O desenvolvimento de um novo antibiótico para a gonorreia “não é tão atrativo para a indústria farmacêutica”
Mais de 78 milhões de pessoas são infectadas todo ano pela gonorreia, doença que está ficando cada vez mais difícil de tratar. Isso porque, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ela tem se tornado mais resistente a antibióticos, o que leva à necessidade de melhores formas prevenção e tratamento.
“A bactéria que causa a gonorreia é particularmente inteligente. Toda vez que usamos uma nova classe de antibióticos para tratar uma infecção, a bactéria evolui para resistir a eles”, disse Teodora Wi, médica assessora da área de Reprodução Humana da OMS.
Dados de 77 países mostraram que “a resistência a antibióticos está tornando a gonorreia – uma infecção sexualmente transmissível comum – muito mais difícil e algumas vezes impossível de tratar”, afirmou a agência da ONU.
A OMS observou que o último recurso de tratamento, a cefalosporina de amplo espectro, apresentou resistência em mais de 50 países. Como resultado, a agência emitiu recomendações atualizadas sobre o tratamento global em 2016, recomendando que os médicos receitem dois antibióticos: ceftriaxona e azitromicina.
O desenvolvimento de um novo antibiótico para a gonorreia “não é tão atrativo para a indústria farmacêutica”, afirmou a OMS, notando que apenas três drogas candidatas estão atualmente em fase de pesquisa e desenvolvimento.
A medicação é feita apenas por curtos períodos de tempo, diferentemente de outros remédios para doenças crônicas, e eles se tornam menos efetivos à medida que a doença desenvolve resistência. Segundo a agência, isso significa a que a oferta de novas drogas precisa sempre ser renovada.
A OMS ressaltou que a gonorreia pode ser prevenida com a prática de sexo seguro. Tem se apontado a diminuição do uso de preservativos, junto com o aumento de urbanização e das viagens, bem como a baixa taxa de detecção das infecções e tratamentos inadequados para estimados 78 milhões de indivíduos infectados a cada ano.
“Esses casos podem ser apenas a ponta do iceberg, uma vez que os sistemas para diagnosticar e relatar infecções intratáveis estão em falta nos países de baixa renda, onde a gonorreia é ainda mais comum”, disse Wi.
A agência alertou também que as mulheres estão em maior risco, já que a doença pode levar à inflamação pélvica, gravidez ectópica e infertilidade, além de aumentar a chance de contrair HIV.
No início do ano, a OMS anunciou uma classificação de antibióticos em três grupos – crítica, alta e média – a fim de preservar a eficácia daqueles utilizados “em último recurso”.