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Adoção do sistema home office durante a pandemia reduziu pegada ecológica das empresas, mas outros fatores devem ser considerados no cálculo climático

Não é segredo para ninguém que a pandemia do novo coronavírus nos forçou a remodelar nosso estilo de vida, adaptando as obrigações do dia a dia às medidas de segurança contra a propagação da Covid-19. Essa nova realidade, como não poderia deixar de ser, impactou também o mercado de trabalho. Muitas empresas implementaram o sistema home office, com colaboradores desempenhando suas funções de casa.

E há quem diga que esse conjunto de mudanças, caso persistam no longo prazo, podem contribuir para minimizar a pegada ecológica da humanidade. Mas a verdade é que os cálculos climáticos que analisam os impactos ambientais do trabalho remoto versus impactos ambientais do escritório são mais complexos do que parecem. Entenda por quê.

Mudanças parecem positivas, mas há controvérsias

Segundo reportagem do jornal britânico The Guardian, estima-se que 20% a 40% dos funcionários que, atualmente, estão em home office não deverão voltar ao escritório depois da pandemia – pelo menos não cinco dias por semana.

Empresas como Microsoft, Spotify, Salesforce, Google, Facebook, Nationwide Insurance, Capital One e Citigroup, entre outras, já adotaram configurações híbridas, que combinam trabalho remoto e tempo no escritório. Em breve, é possível que haja quatro vezes mais pessoas trabalhando em casa do que havia antes da pandemia.

Enquanto isso, há uma suposição intuitiva de que o trabalho remoto é melhor para o meio ambiente. No entanto, ainda não está claro se essas mudanças radicais nos ambientes corporativos poderão, de fato, alterar os impactos climáticos envolvidos no mundo dos negócios.

Stacy Kauk, CEO da empresa de software Shopify, com sede no Canadá, é responsável pelo relatório anual de sustentabilidade da companhia. Em maio do ano passado, ela declarou que o trabalho remoto se tornaria um hábito permanente da Shopify.

E havia um motivo bastante razoável para essa decisão: contabilizando o consumo de energia de seus quase 6 mil funcionários trabalhando em casa em 2020, as emissões da Shopify caíram 29%. Mas há um dilema que deve ser levado em consideração: 2020 não foi um ano de trabalho típico, já que fomos surpreendidos com um vírus que afetou o mundo inteiro. O que acontecerá quando as coisas voltarem ao normal? E como controlar a pegada de carbono das empresas com os funcionários trabalhando em casa?

Deslocamento, energia e viagens de avião

O deslocamento diário é um fator importante nesse cálculo. O transporte é o maior contribuinte para as emissões de gases de efeito estufa, e a principal fonte dessas emissões são os veículos individuais. Nos Estados Unidos, quase 90% das pessoas vão dirigindo para o trabalho – geralmente, sozinhas –, e as idas e vindas diárias representam quase 30% dos quilômetros percorridos pelos trabalhadores em um ano.

Portanto, acabar com com o deslocamento diário de milhões de trabalhadores parece uma solução fácil para reduzir os impactos da humanidade sobre o clima. As emissões de dióxido de carbono do transporte caíram 15% no ano passado, enquanto as pessoas estavam trancafiadas em casa.

Quando nossas casas se tornam nossos escritórios, o deslocamento diário pode sair da equação do carbono. No entanto, o que está acontecendo dentro dessas casas deve ser adicionado. Quanta energia está sendo usada para ligar o ar condicionado ou aquecedor? Essa energia vem de fontes limpas?

Em algumas partes dos EUA, o consumo médio de eletricidade em casa aumentou mais de 20% por semana durante a quarentena, de acordo com a International Energy Agency (IEA). A análise da IEA sugere que os trabalhadores que usam transporte público ou dirigem menos de 6,5 km em cada sentido podem, na verdade, aumentar suas emissões totais trabalhando em casa.

Olhando mais adiante, as perguntas se multiplicam. Muitos funcionários do Shopify moram perto do escritório e caminham, andam de bicicleta ou usam transporte público para chegar ao trabalho.

Com a adoção permanente do sistema home office – ou do sistema híbrido, que parece estar no topo da preferência das empresas –, é possível que muitos desses colaboradores cogitem abandonar seus apartamentos na cidade e se mudar para os subúrbios, onde a qualidade de vida é maior, mas o consumo de energia é, em média, três vezes maior do que nos grandes centros urbanos.

No Brasil, a pandemia também levou muita gente a trocar a região central por bairros mais afastados, para economizar no aluguel, ou para cidades menores próximas às capitais, uma vez que o deslocamento não precisa ser diário. O problema é que, quando precisarem ir ao escritório, esses trabalhadores provavelmente terão de trocar a bike, a caminhada e os metrôs pelos carros, elevando sua pegada de carbono.

