O chumbo contido na gasolina de aviação afeta principalmente a saúde de crianças
Os aspectos relacionados a aeroportos vão muito além do perturbador ruído gerado pelos aviões, que é considerado um tipo de poluição sonora. O combustível utilizado na maior parte das aeronaves contém substâncias que se dispersam no ar, formando nuvens de contaminação que podem alcançar quilômetros de distância.
A gasolina de aviação (que é utilizada em aviões de pequeno porte) contém chumbo tetraetila em sua composição. De acordo com estudo realizado por Marie Lynn Miranda, da Duke University (EUA), verificou-se que os níveis de chumbo no sangue de crianças que viviam em um raio de até 500 m de aeroportos cujos aviões usavam gasolina de aviação era maior do que o observado em outras crianças que viviam na mesma região, porém mais distantes desses aeroportos. Outros estudos apontam que quanto maiores os níveis de chumbo no sangue de crianças entre um a cinco anos, maiores serão os transtornos comportamentais e de aprendizado. Com relação ao quociente de inteligência (QI), um estudo publicado no The New England Journal of Medicine aponta que, a cada acréscimo de dez microgramas por decilitro de chumbo no sangue de crianças, os níveis de QI decrescem 4,6 pontos.
De um modo geral, de acordo com a Ficha de Emergência da Petrobras S.A, os riscos a saúde associados ao chumbo presente na gasolina de aviação envolvem irritação de pele, olhos e vias respiratórias, existindo a possibilidade de causar edema pulmonar, hipotireoidismo, acúmulo no leite materno e aborto espontâneo. Em caso de inalação dos vapores da gasolina, é possível que cause dor de cabeça, náusea, perda de consciência e tontura. As vias de exposição, ou seja, os meios pelos quais o chumbo pode entrar em contato com o corpo humano, de acordo com a CETESB, são: respiratória (mais comum), dérmica e digestiva.
Com relação à interação do chumbo com a atmosfera, considera-se que esse metal pesado pode produzir efeitos sinérgicos, ou seja, o chumbo pode se agregar a partículas em suspensão (em um primeiro momento, consideradas não nocivas) e produzir efeitos nocivos, exatamente ao se juntar com tais partículas. Quando presente na atmosfera, o chumbo é encontrado na forma particulada, sendo que as partículas de menor tamanho são capazes de serem transportadas a longas distâncias pelas correntes de vento.
Alternativas
No Brasil, já existem alternativas de combustível aeronáutico que diminua a quantidade de gasolina de aviação utilizada atualmente ou até mesmo a substitua totalmente. A utilização do etanol hidratado é uma destas alternativas. O sistema flex-fuel, que utiliza gasolina de aviação e etanol (ou uma mistura dos dois) foi desenvolvido pela Embraer para utilização em aviões agrícolas com motores a pistão. No caso dos aviões movidos por turbina, que utilizam querosene como combustível, também já existe o emprego de biocombustíveis feitos a partir de óleos vegetais para substituir a matéria-prima. Óleos vegetais feitos com pinhão manso, babaçu, falso linho e algas também podem ser alternativas.
Além de tudo, falta de sossego
Além dos aspectos e impactos no ambiente e na saúde relacionados ao chumbo presente na gasolina de aviação, morar perto de aeroporto pode significar não ter sossego. Pesquisas, como uma da Universidade de Brasília em parceria com a Universidade Católica de Brasília, apontam que, quanto maior o nível de ruído ou chamado de pressão sonora (NPS), maior é a pressão sanguínea da pessoa, independente de estar dormindo ou acordada. Outro fato que indica os efeitos da poluição sonora provinda de aeroportos é a chamada perturbação do sono, que faz com que o tempo em que a pessoa encontra-se em sono profundo seja reduzido, afetando também fases iniciais do sono.