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Por Caio Albuquerque e Gabriel Perin em ESALQ USP A procura por uma alimentação saudável ainda não configura-se como um movimento capaz de frear o consumo de alimentos ultraprocessados e a subsequente ingestão de corantes e conservadores com potencial nocivo à saúde humana.

Na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), duas recentes pesquisas estimaram a ingestão dessas substâncias pela população brasileira. Os dois estudos foram orientados pela professora Marina Vieira da Silva, do departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição e utilizaram como base dados das Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF) de 2008-2009 e de 2017-2018, implementadas pelo IBGE.

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Alimentos afrodisíacos: mito ou verdade?

Uma das pesquisas foi desenvolvida pela engenheira de alimentos Sílvia Panetta Nascimento. Entre os principais resultados, o estudo aponta que, entre as substâncias observadas neste estudo, os aditivos identificados com maior frequência nos alimentos ultraprocessados, consumidos no Brasil, foram, em ordem decrescente, os conservadores Sorbato de Potássio e Benzoato de Sódio, seguidos pelos corantes Amarelo Crepúsculo, Tartrazina e Vermelho 40. Em menor número de alimentos estão presentes o conservador Metabissulfito de Sódio e os corantes Ponceau 4R e Eritrosina. “Embora o uso dos aditivos seja regulamentado pelas Organizações de Saúde, alguns estudos têm demonstrado efeitos adversos à saúde causados pelo consumo de alguns corantes artificiais e conservadores, como reações alérgicas e doenças autoimunes, além de hiperatividade”, aponta a pesquisadora. No caso do Sorbato de Potássio, Silvia lembra que, por não interferir nas características sensoriais do alimento e apresentar baixa toxicidade, o conservador é aprovado para uso em todas as categorias de alimentos. “No entanto, foram descritas alergias na forma de urticárias em indivíduos predispostos”.

Sobre o Benzoato de Sódio, a autora do estudo reforça que, apesar de apresentar baixa toxicidade, há relatos da implicação do conservador em quadros de alergia e hiperatividade em pessoas susceptíveis. “Além disso, por sua menor ação em pH pouco ácido, o Benzoato de sódio é usado principalmente em alimentos ácidos, como refrigerantes e sucos, o que pode ser um problema, já que, quando associado ao ácido ascórbico, presente em muitos desses produtos (refrigerantes e sucos), ocorre formação de benzeno, um composto evidenciado como cancerígeno”.

Silvia Nascimento aponta outros índices preocupantes detectados pela pesquisa. “O consumo acima do limite máximo para alguns aditivos como os corantes Eritrosina e Vermelho 40 e os conservadores Benzoato e Metabissulfito de Sódio, e a maior frequência de consumo de corantes entre os adolescentes são pontos importantes a serem destacados”. A título de ilustração, embora o Comitê de Especialistas em Aditivos Alimentares da FAO/ OMS tenha concluído, em sua última avaliação, que a exposição ao corante Vermelho 40 não representa risco à saúde, alguns estudos sugerem o contrário, demonstrando sua associação com casos de hiperatividade em crianças.

No caso do Metabissulfito de Sódio, o produto é muito utilizado em produtos de panificação e biscoitos por ser classificado também como melhorador de farinha. “O uso dos sulfitos é amplamente questionado por haver relatos desta classe de substâncias provocar efeitos adversos em indivíduos alérgicos e asmáticos, somado ao fato de seu uso levar a perdas da vitamina B1”, explica Silvia Nascimento.

Corante caramelo IV e nitrito – De acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o corante caramelo IV está presente em boa parte dos alimentos ultraprocessados. Seu uso pela indústria atribui coloração principalmente aos refrigerantes de cola, cervejas e outras bebidas alcoólicas, mas também aos biscoitos e similares com ou sem recheio, além de molhos, produtos de confeitaria, balas, gomas de mascar, coberturas e xaropes para produtos de panificação, iogurtes aromatizados, sopas e caldos desidratados, suplementos vitamínicos, entre outros.

Segundo estudo conduzido pela nutricionista Claudia Simone Cavassani, na POF 2008-2009, a proporção de pessoas cujo consumo estimado do corante caramelo IV foi superior ao limite determinado por lei somou quase 13 milhões de pessoas. Já a ingestão de nitrito, substância empregada na produção de embutidos e enlatados, está acima do recomendado na alimentação de mais de 55 milhões de brasileiros.

“No caso da POF 2017-2018, percebemos uma redução na proporção de pessoas cuja ingestão superou a ingestão diária aceitável para caramelo IV e nitrito. Por outro lado, nota-se um aumento no caso do nitrato”. Essas substâncias, presentes respectivamente em alimentos como refrigerantes e lanches gordurosos, afetam sensivelmente crianças e adolescentes na faixa de 10 a 13 anos. “Considerando dados nacionais, de acordo com a POF 2008-2009, em média 30% das crianças brasileiras estavam acima do peso (IBGE, 2010a). Este histórico, provavelmente, teve grande contribuição no consumo de alimentos ultraprocessados, fonte das análises desta pesquisa, sobretudo estimulado pela exposição às propagandas publicitárias, já que mais de dois terços dos anúncios televisivos sobre alimentos são direcionados às crianças e adolescentes, incentivando o consumo regular e em grande quantidade de produtos de redes de fast food, salgadinhos, refrigerantes”, aponta Claudia Cavassani.

Aspartame e ciclamato – Outro ponto que chama atenção é a ingestão de aspartame e ciclamato, presentes na linha de produtos diet e light. Neste caso, a POF 2017-2018 destaca reflexo direto no grupo com rendimento familiar igual ou superior a R$ 10 mil. “As famílias com vantagem social consomem mais comumente maior quantidade de produtos considerados sofisticados e caros, como é o caso de alimentos diet e light. Ainda, é conhecido que condições financeiras favoráveis possibilitam escolhas alimentares mais variadas e ricas nutricionalmente, mas também à maior aquisição de alimentos industrializados e refeições prontas, como ocorre com produtos diet e light, potencialmente adicionados das substâncias”, complementa a pesquisadora.

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De acordo com a nutricionista, estimar a ingestão dessas substâncias potencialmente cancerígenas possibilita identificar grupos vulneráveis da população brasileira. “Além disso, estimar a prevalência de exposição ao risco para desenvolvimento de câncer e fornecer possibilidades de identificação dos estágios iniciais do problema, pode potencializar os efeitos de intervenções que visem melhorias da situação. Do mesmo modo, com a rotina cada vez mais acelerada, a sociedade precisa que a indústria alimentícia atue na fabricação de alimentos pouco processados, nutritivos e saborosos”, pondera.

Para Silvia Nascimento, os dados apresentados em ambas as pesquisas oferecem à indústria e às autoridades sanitárias de fiscalização os subsídios necessários para maior adequação e comedimento no emprego dos aditivos alimentares. “Os resultados obtidos poderão direcionar pesquisas futuras e oferecer dados para as necessárias atualizações das regulamentações referentes aos aditivos alimentares e aos alimentos ultraprocessados envolvidos, bem como para a adoção de políticas públicas voltadas à qualidade e segurança dos alimentos”, finaliza.


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