Legislação europeia e avanços científicos pressionam por métodos sustentáveis de reaproveitamento de fibras
Com a entrada em vigor da legislação europeia que obriga a coleta separada de têxteis, centros de reciclagem enfrentam sobrecarga. Enquanto isso, pesquisas revelam caminhos para aprimorar métodos de reaproveitamento mecânico, alternativa que consome menos água e químicos em comparação a processos térmicos ou químicos.
O impacto da nova legislação e o problema dos resíduos
A exigência de separação de têxteis na União Europeia expôs a fragilidade dos sistemas de reciclagem. Muitos municípios já lidam com estoques excedentes, enquanto parte das roupas descartadas segue para países em desenvolvimento, agravando problemas ambientais. Diante desse cenário, a engenheira têxtil Katarina Lindström, da Universidade de Borås, na Suécia, dedicou sua tese de doutorado a investigar como otimizar a reciclagem mecânica, método que evita o desgaste excessivo de recursos naturais.
Como funcionam os processos mecânicos
Na reciclagem mecânica, tecidos são fragmentados em pedaços menores, com ou sem adição de água e lubrificantes. A técnica enfrenta um desafio: fibras muito curtas ou danificadas perdem a capacidade de serem transformadas em novos fios, sendo relegadas a produtos de menor valor, como enchimentos. Lindström demonstrou que ajustes na torção dos fios, na densidade dos tecidos e na direção de alimentação das máquinas podem preservar o comprimento das fibras, viabilizando sua reinserção na produção têxtil.
Experimentos e descobertas práticas
Em testes de laboratório, a pesquisadora comparou máquinas de reciclagem e analisou diferentes construções de tecidos. Tecidos com tramas mais soltas e fios menos torcidos resultaram em fibras mais longas após o processo. O uso de lubrificantes, principalmente em poliéster, reduziu a necessidade de calor, minimizando riscos de derretimento. Outro avanço foi a identificação de que pré-tratamentos específicos, em parceria com a Saxion University (Holanda), aumentam a eficiência na separação das fibras.
Materiais mistos: um obstáculo superável
Apesar da complexidade, a reciclagem de tecidos com composições híbridas — como algodão e poliéster — é possível. Lindström defende que a indústria adote projetos de produtos pensando no fim de seu ciclo de vida, facilitando a desmontagem e o reaproveitamento. Seus resultados oferecem diretrizes para escalonar processos, essenciais diante da previsão de aumento no volume de resíduos têxteis.
Além da reciclagem: a necessidade de reduzir o consumo
A pesquisadora ressalta que, mesmo com avanços técnicos, a reciclagem não é solução única. Estender a vida útil das roupas, priorizar consertos e redesenhar peças fora de moda são ações que demandam menos energia e recursos. “A sustentabilidade exige mudanças no comportamento do consumidor e na forma como a indústria produz”, conclui Lindström.
Futuro do setor depende de transparência
A tese, disponível publicamente, desafia a cultura de segredos industriais. Divulgar conhecimentos sobre processos mecânicos, antes restritos a empresas, pode acelerar a transição para uma economia circular. O estudo reforça que inovações técnicas, somadas a políticas públicas e conscientização, são pilares para reduzir o impacto ambiental do setor têxtil.