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O rumo atual da evolução guiada pela humanidade está levando à extinção do homem?

Primeiramente, vamos esclarecer o termo “antropocentrismo” (do grego anthropos, “humano”, e kentron, “centro”). Trata-se de uma visão defensora de que o homem deve estar no centro das ações, da cultura, da história e da filosofia – ou seja, o homem como o centro do universo.

Nos últimos tempos, principalmente até meados do século XX, o termo ganhou força e espaço nos mundos científico e acadêmico e, vinculado a ele, uma triste constatação se firmou: a de que nossas próprias ações estão nos levando a uma enorme extinção da raça humana em massa, a sexta da história – de acordo com um artigo chamado The Anthropocene Biosphere, ela é distinta de todas as outras.

A principal diferença diz respeito à causa. Todas as cinco extinções descritas na história da Terra, nesses 4,5 bilhões de anos, foram ocasionadas por catástrofes naturais, como o impacto de um meteorito na extinção mais conhecida (o desaparecimento dos dinossauros). Dessa vez, estudos e pesquisas na área apontam que as causas de uma possível sexta extinção em massa derivam dos impactos de uma única espécie: o ser humano.

E como dito por um dos pesquisadores e autores de tal artigo, “episódios de aquecimento global, acidificação dos oceanos e extinções em massa já aconteceram no passado, bem antes da chegada dos humanos no planeta. Nós queríamos descobrir se havia algo diferente no que está acontecendo agora”. E acontece que há. Além de alertarem que os impactos de uma sexta extinção (felizmente ainda evitável) seriam catastróficos e, claro, irreversíveis, os cientistas responsáveis pelo estudo discutiram quatro motivos que tornam o contexto atual diferente dos demais.

1. “Homogeneização mundial da fauna e flora”

Também pode ser chama de disseminação de espécies não nativas ao redor do mundo. O processo se refere às espécies que mudaram suas escalas espaciais e se dispersaram para novos territórios como resultado da intervenção humana (seja proposital ou acidental). O ser humano sempre transportou diferentes espécies para as regiões onde migrava e colonizava para serem usadas na agricultura, criação de gado, silvicultura, piscicultura, controle biológico de pragas, espécies exóticas que fornecem recursos para espécies nativas, etc. Entretanto, os custos dessa introdução sem controle são grandes para a sociedade humana, pois podem causar estragos nos ecossistemas, levando a extinções.

2. O ser humano se tornando o principal predador terrestre e marinho

Ao longo dos últimos séculos, a humanidade começou a usar de 25% a 40% da produção primária líquida para seus próprios fins, além de fazer uso dos combustíveis fósseis para energia. O consumo já superou a produção em muitos ecossistemas, e cerca de 50% da superfície terrestre está sendo modificada para fins humanos, como agrícola e urbano, além da intensa pesca nos fundos dos mares. “Nunca antes uma espécie havia dominado a produção primária da maneira que nós fazemos. Nunca antes uma espécie remodelou a biosfera terrestre de forma tão dramática para servir aos seus próprios fins” disse Mark Williams, principal autor do artigo.

Imagem de no one cares no Unsplash

3. Evolução

O terceiro ponto discutido pelos autores é o fato de a humanidade ter se tornado uma intensa massa em direção à evolução, aparentemente sem se preocupar com a generalizada perda de biodiversidade que esse processo vem causando. Anualmente, cerca de 90 milhões de toneladas de peixes são retirados dos oceanos legalmente, além de 11 milhões a 26 milhões de toneladas que são retirados ilegalmente.

A domesticação dos animais (cães, porcos, ovelhas, gado) e o desenvolvimento da agricultura são alguns dos processos que contribuíram para essas mudanças na estrutura da biosfera. E com o crescente aumento da população, a estimativa é de que seja necessário um aumento de 70% na produção global de alimentos, isso equivale a um aumento anual de um bilhão de toneladas na produção de cereais e 200 milhões de toneladas na produção de carne, o que leva, consequentemente, a uma intensificação da atividade agrícola, diminuindo ainda mais o restante de habitats naturais que possuímos.

