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Em alerta contundente na Cúpula do Clima, chefe das Nações Unidas afirma que ultrapassagem temporária de 1,5°C é inevitável, mas ainda pode ser controlada com ação imediata. Ele cobra um "plano de resposta ousado" e critica "lucros com a devastação"

Em um dos discursos mais diretos e urgentes de sua gestão, o Secretário-Geral da ONU declarou, nesta quinta-feira (6), aos líderes mundiais na Cúpula do Clima de Belém, que a humanidade falhou em proteger o limite de 1,5°C de aquecimento global e que uma ultrapassagem temporária dessa “linha vermelha” é agora inevitável. Classificando a inação como uma “falha moral” e “negligência mortal”, ele exigiu uma mudança de paradigma imediata para evitar consequências dramáticas.

“A dura verdade é que falhamos em garantir que permaneceríamos abaixo de 1,5°C”, afirmou, concordando com o presidente Lula, que chamou a conferência de “COP da verdade”. Ele alertou que mesmo um excedente temporário, projetado para começar na década de 2030, pode empurrar ecossistemas para pontos de não retorno e expor bilhões a condições inabitáveis.

O limiar e a esperança

O chefe da ONU foi claro ao afirmar que o limite de 1,5°C “precisa permanecer ao nosso alcance” e que a ciência ainda considera possível reverter a curva de aquecimento. O caminho, segundo ele, é tornar esse período de excedente o menor, mais curto e mais seguro possível.

Isso exigiria, em suas palavras:

Alcançar emissões líquidas zero até 2050 e avançar para emissões negativas depois.
Investimentos maciços em adaptação e o sistema “Alertas Precoces para Todos” até 2027.

Enquanto pintou um cenário de esperança tecnológica, citando a “revolução de energia limpa” e os US$ 2 trilhões investidos no setor em 2024, o Secretário-Geral lançou duras críticas aos obstáculos políticos.

“O que ainda falta é coragem política”, declarou. “Muitas corporações estão lucrando com a devastação climática – gastando bilhões em lobby, enganando o público e obstruindo o progresso. Muitos líderes permanecem reféns desses interesses arraigados.”

Ele foi taxativo ao se referir aos compromissos assumidos anteriormente: “Chega de maquiagem verde. Sem brechas. Precisamos transformar esse compromisso em ação”.

Para “acender uma década de aceleração”, o discurso delineou três pilares de ação imediata para os negociadores em Belém:

Os países devem apresentar contribuições (NDCs) mais ambiciosas, com cronogramas para eliminação do carvão, fim da expansão de combustíveis fósseis e redução de metano.

É crucial demonstrar um caminho claro para alcançar a meta de US$ 1,3 trilhão por ano em financiamento climático para países em desenvolvimento até 2035, com os países desenvolvidos liderando a mobilização de US$ 300 bilhões anuais. “Não é mais tempo de negociações. É tempo de implementação, implementação e implementação”, exigiu.

Isso inclui fechar a lacuna de financiamento para adaptação, com os países ricos cumprindo a promessa de US$ 40 bilhões até o fim de 2025, e operacionalizar o Fundo de Perdas e Danos. Ele também destacou o papel vital dos Povos Indígenas, afirmando que seu conhecimento “ilumina o caminho para um planeta habitável”.

Encerrando seu discurso com um tom de ultimato, o Secretário-Geral colocou a responsabilidade diretamente sobre os líderes presentes.

“Ninguém pode negociar com a física. Mas podemos escolher liderar – ou ser levados à ruína”, advertiu. “Escolham fazer de Belém o ponto de virada. Defendam a ciência. Defendam a justiça. Defendam as futuras gerações.”

A fala, proferida no coração da Amazônia, é considerada o marco zero para as tensas negociações que definirão o sucesso ou fracasso desta Cúpula do Clima.

Confira a íntegra:

“Excelências, agradeço ao Presidente Lula, ao Presidente da COP e ao Governo e ao povo do Brasil pela calorosa hospitalidade em Belém.

Muito obrigado pela liderança e firme compromisso com o multilateralismo – num momento em que o nosso mundo está em jogo.

Presidente Lula, o senhor chamou esta COP de a “COP da verdade”.

Concordo plenamente.

A dura verdade é que falhamos em garantir que permaneceríamos abaixo de 1,5°C.

A ciência agora nos diz que um excedente temporário acima do limite de 1,5°C – começando, no máximo, no início da década de 2030 – é inevitável.

Precisamos de uma mudança de paradigma para limitar a magnitude e a duração desse excedente e reduzi-lo rapidamente.

Mesmo um excedente temporário terá consequências dramáticas.

Pode empurrar ecossistemas para pontos de não retorno, expor bilhões de pessoas a condições inabitáveis e amplificar ameaças à paz e à segurança.

Cada fração de grau significa mais fome, deslocamento e perdas – especialmente para os menos responsáveis.

Isso é uma falha moral – e uma negligência mortal.

Sim, as Contribuições Nacionalmente Determinadas recentemente submetidas representam progresso – mas ainda estão aquém do necessário.

Mesmo se totalmente implementadas, nos colocariam em um caminho bem acima de 2°C de aquecimento global.

Enquanto isso, a crise climática está se acelerando.

Incêndios florestais recordes, enchentes mortais, supertempestades… destruindo vidas, economias e décadas de progresso.

No ano passado, as emissões atingiram um novo recorde.

E hoje, como vimos, a Organização Meteorológica Mundial confirmou que as emissões continuaram a subir este ano.

Sejamos claros: o limite de 1,5°C é uma linha vermelha para a humanidade.

Ele precisa permanecer ao nosso alcance.

E os cientistas também nos dizem que isso ainda é possível.