Além disso, embora as viagens de negócios tenham sido reduzidas em cerca de 70%, a maioria dos líderes empresariais espera que elas voltem aos níveis anteriores à pandemia em breve. Isso significa que empresas com força de trabalho distribuída em diversas regiões diferentes do país poderão mais do que compensar a redução de emissões de deslocamento diário, viajando com funcionários para reuniões trimestrais.

Impactos climáticos ocultos

Permitir que os colaboradores dividam seu tempo entre a casa e o escritório está emergindo como a escolha dominante para empresas que se adaptaram aos novos modelos de trabalho.

Mas o esquema híbrido pode criar um cenário ainda pior para a crise climática, de acordo com um estudo publicado em junho pelas organizações Carbon Trust e Vodafone Institute for Society and Communications.

“Essa divisão pode resultar no consumo de mais energia e emissão de mais gases do efeito estufa, já que tanto as residências quanto os escritórios estarão em pleno funcionamento para permitir que homeworkers e trabalhadores de escritório desempenhem suas funções”, alerta o relatório.

Reduzir as pegadas de escritório pode reduzir as pegadas de carbono totais, mas nada é garantido. Para alcançar um modelo híbrido, as empresas estão fechando escritórios ou os reformulando para acomodar menos funcionários. De acordo com o The Guardian, quase três quartos dos CEOs da Fortune 500 esperam reduzir o tamanho do espaço de escritórios após a pandemia. Mas muitos executivos podem deixar de considerar o custo climático desse processo, segundo Trevor Langdon, presidente da empresa ambiental Green Standards.

Landon explica que resíduos de móveis são frequentemente esquecidos nos escritórios abandonados, até mesmo por empresas que monitoram os esforços de sustentabilidade. “As empresas relatam benefícios como redução do consumo de energia e do desperdício de papel”, mas, quando fecham ou reformam seus escritórios, “uma dúzia de pisos de móveis vão parar em aterros sanitários, e ninguém está registrando esse impacto ambiental”.

Gerenciar a forma como os funcionários trabalham é, em última análise, uma pequena parte da equação quando se trata de reduzir as emissões corporativas e atingir metas de neutralização de carbono, explica María Mendiluce, CEO da organização We Mean Business Coalition.

Mas ela vê aspectos positivos na maneira como as empresas foram capazes de mudar drasticamente de mentalidade durante a pandemia e reinventar suas operações em apenas alguns meses. Isso mostra que o mundo corporativo tem potencial para reduzir suas pegadas de carbono, com medidas que sejam eficazes no longo prazo.

Em 2020, pandemia atrasou Dia da Sobrecarga da Terra

Earth Overshoot Day, traduzido para o português como “Dia da Sobrecarga da Terra”, é calculado anualmente pelo grupo de pesquisa internacional Global Footprint Network. Ele marca a data em que a humanidade entra em dívida com o planeta, esgotando seus recursos a uma taxa superior à de sua capacidade de regeneração.

No ano passado, as medidas de segurança para conter a propagação da Covid-19 restringiram as atividades humanas e, consequentemente, atrasaram o Dia de Sobrecarga da Terra em três semanas, em comparação com o ano anterior.

Segundo pesquisadores, isso aconteceu porque a taxa em que a humanidade consome os recursos naturais diminuiu drasticamente como resultado da Covid-19, causando uma queda acentuada das emissões de CO2.

No entanto, conforme a economia volta a dar sinais de recuperação, nosso orçamento ecológico anual parece se mover na direção errada novamente. Este ano, o Dia da Sobrecarga da Terra chegou em 29 de julho, quando esgotamos nosso orçamento ecológico para 2021.

Embora essas reduções não tenham durado, a pandemia provou, pelo exemplo, que somos capazes de nos mover em uma direção positiva. Agora, a Global Footprint Network está compartilhando maneiras de fazer isso de forma sustentável, sem as dores de uma pandemia, por meio de uma plataforma chamada 100 Days of Possibility (ou “100 Dias de Possibilidades”).

A plataforma dos 100 dias fará uma contagem regressiva para a conferência climática Cop26 da ONU, que será realizada em Glasgow em novembro deste ano. Todos os dias, o site compartilhará ações que podemos realizar e o impacto que causariam. Reduzir o desperdício de alimentos em 75%, por exemplo, poderia atrasar a data da sobrecarga em oito dias.

Essas etapas não são apenas coisas boas que precisamos fazer por nosso planeta; são coisas que devemos fazer para sobreviver à realidade das mudanças climáticas. Se ainda dependermos de recursos que o planeta não pode continuar fornecendo, não estaremos prontos para um futuro em que esses recursos não existam.


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