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Grupo de pesquisa identifica esse tipo de ambiente pela primeira vez no interior paulista

Por Carlos Fioravanti em Pesquisa Fapesp | Embora geralmente desvalorizados, os campos de murundus, também chamados de savana de cupinzeiros, formam ilhas de áreas úmidas em meio à secura do Cerrado e exercem funções ecológicas relevantes. As conclusões são de um grupo de pesquisa do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que estudou um desses ambientes na Estação Ecológica de Santa Bárbara (EEcSB), no município paulista de Águas de Santa Bárbara.

A mancha de vegetação baixa com cupinzeiros com 3,5 hectares (ha), equivalente a 35 mil metros quadrados (m2), é o primeiro registro no estado de São Paulo e abaixo dos 21 graus de latitude sul, próximo à borda sul do Cerrado. Esse tipo de vegetação é encontrado mais facilmente em Goiás, Mato Grosso, Distrito Federal, Bahia e norte de Minas Gerais.

“Os campos de murundus funcionam como grandes esponjas, retendo a água da chuva, filtrando-a e liberando-a lentamente para abastecer os corpos d’água na estação seca”, comenta a bióloga Bruna Helena Campos, da Unicamp e primeira autora de um artigo publicado em março na revista Biota Neotropica com detalhes sobre esse trabalho. “Além disso, os solos mal drenados dos campos com murundus armazenam carbono retirado da atmosfera pelas plantas, contribuindo para a regulação do clima global.”

Nas expedições realizadas em agosto de 2020, Campos e colegas do IPA encontraram nos murundus arbustos e árvores endêmicos do Cerrado, como cajuzinho (Anacardium humile), marolo (Annona crassiflora), pequi (Caryocar brasiliense) e catuaba (Anemopaegma arvense). Nas áreas alagadiças ao redor dos montículos de terra, com altura variando de 73 centímetros (cm) a 113 cm, havia principalmente capins e outras plantas herbáceas semelhantes à grama, como o capim-mole-do-brejo (Andropogon hypogynus), o capim-estrela (Rhynchospora albiceps), o botão-de-ouro (Xyris tortula), entre outras exclusivas de campos úmidos.

As 10 amostras de murundus examinadas tinham 64 espécies de plantas, das quais 59 cresciam sobre os cupinzeiros e 22 ao redor deles. Como relatado no artigo, a mancha de murundus já havia sido vista em fotos aéreas de 1962, quando fazia parte de uma fazenda de gado, dois anos antes de ser desapropriada e se tornar uma floresta estadual, para incentivar o cultivo de pinus; a EEcSB foi criada depois, em 1984. As plantações de pinus substituíram as pastagens nativas e lentamente invadiram os campos que haviam sido preservados e só reapareceram em 2013, com o corte e o fogo controlado para erradicar as árvores invasoras.

“Uma análise acurada de imagens históricas do interior do estado de São Paulo após a descoberta desse pequeno campo com murundus mostrou que já existiram outros, que foram destruídos e o terreno drenado e nivelado com máquinas agrícolas”, comenta a engenheira florestal Giselda Durigan, do IPA, uma das autoras do estudo. “No entanto, os cupins dos campos com murundus são exclusivos desses locais alagadiços e não oferecem ameaça às plantações.”

Até agora, essas áreas são pouco preservadas. Goiás é o único estado com uma lei declarando os campos com murundus como Áreas de Preservação Permanente. “No Pantanal do rio Araguaia [corta os estados de Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará], as extensas áreas de campos com murundus são refúgios importantes para o gado e para animais silvestres como a onça”, diz a botânica do IPA Natalia Ivanauskas, que também participou da pesquisa.


Este texto foi originalmente publicado pela Pesquisa Fapesp de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.


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