Se agirmos agora, com velocidade e escala, podemos tornar o excedente o menor, mais curto e mais seguro possível – e trazer as temperaturas de volta abaixo de 1,5°C antes do fim do século.

Menor – atingindo o pico das emissões globais imediatamente; cortando-as profundamente nesta década, acelerando a eliminação dos combustíveis fósseis, reduzindo o metano e protegendo florestas e oceanos – os sumidouros de carbono da natureza.

Mais curto – alcançando emissões líquidas zero até 2050 e avançando rapidamente para emissões líquidas negativas sustentadas depois disso.

Mais seguro – aumentando drasticamente os investimentos em adaptação e resiliência, e entregando Alertas Precoces para Todos até 2027.

Excelências, as Nações Unidas não desistirão da meta de 1,5°C.

Porque outra verdade é evidente:

Nunca estivemos tão bem equipados para reagir.

Uma revolução de energia limpa está em curso.

Solar e eólica são agora as fontes de energia mais baratas – e as que mais crescem na história da eletricidade.

No ano passado, quase toda nova capacidade de geração veio de fontes renováveis.

A economia de energia limpa está criando empregos e impulsionando o desenvolvimento.

Está remodelando a geopolítica – oferecendo segurança energética e estabilidade de preços.

E está conectando milhões de pessoas à energia limpa e acessível pela primeira vez.

A economia mudou.

Em 2024, investidores destinaram 2 trilhões de dólares à energia limpa – 800 bilhões a mais do que aos combustíveis fósseis.

A energia limpa está vencendo em preço, desempenho e potencial – oferecendo soluções para transformar nossas economias e proteger nossas populações.

O que ainda falta é coragem política.

Os combustíveis fósseis ainda recebem subsídios enormes – dinheiro dos contribuintes.

Muitas corporações estão lucrando com a devastação climática – gastando bilhões em lobby, enganando o público e obstruindo o progresso.

Muitos líderes permanecem reféns desses interesses arraigados.

Muitos países estão privados de recursos para se adaptar – e excluídos da transição para energia limpa.

E muitas pessoas estão perdendo a esperança de que seus líderes agirão.

Precisamos avançar mais rápido – e juntos.

Esta COP deve acender uma década de aceleração e entrega.

Primeiro – os países devem concordar com um plano de resposta ousado e credível para fechar a lacuna de ambição das NDCs rumo aos 1,5°C.

Responsabilidades Comuns Mas Diferenciadas devem ser aplicadas, mas isso não pode ser desculpa para nenhum país deixar de assumir sua parte justa.

Isso significa impulsionar as renováveis, a eletrificação e a eficiência energética;

Construir redes modernas e armazenamento em larga escala;

Parar e reverter o desmatamento até 2030;

Reduzir as emissões de metano;

E estabelecer cronogramas de eliminação do carvão alinhados com 1,5°C no curto prazo.

Tenho defendido consistentemente contra novas usinas a carvão ou exploração e expansão de combustíveis fósseis.

Na COP 28 em Dubai, os países se comprometeram a fazer a transição dos combustíveis fósseis.

Chega de maquiagem verde.

Sem brechas.

Precisamos transformar esse compromisso em ação – apoiando os países em desenvolvimento de baixa e média renda altamente dependentes de combustíveis fósseis.

Também devemos desmontar barreiras estruturais e criar condições para que os países em desenvolvimento cumpram e superem seus compromissos das NDCs.

Políticas comerciais e de investimento devem apoiar a ambição climática, não miná-la.

Segundo – devemos demonstrar um caminho claro e credível para alcançar 1,3 trilhão de dólares por ano em financiamento climático para países em desenvolvimento até 2035, conforme acordado na COP 29 em Baku.

Os países desenvolvidos devem liderar mobilizando 300 bilhões de dólares anualmente – oferecendo financiamento acessível e previsível na escala acordada.

Todos os provedores devem mostrar que contribuirão para atingir os marcos de 300 bilhões e 1,3 trilhão.

Não é mais tempo de negociações.

É tempo de implementação, implementação e implementação.

Com rastreamento independente, desembolso mais rápido e termos que reflitam a vulnerabilidade climática – incluindo alívio da dívida.

Terceiro – os países em desenvolvimento devem sair de Belém equipados com um pacote de justiça climática que entregue equidade, dignidade e oportunidade.

Isso significa um plano concreto para fechar a lacuna de financiamento para adaptação:

Garantir que os países desenvolvidos cumpram sua promessa de fornecer 40 bilhões de dólares em financiamento para adaptação até o fim deste ano;

E dar confiança de que esse financiamento acessível será ampliado após 2025 – e entregue rapidamente às comunidades na linha de frente.

Também significa colocar a justiça no centro da transição.

Com medidas concretas para apoiar os países em desenvolvimento nessa jornada – protegendo trabalhadores, empoderando comunidades e criando novas oportunidades;

E contribuições significativas e acesso simplificado ao Fundo de Perdas e Danos.

Uma transição justa também significa os Povos Indígenas liderando o caminho.

Seu conhecimento e participação plena iluminam o caminho para um planeta habitável.

Excelências, podem contar com as Nações Unidas.

Por meio da nossa iniciativa Climate Promise, mais de cem países em desenvolvimento receberam apoio na elaboração de suas novas contribuições nacionalmente determinadas.

Orientei o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento a ampliar essa estrutura e trabalhar em todo o sistema para apoiar os países em desenvolvimento durante a fase de implementação.

O desafio é imenso.

Mas as escolhas são claras.

Ninguém pode negociar com a física.

Mas podemos escolher liderar – ou ser levados à ruína.

Escolham fazer de Belém o ponto de virada.

Defendam a ciência.

Defendam a justiça.

Defendam as futuras gerações.

Obrigado.”

António Guterres, Secretário-Geral da ONU

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