Um marco turístico do Irã, a lagoa de Anzali, está sofrendo com as consequências das mudanças climáticas
A lagoa de Anzali é uma lagoa costeira, próxima ao Mar Cáspio, perto de Bandar-e Anzali, na província iraniana de Gilan. Considerada uma das maiores lagoas de água doce do mundo, ela é localizada no norte do Irã, onde nove rios principais deságuam no Mar Cáspio.
Ela é um marco turístico do Irã e foi registrada internacionalmente como uma zona úmida em 1971, na lista de lagoas internacionais da Convenção de Ramsar.
Devido ao seu tamanho, ela possui quatro zonas diferentes: leste, oeste (Abkenar), centro (Selkeh) e Siah Keshim. Sendo uma zona húmida natural com água doce, a lagoa de Anzali é irrigada por onze rios e trinta afluentes.
E, embora a importância do pantanal para a biodiversidade e para o turismo local, atraindo mais de 180 mil visitantes por ano, as mudanças climáticas posam uma grande ameaça ao corpo d’água.
Biodiversidade
O pantanal abriga pelo menos 150 espécies de aves residentes e migratórias, que buscam refúgio e alimentos nas águas calmas do local. Além disso, a lagoa de Anzali também mantém 49 espécies de peixes; e uma infinidade de mamíferos, anfíbios e répteis.
Isso se dá, em parte, pela posição geográfica única, alta umidade e fonte de água doce do local.
Porém, não é só a fauna que representa a biodiversidade do corpo d’água. De fato, ela é o lar de uma espécie de planta aquática conhecida mundialmente. A Nelumbo nucifera, também conhecida como lótus indiano, lótus sagrado, ou simplesmente flor-de-lótus, é a planta mais famosa da Lagoa Anzali.
A flor-de-lótus é uma planta aquática que floresce em meio a lama a partir de seu rizoma. O lótus tem o título de flor nacional da Índia que significa pureza nas tradições budistas e hindus.
A flor representa a pureza espiritual e beleza nas religiões budista e hinduísta. Já para os antigos egípcios, seu significado fazia referência ao Sol. Isso porque a planta fecha suas flores e afunda na água durante a noite. E, depois de três dias, floresce lentamente pela manhã até o meio da tarde.
Importância da lagoa de Anzali
A lagoa de Anzali é de extrema importância devido às suas características únicas em comparação com outras zonas úmidas do mundo. Quase metade do área é constituída por pântanos permanentes de água doce. Enquanto o resto são constituídos por pântanos sazonais (do outono à primavera) de água doce, cobertos principalmente por canaviais.
Apenas a água da lagoa possui papéis importantes para o equilíbrio ecossistêmico e social. Os seus principais serviços hidrológicos são a purificação da água, o apoio à biodiversidade, o armazenamento de água, o controle de inundações e a prevenção da intrusão de água salgada. Além disso, ela também influencia o microclima durante a estação seca.
No âmbito social, a lagoa de Anzali é uma área de desova e berçário muito importante para espécies economicamente importantes e pescarias associadas no Mar Cáspio. Semelhantemente, ela impulsiona a economia local através do turismo.
Porém, não é só isso! Outros fatores que contribuem para a relevância desse pântano são:
- Presença de espécies ameaçadas de extinção;
- Abrigo de flora e fauna de zonas húmidas extremamente diversificadas da planície do Mar Cáspio;
- Fornece habitats de vital importância durante a migração de aves aquáticas migratórias e aves limícolas;
- Recebe, regularmente, a visita de 120 mil aves aquáticas;
- Mantém cerca de 1% da população mundial da ave Chlidonias hybrida.
- É o lar de dezenas de espécies de peixes;
Devido a esses e outros fatores, a lagoa de Anzali faz parte da Convenção de Ramsar — um tratado internacional adotado em 1971 em Ramsar, Irã, focado na conservação e uso racional de áreas úmidas.

Diminuição da lagoa de Anzali
Entretanto, embora os esforços de conservação, a lagoa de Anzali está sujeita à alterações impulsionadas pelas mudanças climáticas.
Um clima mais quente e seco, níveis de água mais baixos no Mar Cáspio, maiores cargas de sedimentos e maiores demandas de água resultaram no encolhimento da área. Entre 1930 e 1989, a lagoa encolheu de 258 quilômetros quadrados da zona para apenas 52 quilômetros quadrados, perdendo cerca de 80% de sua área de superfície de água no processo.
Desde então, a degradação continuou, o que fez com que especialistas estimassem que a lagoa pode, um dia, secar totalmente.
Essa preocupação impulsionou um estudo liderado por M. Mahdian, mestre em engenharia da Universidade de Ciência e Tecnologia do Irã. Em conjunto com seus colegas, o especialista modelou o futuro potencial das zonas úmidas com diferentes trajetórias climáticas, hidrológicas e antropogênicas para o restante do século. Durante esse período, projeta-se que o Mar Cáspio recue de 4 a 10 metros.
A modelagem constatou que, mesmo nos cenários mais conservadores, a lagoa de Anzali se tornará, pelo menos, apenas um corpo d’água sazonal até o final do século, o que afetaria negativamente a ecologia e a economia da região. Em cenários mais extremos, o pantanal poderá secar completamente por volta de 2060.
Além das mudanças climáticas — a negligência com a lagoa de Anzali
Frente à degradação da lagoa de Anzali, Hadi Haqshenas, o governador de Gilan, alertou à população dessa perturbação. Segundo o político, o ecossistema foi destruído devido a 50 anos de poluição descontrolada, acumulação de sedimentos e má gestão oficial.
“O acúmulo de resíduos industriais e esgoto deixou o Pantanal de Anzali sem fôlego”, afirmou Haqshenas.
Ele alertou ainda que o escoamento contaminado dos rios Goharrud e Zarjoub está levando as áreas úmidas ao colapso ecológico. Isso já que os moradores da região ao redor estão inalando uma mistura perigosa de bactérias, vírus e partículas de metais pesados.
Em conjunto com a ação das mudanças climáticas, esses fatores contribuem cada vez mais para a eminente secagem da lagoa de Anzali. A menos que intervenções imediatas e em larga escala sejam realizadas, o pantanal de Anzali pode, em breve, se tornar um desastre ambiental irreversível.