Estudo global revela que ações direcionadas salvam espécies da extinção, mas alerta para a necessidade de ampliar medidas preventivas e colaborativas
Apesar da crescente crise global de biodiversidade, esforços de conservação direcionados têm conseguido trazer diversas espécies de volta da beira da extinção. Um estudo abrangente, liderado pela Universidade de Cambridge em parceria com a IUCN, BirdLife International e universidades de Oxford e Durham, analisou mais de 67.000 espécies animais e destacou que medidas como proteção de habitats, reprodução em cativeiro e reintroduções têm sido eficazes. No entanto, o cenário ainda é preocupante: seis vezes mais espécies estão em declínio do que em recuperação.O lince ibérico, por exemplo, que já foi considerado o felino mais ameaçado do mundo, viu sua população saltar de algumas centenas para milhares de indivíduos. Outro caso emblemático é o do bisão europeu, que foi caçado até a extinção na natureza no início do século XX, mas hoje percorre livremente partes da Europa Oriental graças a décadas de esforços de conservação. Espécies marinhas, como as baleias jubarte e azuis, também se recuperaram após a implementação de uma moratória internacional sobre a caça comercial.
A pesquisa, publicada no periódico PLOS Biology, utilizou dados da Lista Vermelha da IUCN, o maior banco de dados sobre o status de conservação de espécies. Os resultados mostram que 28% das mais de 160.000 espécies avaliadas estão ameaçadas de extinção, com cerca de um milhão de espécies enfrentando riscos semelhantes devido às atividades humanas. Apesar disso, quase todas as espécies que melhoraram seu status de conservação foram beneficiadas por ações específicas de proteção.
Ashley Simkins, autora principal do estudo e candidata a Ph.D. no Departamento de Zoologia de Cambridge, enfatiza que a conservação funciona, mas precisa ser ampliada. “É muito difícil para uma espécie melhorar seu status de conservação, mas com o esforço certo, podemos mudar as coisas”, afirma. Ela ressalta, no entanto, que a conservação não deve se limitar a intervenções emergenciais. “Precisamos ir além do tratamento dos sintomas da perda de biodiversidade e começar a lidar com as causas raiz”, completa.
Um dos pontos destacados pelos pesquisadores é a importância de medidas preventivas e colaborativas. Em Papua Nova Guiné, por exemplo, conservacionistas trabalharam com comunidades locais para substituir a caça de cangurus-árvore por práticas sustentáveis, como a criação de galinhas e a pesca. Essa abordagem não só protegeu a vida selvagem, mas também beneficiou as populações humanas.
O estudo também chama a atenção para a necessidade de ações governamentais mais efetivas. “Os governos precisam transformar suas palavras em ações e aumentar rapidamente os esforços para salvar espécies da extinção”, afirma o Dr. Stuart Butchart, Cientista Chefe da BirdLife International. A colaboração entre cientistas, comunidades locais e autoridades é vista como essencial para garantir que histórias de sucesso, como a recuperação do kākāpō na Nova Zelândia, se tornem a norma e não a exceção.
Enquanto a humanidade enfrenta desafios sem precedentes na proteção da biodiversidade, os resultados do estudo oferecem um vislumbre de esperança. “A conservação funciona se tivermos a chance”, conclui o Dr. Silviu Petrovan, coautor sênior da pesquisa. A mensagem é clara: é possível reverter o declínio da vida selvagem, mas isso exigirá compromisso, recursos e uma abordagem integrada que beneficie tanto a natureza quanto as sociedades humanas.