Mas os seres humanos estão direcionando a evolução em muitas outras maneiras também, como na ciência. “Estamos manipulando genomas por seleção artificial e técnicas moleculares diretamente e, indiretamente, através da gestão de ecossistemas e populações a fim de conservá-los.” disse um dos autores do artigo.

4. A tecnosfera

E por fim, o último ponto que os autores colocam como determinante nessa nossa caminhada rumo a extinção é o fato de os seres humanos e a tecnologia terem se tornado interdependentes, a ponto de se criar uma nova esfera, chamada de tecnosfera. Podemos defini-la como sendo a “camada tecnológica produzida pela intervenção humana ao longo da litosfera, atmosfera, hidrosfera e biosfera terrestre.”

Apesar dessa relação de interdependência, alguns autores já veem a tecnologia como independente do ser humano, e um deles argumenta, dizendo que chegamos a um ponto onde não é possível simplesmente “desligar” a tecnologia e que, embora tenhamos sido seu progenitor, perdemos o total controle sobre ela.

Partindo desse ponto de vista, poderíamos tratar a tecnosfera como um novo fenômeno da Terra, com suas próprias dinâmicas emergentes e acoplada, mas distinta da biosfera, em que os seres humanos, animais domesticados e plantas estariam intimamente ligados a ela, dentro da qual eles podem existir em grande número e fora da qual eles não poderiam.

Nesse ponto, os autores discordam entre si; há também os que não veem essa ascensão da tecnologia como um problema, destacando que o homem moderno foi quem se espalhou pela Terra, criou sociedades cada vez maiores e ganhou assim a capacidade de transformar o planeta inteiro. Mas, apesar das opiniões distintas, os pesquisadores concordam que esse intenso fenômeno vem causando uma grande mudança no planeta.

O futuro da biosfera antropocêntrica

Mas o que essa grande mudança pode causar? Se formos pensar na concretização da grande extinção em massa, Williams diz: “Se os seres humanos forem extintos amanhã, então o nosso impacto sobre a biosfera seria reconhecido como o limite de uma era, e após algumas dezenas a centenas de milhares de anos, a biosfera iria encontrar um novo equilíbrio sem nós, e provavelmente com sua biodiversidade em grande parte intactos.” O que restaria da tecnosfera seriam apenas evidências físicas, como registros estratigráficos preservados em rochas.

Mas e se os seres humanos não forem extintos amanhã? Alguns cientistas discutem a possibilidade então de essa grande mudança causada pelos humanos estar dando certo, argumentando ser uma mudança tão extrema que poderia representar uma mudança geológica tão grande quanto o surgimento dos micróbios no planeta ou o surgimento de organismos multicelulares. No entanto, a maioria dos pesquisadores acredita ainda que estamos caminhando para o fim e que apesar de não podermos voltar no tempo, podemos começar a tentar mudar o futuro.

E o primeiro passo é mudar a visão e a relação individual que o ser humano tem com a natureza e o meio ambiente, e passar a mensagem de que cada ação que fazemos terá um efeito sobre a biosfera em algum nível.

Outra mudança discutida no artigo é em relação com a tecnologia: há muito potencial para usá-la em nosso favor, como com inovações agroecológicas, regeneração dos ecossistemas e projetos de restauração em grande escala, reciclagem completa dos materiais, expansão de fontes de energia não baseados em carbono, etc., fazendo assim com que a tecnosfera e a biosfera se integrem, produzindo uma “tecno-biosfera”, em que as duas se beneficiem e coevoluam de maneira sustentável, em vez da situação atual em que a tecnosfera “parasita” a biosfera. Dessa maneira, a probabilidade de um colapso se vê bastante reduzida. Os pesquisadores e autores do artigo afirmam que ainda há tempo, mas não sem ação. “A responsabilidade pelo futuro do planeta é nossa agora” disse o coautor Erle Ellis.


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