milhões de anos, que dizimou 85% das espécies da Terra.

No atual município de Barra do Garças, leste de Mato Grosso, porém, um artrópode (grupo que reúne insetos, aracnídeos e crustáceos) marinho primitivo, hoje extinto, sobreviveu: a trilobita do gênero Mucronaspis, com 5 a 6 centímetros (cm) de comprimento, encontrada por pesquisadores do Brasil e da Argentina.

Como os artrópodes atuais, as trilobitas apresentavam o corpo segmentado e trocavam o esqueleto externo à medida que crescem. Com o formato aproximado de uma barata, formam cerca de 1.500 gêneros, com milhares de espécies. Surgiram por volta de 521 milhões de anos e viveram até 250 milhões de anos atrás. Fósseis desses artrópodes já foram encontrados em sedimentos marinhos de quase todos os continentes.

Pesquisadores trabalhando em um dos locais de escavação. Carolina Zabini / Unicamp

A trilobita de Barra do Garças é a mais antiga já encontrada no Brasil, enquanto outras, escavadas nas bacias do Paraná e do Parnaíba, são do Devoniano, período que começa há cerca de 419 milhões e termina em 359 milhões de anos atrás.

Restos fósseis de dois exemplares desse animal foram encontrados entre rochas finas intercaladas por blocos depositados pelo gelo antigo na porção norte noroeste da bacia do Paraná. Os pesquisadores tentaram descobrir a espécie da trilobita, mas não conseguiram porque o fóssil está sem cabeça.

“Conseguimos identificar apenas o gênero a partir do tórax e pigídio [porção final do corpo], porque geralmente necessitamos da cabeça para chegar à espécie”, diz a paleontóloga Carolina Zabini, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), principal autora do trabalho publicado em junho na Journal of South American Earth Sciences.

A pesquisa fortalece a hipótese de que Mucronaspis é um gênero resistente a condições climáticas extremas. A bacia do Paraná pode ter sido um refúgio para o primeiro pulso da grande extinção de 443 milhões de anos atrás.

“Como Mucronaspis é uma espécie de ocorrência mundial e um guia para o fim do período Ordoviciano, essa descoberta ressalta a importância da pesquisa no Brasil sobre os sinais deixados pela primeira grande extinção em massa do Paleozoico”, avalia Zabini. Ela participa da coleta de fósseis na área com outros paleontólogos desde 2013.

Na região do atual município de Bonito, em Mato Grosso do Sul, na porção central da bacia do Paraná, pesquisadores da Unicamp e da Universidade de São Paulo (USP) relataram em novembro de 2024 a descoberta dos registros dos possivelmente mais antigos animais com concha já encontrados no mundo. Eles viveram no período Ediacarano, iniciado há 635 milhões de anos e encerrado 538 milhões de anos atrás, quando a América do Sul estava conectada à África.

Este texto foi originalmente publicado pela Revista Pesquisa FAPESP, de acordo com a licença CC BY-SA 4.0. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.


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